Nascer e crescer. Ser um bom
menino, estudar para conseguir boas notas, entrar na universidade, se formar,
arrumar um emprego, casar, comprar um carro e uma casa, ter filhos, trabalhar
para sustentar a família, ver os filhos crescerem e lhe ofertarem netos, ter
uma aposentadoria tranquila e depois de tudo, morrer e tentar - depois desse
percurso exaustivo - deixar alguma marca no mundo. Com algumas variações, esse
é o roteiro básico prometido e almejado por um inúmero contingente de pessoas.
Não para Malcom Ede, o personagem
principal do livro “Cama”, a estreia
do inglês David Whitehouse. Lançado na gringa no ano passado chega ao país por
culpa da Editora Rocco, com 256 páginas e tradução de Ryta Vinagre. O autor, agora
com 31 anos, antes da estreia escreveu artigos para publicações diversas como
The Observer e Esquire, e provocou uma razoável expectativa para o primeiro
trabalho. Expectativa que se provou frustrada, embora os conceitos iniciais
apontassem para o lado oposto.
“Cama” gira em torno de uma família basicamente comum em uma
analisada breve e ligeira. Um casal com dois filhos e poucos anos de diferença
entre si. Porém, no fundo disso, está um pai que carrega uma culpa consigo e
uma mãe protetora ao extremo, que atende a todos os desejos dos filhos, pois é
a única maneira que compreende o amor. Os filhos, bem diferentes entre si,
vivem uma troca constante de amor é ódio, principalmente do mais novo em
relação ao primogênito, que é esperto, mas cheio de manias.
Durante a infância esse irmão
mais velho coloca a família em saias justas muitas vezes, mas acaba seguindo
parcialmente o roteiro descrito no primeiro parágrafo e arruma uma mulher e sai
de casa para construir um novo lar apoiado em um emprego comum qualquer. Isso
não o faz tão feliz como deveria e ele vive criticando o sentido das suas
ações, até que em um dia aparentemente normal resolve não sair mais da cama e estica
isso por 20 anos até chegar aos 600 quilos. É nesse ponto que o romance se
inicia.
O autor alterna presente e
passado, e concentra o foco nos motivos que levaram Malcom Ede a tomar sua
decisão e o efeito que isso faz com as pessoas ao redor. David Whitehouse tenta
tratar o tema na linha do fantástico e força uma carga de ironia e humor negro
que quase nunca acerta o alvo. Com uma narrativa atrapalhada por um nível
elevadíssimo de comparações e analogias para justificar as ações dos personagens,
acaba travando as boas ideias e as faz habitar imediatamente na casa da chatice
e da monotonia.
Nota: 4,5
Site do autor: http://www.bydavidwhitehouse.com
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