Craig Thompson apareceu para o
mundo dos quadrinhos com “Retalhos” de 2003, álbum que ganhou lançamento
nacional em 2009. Com uma história biográfica em mãos, narrou os passos do
crescimento na juventude com o uso forte de imagens para validar suas
impressões. Anos se passaram, ele lançou mais um álbum (“Carnet de Voyage”, sem
lançamento por aqui) sobre a turnê de promoção de “Retalhos” e desde então se
pôs a trabalhar em “Habibi”, onde
experimentaria um universo bem diferente.
“Habibi” chegou às livrarias dos USA no ano passado e agora desembarca
em território tupiniquim novamente pelas mãos da Companhia das Letras no seu
selo “Quadrinhos na Cia.”. A obra tem 672 páginas (formato 18 x 23 cm), ótimo
acabamento editorial e conta com tradução de Érico Assis. Em entrevistas a
veículos de notícias no decorrer desse ano, o autor afirmou que esse novo livro
“era uma reação a islamofobia”, porém, mesmo apresentando uma carga nesse
nível, as premissas usadas são mais modestas.
“Habibi” encontra dois escravos que se juntam primeiramente para sobreviver
ao terror de suas vidas. De um lado a menina Dodola de 12 anos e do outro o
bebê Zam de 3 anos. Ela, uma garota branca vendida pelos pais para casar em
troca de algum dinheiro e ele, um negro filho de uma escrava acorrentada
prestes a ser vendida. Em uma cena marcante de fuga, os dois encontram um navio
entalhado no deserto que lhes servirá de abrigo nos próximos anos, assim como
de mola para impulsionar o próprio relacionamento.
Em uma nação fictícia, Craig Thompson
utiliza - assim como já havia feito em “Retalhos” - uma grande quantidade de metáforas
visuais para contar a história, no entanto, com um grau maior de detalhes. Usa
também a religião como padrão para definir atos e comparar situações da vida
real com aquelas descritas não somente no Corão, como também na Bíblia, expondo
assim aquela ideia de defesa ao islamismo, pois demonstra aos poucos que ao
sair da superfície todas as religiões são mais ou menos iguais.
É bom lembrar que o autor cresceu
em uma intensa comunidade católica e “Retalhos” era uma espécie de psicanálise
pessoal que também tratava da pressão da fé. Em “Habibi” tanto Dodola, quanto Zam (e outros nomes que assumem na
jornada) sofrem não somente esse aperto, mas também se guiam por lendas antigas
e passagens de livros sagrados. A diferença é que nesse novo trabalho, não há um
espaço mínimo para a inocência e essa se vê corrompida diariamente por sexo
como moeda de troca, fome e muita sujeira.
“Habibi” é uma obra difícil de ser definida. Pode ser algo como uma
fábula com tons de épico, mas ainda assim seria reducionista. É antes de tudo
uma história de amor. Não um amor convencional, mas uma mistura de todas as
formas e ancorada na dependência mútua dos personagens entre si. É excelente
visualmente e conduz uma história que envolve em certos momentos, mas por
atirar para muitos lados, acaba não conseguindo acertar todos os alvos e assim
exerce um fascínio menor do que se esperava.
Nota: 7,0
Site oficial do livro: http://www.habibibook.com
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