Passava um pouco da meia-noite e
meia quando os norte americanos do Nada Surf subiram ao palco do Hotel Gold Mar
em Belém para começar sua apresentação. O sábado de 5 de maio se anunciava
ainda preguiçoso nas margens da Baía do Guajará enquanto o público presente
escutava os primeiros acordes de “Clear Eye Clouded Mind”, que foi seguida pela
melódica “Waiting For Something”, ambas integrantes do novo registro da banda,
intitulado “The Stars Are Indifferent to Astronomy”.
Antes de falar sobre o show em
si, é bom analisar um pouco o panorama geral do evento. Por diversos motivos,
entre os quais distância dos grandes centros e público interessado, Belém
sempre fica fora das turnês internacionais que desembarcam no país. Isso até
que sofreu algumas mudanças recentes com a passagem por aqui de nomes como Iron
Maiden e Deep Purple, além de bons nomes do mercado alternativo como Shout Out
Louds e El Cuarteto de Nós, ainda que esses últimos em festivais.
Como show individual, por assim
dizer, o Nada Surf talvez fosse a primeira grande aposta, pois apesar dos 20
anos de estrada completados em 2012, a banda sempre ficou no cenário mediano do
rock internacional. A aposta do pessoal da SeRasgum então tinha certo grau de
risco, visto que o discurso do público da cidade e a sua real participação
sempre mantiveram certa distância. Em um local bacana, mas que dificulta um
pouco para quem precisa de transporte público, isso agrava-se um pouco mais.
Dentro desse cenário foi
satisfatório – pelo menos na concepção visual – a presença do público, que
antes do Nada Surf ainda teve exibições do Turbo, Elder Effe e banda e The
Baudelaires. O respeito aos horários acabou não me deixando ver os dois
primeiros, porém se mostrou como uma das coisas positivas do evento, pois é
cultural na cidade o desrespeito quanto a isso. Fica a torcida para que no
futuro essa decisão seja mantida, o que servirá indiretamente para uma mudança
do próprio mercado.
Colocado o que dispôs-se acima, o
show do Nada Surf foi agradável e fez valer a presença. O vocalista e
guitarrista Matthew Caws esbanjava simpatia e servia as canções com o auxílio
dos velhos parceiros Daniel Lorca (baixo) e Ira Elliot (bateria), além dos
convidados Doug Gillard (ex-Guided By Voices) na outra guitarra e Martin Wenk
(Calexico) nos teclados. Suando uma barbaridade, falou sobre a felicidade de
estar na Amazônia e verteu elogios ao trabalho do Greenpeace (que tinha um
barco ancorado na cidade).
Esse envolvimento ambiental, com
direito a bandeira de “Desmatamento Zero” no palco, às vezes soou pedante, mas
não incomodou tanto quanto o estado de “travamento total” do baixista Daniel
Lorca, que foi devidamente comparado por alguns ao Wanderley Andrade, um dos ícones
do brega local. O público mais jovem se alternando entre celulares e conversas
na frente do palco, igualmente não foi o que se esperava para quem sai de casa
para assistir a um show, mas não difere em nada do resto do país. (In)felizes
tempos modernos.
Usando bem o novo
disco, com direito a boas versões de “Teenage Dreams” e “When I Was Young”,
além de sucessos da carreira como “Happy Kid”, “Always Love” e “Popular”, sem
contar com a porrada de “Blankest Year” usada para terminar tudo, o Nada Surf
fez um show pulsante e agregou um público, que de certo modo, é muito carente
por eventos do tipo. Bastou sorrisos, simplicidade e canções para serem
cantadas de pulmões abertos, para deixar a mangueirosa de bem com a vida. Não
foi espetacular ou sensacional, mas afinal de contas o que hoje em dia pode ser
classificado assim?
P.S: As fotos são do site da produtora.
Mais aqui: http://www.flickr.com/photos/serasgum
Leia uma entrevista bem bacana com
a banda falando sobre a turnê brasileira e outras coisas mais, aqui: http://screamyell.com.br/site/2012/04/27/entrevista-nada-surf
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