O ano é 1997. A cidade é Nova
Orleans no estado da Louisiana nos EUA. Em meio à mítica Rua Bourbon Street
está Alvin, um guitarrista de jazz já com idade avançada que teve uma vida
sossegada e caminha a passos largos para a aposentadoria. Ele é o típico do
senhor que não pode reclamar da vida boa e tranquila que teve, porém essa vida
foi aquém das expectativas da juventude e nunca lhe levou aos patamares maiores
do panteão da música.
Estiloso, com terno de blazer
riscado e ostentando um bigodinho maroto, Alvin praticamente já se conformou
com o destino que se aproxima, quando tudo muda ao ver estampado no jornal uma
matéria sobre o sucesso dos cubanos do Buena Vista Social Club, que tardiamente
chegam ao sucesso e ao reconhecimento mundial. Uma faísca que acende o fogo
adormecido da mocidade e o faz instigar os velhos comparsas a tocarem
novamente.
Para botar mais fogo ainda
nesse pensamento, encontra um antigo trompete de um velho amigo sumido há
50 anos. Cornelius era um extraordinário músico, com uma carreira brilhante pela frente,
até que desapareceu sem deixar vestígios, para tristeza e melancolia do amigo.
Com o surgimento do trompete e de novas informações, a trupe de Alvin se coloca a procura do majestoso trompetista que representará um plus para que a marcha obtenha sucesso.
Esse é o mote de “Bourbon Street – Os Fantasmas de Cornelius”,
álbum em quadrinhos que a editora 8INVERSO Graphics lançou este ano no país. A
obra tem 56 páginas, com roteiro de Philippe Charlot (o primeiro trabalho dele
na área), desenhos de Alexis Chabert e cores de Sébastien Bouet. Lançado
originalmente em 2011 na França, ganhou um tratamento majestoso por aqui com
capa dura, formato grande (28cm x 21cm) e extras de criação no final.
Com prefácio do escritor (e
amante declarado de jazz) Luís Fernando Veríssimo, o álbum é um deleite do início
ao fim. Tanto pela história da jornada musical de Alvin, quanto pela
esplendorosa arte e cores que ostenta. Quem guia e narra a trama é ninguém mais,
ninguém menos, que o “Pops”, o grande Louis Armstrong, aqui convertido em um
fantasminha camarada (mas nem tanto assim) que volta para ajudar esse bando 26 anos depois da sua morte.
“Bourbon
Street – Os Fantasmas de Cornelius” trata paralelamente de racismo, culpa, conformismo e o envelhecimento dos sonhos. Tendo o jazz como coadjuvante ativo encanta não somente aos amantes do estilo, mas estende-se aos apaixonados por música. A busca de Alvin por Cornelius e, por conseguinte, pela juventude
perdida, esbarra em uma bonita frase do compositor George Gershwin que diz: “De
certo modo, a vida é como o jazz. É melhor quando se improvisa”.
P.S: O álbum representa apenas a primeira parte. A segunda
tinha lançamento previsto na França para o segundo semestre desse ano e, se assim ocorrer,
deve desembarcar por aqui em 2013.
Nota:
9,5
Textos relacionados no blog:
- Literatura: “Pops- A Vida deLouis Armstrong” – Terry Teachout
Aqui tem um pequeno trecho que
a editora 8INVERSO disponibilizou no seu site:
http://www.8inverso.com.br/livros2/8inverso-graphics/bourbon-street-os-fantasmas-de-cornelius/
http://www.8inverso.com.br/livros2/8inverso-graphics/bourbon-street-os-fantasmas-de-cornelius/
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