O ano era 1983 e o diretor Brian
de Palma se inspirava em um livro dos anos 20 para construir “Scarface”, aquele
que talvez seja o filme mais visceral dentro da sua carreira. Em 1932, Howard
Hawks também já havia utilizado do mesmo material para elaborar “Scarface - A Vergonha
de Uma Nação”, mas foi com o filme dos anos 80 que a obra original de Armitage
Trail (cujo nome verdadeiro era Maurice Coons) passou a fazer parte do cenário mundial
da cultura pop.
O artista francês Christian de
Metter, admirador do trabalho original, resolveu também utilizar esse produto e
transportar a história para o universo dos quadrinhos. O resultado chega ao
mercado nacional através da Globo Livros Graphics em um álbum de luxo (formato
18,5 x 26cm) com 110 páginas e tradução de José Geraldo Couto. De Metter ficou
responsável tanto pelo roteiro quanto pelos desenhos e tentou se aproximar mais
da versão do livro dos anos 20.
Com o crescimento que os
quadrinhos ganharam na última década (não somente financeiro, mas também
artístico), cada vez mais temos obras sendo adaptadas para essa esfera. De
filmes clássicos, passando por fatos históricos e biografias, os quadrinhos se
tornaram uma mídia plenamente vendável ao expandir seu leque inicial de alvos.
O próprio Christian de Metter já navegou por esse mar quando converteu o livro (e
filme) “Ilha do Medo” do escritor Dennis Lehane.
Considerando isso, cada trabalho
nesse sentido deixa um leve ar de desconfiança por ser mais uma obra de
marketing e de fácil repasse ao mercado, do que propriamente guiada por
pensamentos inversos a esse procedimento. O “Scarface” de Christian de Metter parece circular no meio disso. É
óbvio que o apelo da obra é relevante, e só o nome já a credencia para consumo,
porém o autor tenta dar um caminho diferente a trama e usa uma competente arte
noir para tanto.
No álbum, Tony Guarino é voraz e
trabalha para a máfia até que um serviço equivocado o manda para a guerra.
Quando retorna, já extremamente treinado e com uma cicatriz no rosto, retoma os
trabalhos e vai subindo passo a passo na máfia de Chicago. A estrada de Tony
Guarino não é tão violenta e carregada nas drogas e na linguagem como a que Al
Pacino consagrou nos anos 80, mas mesmo assim não deixa a desejar, apesar de
não surpreender ou causar impacto relevante.
Nota: 6,0
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