Em 1998, o cantor e compositor
inglês Billy Bragg se juntava aos americanos do Wilco para lançar o álbum “Mermaid
Avenue”. O registro (excelente, diga-se de passagem) ganhou um segundo volume
em 2000 e foi elaborado em cima de letras não musicadas do cantor folk Woody
Guthrie, falecido no dia 3 de outubro de 1967. Guthrie se tornou um ícone nos
EUA e sua música e postura política influenciaram nomes do porte de Bob Dylan,
Bruce Springsteen e Joe Strummer (The Clash).
Porém, antes do projeto ser
oferecido a Billy Bragg, foi feito o mesmo convite para Jay Farrar e o seu Son
Volt. É bom lembrar que Jay Farrar e Jeff Tweedy do Wilco faziam parte da mesma
banda, a ótima Uncle Tupelo, que durou até 1994. Depois do fim é que seus
atuais grupos tiveram início. O projeto “Mermaid Avenue” foi um sucesso (e
ganha até reedição caprichada esse ano, com mais um disco), então quando Jay
Farrar teve novamente a chance de visitar o baú do ídolo, dessa vez não vacilou.
Convidado por Nora Lee Guthrie, filha
de Woody e irmã do também cantor e compositor Arlo Guthrie, Jay Farrar se pôs a
fuçar os arquivos para organizar esse projeto, com o intuito de comemorar o
centenário de nascimento do homenageado. Assim começou a nascer o álbum “New Multitudes”, lançado pela Rounder
Records no começo do ano e feito em parceira com os velhos amigos Will Johnson
(Centro-matic), Anders Parker (Varnaline e Gob Iron) e Yim Yames (My Morning
Jacket e Monsters Of Folk).
“New Multitudes” oferece 12 canções na sua versão comum (existe
também a deluxe, com outro disco), forjadas tanto individualmente quanto em
conjunto pelos envolvidos. O material utilizado para servir de inspiração foi
de cadernos até revistas, desenhos e pinturas. Com produção de John Agnello
(Sonic Youth, Dinosaur Jr.), temos um álbum que trilha estradas bem distantes do
que poderia ser oportunismo e se consolida além da homenagem como um registro
particular e independente.
Jay Farrar abre com “Hoping
Machine”, uma canção sobre ser convicto e forte nos seus desejos e que tem o
belo verso: “a música é a linguagem da
mente que viaja”. Em “My Revolutionary Mind”, Jim James evoca os protestos
de Guthrie e correlaciona isso com o desejo por uma “mulher progressista”. “No Fear” traz Will Johnson cantando sobre
medo e morte, enquanto “Angel’s Blues” vem pesada, com guitarras densas e
Anders Parker misturando saudade, orgulho e promessas.
O segundo disco que aparece na
versão deluxe mostra 11 composições, dessa vez somente de Jay Farrar e Anders
Parker, e mantém o nível elevado, se mostrando tão obrigatório quanto o
primeiro. Nele, os temas explorados vão de guerra nuclear em “Word’s On Fire”
até prostituição em “San Antone Meat House”. A sonoridade das faixas habita o
mesmo universo explorado pelos criadores, indo do folk ao alt-country, com um
pé no blues e no rock e sem medo de soar pop aqui ou acolá.
“New Multitudes” é o tipo de álbum que prende a atenção do ouvinte
por completo. Seja pelo encanto das melodias ou pelas letras bem construídas. Uma
elegante homenagem a Woody Guthrie que está no mesmo nível da já citada série “Mermaid
Avenue”, só que com lados um pouco mais escuros. Com isso, o legado fundamental
daquele que dizia que seu violão era “uma máquina de matar fascistas”, se
prolonga e também se amplia para novos públicos, novas terras prometidas, novas
multidões.
Nota: 9,5
Site oficial: http://www.newmultitudes.com
Twitter: http://twitter.com/newmultitudes
Facebook: http://www.facebook.com/newmultitudes
Assista “Careless Reckless Love”
executada ao vivo no estúdio:
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