É comum que a história de um
livro ou de um filme encontre o personagem principal em algum ponto de
deslocamento, de mudança. Nesse período, igualmente é comum esse personagem
relembrar ou ter narrada a sua vida passada, a fim de justificar os atos atuais
e assim legitimar ações e sentimentos. E é assim que se encontra Miles Heller
em “Sunset Park”, livro de Paul
Auster que a Companhia das Letras publica agora com 280 páginas e tradução de
Rubens Figueiredo.
Atualmente com 65 anos e mais de
uma dezena de livros publicados, Paul Auster escolhe nesse novo romance passear
pelo condado do Brooklyn em Nova York, um lugar que conhece tão bem. O nome vem
de um bairro da região que abriga um número acentuado de imigrantes e que
sofreu como o restante do país com a crise imobiliária e financeira de 2008,
ano onde a trama realmente se desenvolve mais. A crise, aliás, é uma coadjuvante
importante para o contexto geral.
“Num mundo que desmorona, num mundo de ruína econômica e de agruras
implacáveis”, como o próprio autor escreve logo no princípio, as pessoas
tentam se equilibrar e seguir adiante. Miles Heller entra mais de cabeça nesse
mundo quando depois de mais de sete anos sem dar notícias aos pais, acaba
retornando a Nova York fugindo de dramas vinculados a paixão que começou a dar
sentido novamente a sua amortecida vida, uma jovem garota de nome Pilar.
Essa fuga o direciona para uma
casa desbotada e estilhaçada que passa a ocupar junto com outras três pessoas.
A invasão tem como cúmplices o velho amigo Bing Nathan, a única pessoa da
antiga vida que manteve contato durante os anos, e mais Alice Bergstrom, uma idealista
em busca do doutorado, e Elle Brice, uma pintora amargurada que trabalha como
corretora de imóveis. Do outro lado estão os pais divorciados, um respeitado
proprietário de editora e uma atriz de sucesso.
Em “Sunset Park” nos deparamos com temas tão comuns a Paul Auster como
a solidão das pessoas, no entanto, de modo menos mascarado que em outras
oportunidades. Os personagens são solitários em sua maioria, embora estejam em
alguns casos envolvidos com várias pessoas. Esse sentimento de isolamento
aparece por várias vertentes, sejam elas sociais ou profissionais e se
entrelaçam com culpas e uma permanente tensão sexual se escondendo atrás das
cortinas.
Desvencilhando individualmente
cada indivíduo, o autor cria um território próprio para cada um mostrar suas
dores e complicações, sem se esquecer de contrabalançar com a trama coletiva.
Essa separação rende ocasiões sensacionais, como em um capítulo dedicado a
Alice Bergstrom onde as dúvidas do relacionamento afetivo forjam uma conexão
com o filme “Os Melhores Anos de Nossas Vidas”, um drama do pós-guerra dirigido
por William Wyler em 1946.
Mesmo sem ser brilhante, Paul
Auster assume em “Sunset Park” que o conceito conhecido como América está
esgotado e cutuca o governo com poucas, mas ótimas, frases. Além disso, analisa
uma geração que sente necessidade constante de se comunicar sem que isso necessariamente
represente acréscimo na vida de alguém. Para a maior parte dos personagens os dias
dourados ficaram para trás e os arrependimentos pelos atos praticados não são
suficientes para retomar o futuro que um dia fora sonhado.
Nota: 7,5
Facebook: http://www.facebook.com/auster.paul
A Companhia das Letras liberou um pequeno trecho do livro gratuitamente. Aqui: http://www.companhiadasletras.com.br/trechos/12941.pdf
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