Entre aquelas pessoas que produzem
algo de esplêndido na vida, algumas atingem essa façanha logo nas primeiras
investidas, outras demoram a vida toda e só conseguem obter esse resultado já nos
últimos anos de existência. Contudo existe um terceiro grupo. Esse grupo é
composto por indivíduos que gradualmente crescem a cada ano, a cada nova
empreitada, a cada novo projeto e que vez ou outra preenchem os espaços com
acessos de brilhantismo até chegar ao ápice tão desejado. Jack White faz parte
desse time.
Prestes a completar 37 anos, esse
norte-americano nascido na industrial cidade de Detroit no estado do Michigan,
apareceu verdadeiramente para o mundo da música em 1999 com o registro de
estreia do White Stripes. Uma década de discos depois alcançou o reconhecimento
dentro do mundo alternativo e fora dele ganhou respeito de nomes de peso do
rock internacional como retratado no documentário “A Todo Volume” de 2009,
estrelado por ele em conjunto com Jimmy Page (Led Zeppelin) e The Edge (U2).
Sempre inquieto, Jack White encabeçou
outros projetos (The Racounters/The Dead Weather), montou uma gravadora e
começou a produzir no atacado. Com o anunciado fim do White Stripes ano
passado, chegou então a hora de um trabalho solo. “Blunderbuss” tem lançamento pela Third Man Records e em pouco mais
de 40 minutos mostra a mesma essência anterior, porém com leves mudanças na
apresentação, como também um preenchimento mais completo, onde todos os
instrumentos (tocados por ele mesmo) aparecem.
“Blunderbuss” não evidencia o artista andando por outros caminhos.
As preferências batem ponto com frequência como o blues, country, rock
setentista, garage rock, folk e bluegrass, estes dois últimos com uma
participação maior que outrora, mas nada tão incisivo. A mudança chega por
outro viés. Como o escritor C.S. Lewis disse: “Mera mudança não é crescimento. Crescimento é a síntese de mudança e
continuidade, e onde não há continuidade não há crescimento”, o que cai
como uma luva para Jack White nesse momento.
As 13 faixas do álbum refletem claramente
a pequena mutação que Nashville exerce atualmente sobre suas composições e não
fogem, obviamente, de apresentar letras pessoais que tratam tanto do final da
ex-banda, quanto do casamento com a modelo Karen Elson que igualmente se foi em
2011. Com pianos e violões mais presentes, Jack White proporciona ao ouvinte
uma pequena jornada pelos estilos que admira, indo desde as repetições da
abertura de “Missing Pieces” até as variações finais de “Take Me with You When
You Go”.
O meio desses dois pólos é
preenchido por faixas que remetem a antiga banda como “Sixteen Saltines” e “Freedom
at 21”, essa com um riff simples e marcante. Se estende por “Love Interruption”
que remete a fase “III” do Led Zeppelin e apresenta uma das letras mais significativas,
com o amor sendo requerido de modo quase que desesperado. Os anos 70 também
estão vivos na balada da faixa-título e na absolutamente vintage “On and On and
On” que apresenta um riff notável em cima da bela melodia que lembra Paul
McCartney.
As baladas comparecem em número
relevante e vão desde o piano com ecos de Tom Waits de “Hypocritical Kiss”,
onde Jack White busca esquecer o que passou na letra, até a experimental “I
Guess I Should Go to Sleep”, com alguns interessantes toques de jazz. Para compensar
na energia surgem do outro lado coisas como “I'm Shakin'”, um rockabilly dos
anos 50 clássico, porém sujo, com direito a palmas, backing vocals e guitarras
distorcidas, além do pop grudento com raízes tradicionais de “Hip (Eponymous)
Poor Boy”.
“Blunderbuss” é um disco que mostra um artista no apogeu da sua
carreira profissional. Seguro e abarcando todas as etapas de concepção, partindo
da criação e chegando até a distribuição, mostra que é possível se adequar aos
tempos modernos usando bases mais antigas. Almeja (e consegue) revigorar o rock
atual privilegiando sonoridades passadas e corresponde as expectativas,
corroborando a assertiva de que grandes realizações sempre acontecem em uma
estrutura de grandes expectativas. Uma assertiva que Jack White tirou de letra.
Nota: 9,5
Site oficial: http://jackwhiteiii.com
Facebook: http://www.facebook.com/jackwhite
Textos relacionados:
- Cinema: “A Todo Volume” (2009)
- Música: “Horehound” – The Dead Weather (2009)
Assista “Love Interruption” ao vivo no programa Saturday
Night Live:
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