quinta-feira, 1 de novembro de 2012

"Cama" - David Whitehouse


Nascer e crescer. Ser um bom menino, estudar para conseguir boas notas, entrar na universidade, se formar, arrumar um emprego, casar, comprar um carro e uma casa, ter filhos, trabalhar para sustentar a família, ver os filhos crescerem e lhe ofertarem netos, ter uma aposentadoria tranquila e depois de tudo, morrer e tentar - depois desse percurso exaustivo - deixar alguma marca no mundo. Com algumas variações, esse é o roteiro básico prometido e almejado por um inúmero contingente de pessoas.

Não para Malcom Ede, o personagem principal do livro “Cama”, a estreia do inglês David Whitehouse. Lançado na gringa no ano passado chega ao país por culpa da Editora Rocco, com 256 páginas e tradução de Ryta Vinagre. O autor, agora com 31 anos, antes da estreia escreveu artigos para publicações diversas como The Observer e Esquire, e provocou uma razoável expectativa para o primeiro trabalho. Expectativa que se provou frustrada, embora os conceitos iniciais apontassem para o lado oposto.

“Cama” gira em torno de uma família basicamente comum em uma analisada breve e ligeira. Um casal com dois filhos e poucos anos de diferença entre si. Porém, no fundo disso, está um pai que carrega uma culpa consigo e uma mãe protetora ao extremo, que atende a todos os desejos dos filhos, pois é a única maneira que compreende o amor. Os filhos, bem diferentes entre si, vivem uma troca constante de amor é ódio, principalmente do mais novo em relação ao primogênito, que é esperto, mas cheio de manias.

Durante a infância esse irmão mais velho coloca a família em saias justas muitas vezes, mas acaba seguindo parcialmente o roteiro descrito no primeiro parágrafo e arruma uma mulher e sai de casa para construir um novo lar apoiado em um emprego comum qualquer. Isso não o faz tão feliz como deveria e ele vive criticando o sentido das suas ações, até que em um dia aparentemente normal resolve não sair mais da cama e estica isso por 20 anos até chegar aos 600 quilos. É nesse ponto que o romance se inicia.

O autor alterna presente e passado, e concentra o foco nos motivos que levaram Malcom Ede a tomar sua decisão e o efeito que isso faz com as pessoas ao redor. David Whitehouse tenta tratar o tema na linha do fantástico e força uma carga de ironia e humor negro que quase nunca acerta o alvo. Com uma narrativa atrapalhada por um nível elevadíssimo de comparações e analogias para justificar as ações dos personagens, acaba travando as boas ideias e as faz habitar imediatamente na casa da chatice e da monotonia.

Nota: 4,5



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