domingo, 1 de julho de 2012

"Deus da Carnificina" - 2012


Um parque é mostrado de longe, inicialmente sem muita relevância. Nele, algumas crianças andam bem próximas e uma pequena desavença tem início. Não sabemos quais são as palavras ditas na discussão e muito menos o motivo dela ocorrer, mas parecem ser suficientes para que uma dessas crianças arremesse um pedaço de pau com força na cara de outro jovem. É assim o princípio de “Deus da Carnificina”, trabalho de Roman Polanski do ano passado que estreia agora no Brasil.

A cena seguinte já leva a um quarto onde quatro adultos conversam calmamente enquanto digitam um comunicado sobre o ocorrido no parque. Na continuação do filme, percebe-se que essas pessoas são na verdade os pais dos garotos da desordem. Do lado do agredido estão os Longstreet, interpretados por Jodie Foster e John C. Reilly e da parte do agressor vemos o casal Cowan, responsabilidade de Kate Winslet e Christoph Waltz. Como pano de fundo disso temos uma conversa moderada e tranquila.

“Deus da Carnificina” é uma adaptação da laureada peça de teatro da francesa Yasmina Reza, que assina o roteiro em parceria com Roman Polanski. O ambiente teatral perdura sobre toda a duração do longa, que utiliza basicamente a sala de estar para desenvolver sua trama. Esse clima não exige tanto do diretor no que tange a malabarismos e efeitos de câmera, mas por outro lado impetra aos atores uma responsabilidade elevada, assim como um roteiro baseado em um nível elevado de exigência.

No que concerne a direção, ela surge correta e nada além disso. Em certas passagens, inclusive, parece que Polanski está se contendo o máximo que pode para que o clima seja mantido. O roteiro, por sua vez, é cirúrgico ao proporcionar que cada personagem seja o foco durante uma etapa e revele um pouco da sua personalidade e ideias. Além disso, insere de modo gradual uma tensão que cresce até o ponto de explodir totalmente, utilizando o drama da situação em uma pretensão quase cômica.

O maior destaque, no entanto, fica com os atores. Jodie Foster é uma mulher cheia de preocupação com o mundo e repleta de ideologias e cultura. John C. Reilly é o comparsa que tem uma vida digna do americano médio e aparenta bons modos. Kate Winslet é a mãe moderna que ao mesmo tempo em que se inquieta com as decisões do filho trabalha com investimentos. E Christoph Waltz de “Bastardo Inglórios” é o melhor de todos, excelente no papel de um advogado sem paciência alguma.

É apoiado nessas atuações, que “Deus Da Carnificina” oferece seus melhores resultados. Do começo suavizado e cheio de razão, a trama se direciona para uma lavagem de roupa suja entre os casais, além de uma via de escape para dar vazão a todos os problemas que estão inerentes as suas vidas. Transformando os pais em tão crianças quanto os filhos quando seus calos são pisados, Roman Polanski faz um trabalho onde a aparência é apenas uma fina casca que esconde todos os males do mundo.

Nota: 7,5

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