Um parque é mostrado de longe, inicialmente
sem muita relevância. Nele, algumas crianças andam bem próximas e uma pequena
desavença tem início. Não sabemos quais são as palavras ditas na discussão e
muito menos o motivo dela ocorrer, mas parecem ser suficientes para que uma dessas
crianças arremesse um pedaço de pau com força na cara de outro jovem. É assim o
princípio de “Deus da Carnificina”,
trabalho de Roman Polanski do ano passado que estreia agora no Brasil.
A cena seguinte já leva a um
quarto onde quatro adultos conversam calmamente enquanto digitam um comunicado
sobre o ocorrido no parque. Na continuação do filme, percebe-se que essas
pessoas são na verdade os pais dos garotos da desordem. Do lado do agredido
estão os Longstreet, interpretados por Jodie Foster e John C. Reilly e da parte
do agressor vemos o casal Cowan, responsabilidade de Kate Winslet e Christoph
Waltz. Como pano de fundo disso temos uma conversa moderada e tranquila.
“Deus da Carnificina” é uma adaptação da laureada peça de teatro da
francesa Yasmina Reza, que assina o roteiro em parceria com Roman Polanski. O
ambiente teatral perdura sobre toda a duração do longa, que utiliza basicamente
a sala de estar para desenvolver sua trama. Esse clima não exige tanto do
diretor no que tange a malabarismos e efeitos de câmera, mas por outro lado
impetra aos atores uma responsabilidade elevada, assim como um roteiro baseado
em um nível elevado de exigência.
No que concerne a direção, ela surge
correta e nada além disso. Em certas passagens, inclusive, parece que Polanski
está se contendo o máximo que pode para que o clima seja mantido. O roteiro,
por sua vez, é cirúrgico ao proporcionar que cada personagem seja o foco
durante uma etapa e revele um pouco da sua personalidade e ideias. Além disso,
insere de modo gradual uma tensão que cresce até o ponto de explodir totalmente,
utilizando o drama da situação em uma pretensão quase cômica.
O maior destaque, no entanto,
fica com os atores. Jodie Foster é uma mulher cheia de preocupação com o mundo
e repleta de ideologias e cultura. John C. Reilly é o comparsa que tem uma vida
digna do americano médio e aparenta bons modos. Kate Winslet é a mãe moderna
que ao mesmo tempo em que se inquieta com as decisões do filho trabalha com
investimentos. E Christoph Waltz de “Bastardo Inglórios” é o melhor de todos, excelente
no papel de um advogado sem paciência alguma.
É apoiado nessas atuações, que “Deus Da Carnificina” oferece seus
melhores resultados. Do começo suavizado e cheio de razão, a trama se direciona
para uma lavagem de roupa suja entre os casais, além de uma via de escape para
dar vazão a todos os problemas que estão inerentes as suas vidas. Transformando
os pais em tão crianças quanto os filhos quando seus calos são pisados, Roman
Polanski faz um trabalho onde a aparência é apenas uma fina casca que esconde
todos os males do mundo.
Nota: 7,5
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