“Two Of Us” dos Beatles toca ao
fundo enquanto um jovem vestido de terno passa um giz branco contornando o corpo
deitado na rua. A cena exibida sem pressa e que se alonga depois para a cidade faz
o espectador se interessar logo de cara e é um bonito gol que o diretor Gus Van
Sant marca na entrada de “Inquietos”
(‘Restless’, no original). O filme do
ano passado ganhou lançamento recentemente em DVD aqui no país.
Gus Van Sant vinha de um bom
trabalho anterior (“Milk - A Voz da Igualdade” de 2008) e deixava expectativa
para o que apresentaria na sequência. Tipo de diretor que pode facilmente ser
tanto amado quanto odiado, preencheu a carreira com películas como “Drugstore
Cowboy” de 1989 e “Gênio Indomável” de 1997, porém está devendo há algum tempo
algo do mesmo nível (“Elefante” de 2003 é razoável e nada além).
E não é com “Inquietos” que ele paga essa dívida. No longa conhecemos Enoch
Brae (o estreante Henry Hopper, filho do ator Dennis Hopper), o rapaz que passa
giz em volta do corpo. Estranho e reservado possui como atividade principal
frequentar velórios como penetra. Em um desses funerais encontra por acaso
Annabel Cotton, a bela e competente Mia Wasikowska do “Alice No País das
Maravilhas” de Tim Burton.
O caminho dos dois começa a se
cruzar com frequência, seja por sorte ou por causa de uma pequena ajuda das
partes, e não demora para que um relacionamento amigável se estabeleça. Os dois
carregam dores próprias e uma relação bem particular com a morte e o convívio proporciona
uma espécie de alívio para essas dores. E a partir disso que o roteiro de Jason
Lew já escancara e anuncia a direção básica pela qual o filme será conduzido.
Nesse escancaramento é que “Inquietos” se perde e não consegue se firmar.
Nos primeiros 20, 25 minutos iniciais já dá para desenhar o futuro dos
personagens com grande exatidão. Já que a surpresa foi logo descartada do
roteiro de opções, a intensidade com que a história se desenvolve passa a ser o
principal e nesta, apesar de algumas cenas realmente interessantes, Gus Van
Sant também não consegue inserir aquilo que almejava.
“Inquietos” tem uma eficiente trilha sonora nas mãos do grande
Danny Elfman e traz nomes como o diretor Ron Howard e a atriz Bryce Dallas
Howard na produção, mas é um projeto que fracassa nos seus objetivos. Ao escolher
a juventude para tratar de temas complicados como mortalidade e medo, Gus Van
Sant não brilha e mergulha o seu mais recente trabalho no abarrotado mar de
razoabilidade que se habituou a visitar.
Nota: 5,5
Assista ao trailer:
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