Nos
sete minutos e sete segundos da faixa que encerra o álbum “Blues Funeral”, Mark
Lanegan apresenta angústia e um leve desespero nos versos que conduz sobre uma
base quebrada e de clima carregado. Nas frases da canção rasga revistas e
livros, mantêm a mágoa por perto e tenta extrair alguma verdade dos fatos em
sua volta. É difícil para ele assumir o que quer que tenha feito, apesar de
saber que não tem mais volta. “Tiny Grain Of Truth” é a última dose servida em
uma noite repleta de incertezas.
“Blues Funeral” é o sétimo disco solo do ex-Screaming
Trees e exibe no conteúdo a mesma carga intensa que permeou não somente os
tempos com a ótima banda de Seattle, como também os projetos com o Queens Of
The Stone Age, Isobel Campbell, Soulsavers e Gutter Twins. Lançado com o nome
de Mark Lanegan Band (que não utilizava desde “Bebblegum” de 2004) é o primeiro
pelo selo 4AD, casa onde nomes como Bon Iver, Tv On The Radio, Pixies e Cocteau
Twins já passaram ou ainda habitam.
Produzido
pelo amigo Alain Johannes (Eleven, Them Crooked Vultures) e com participações
de outros como Jack Irons, Greg Dulli e Josh Homme, o músico optou em mudar a
forma com que exibia suas canções. O novo trabalho esquece os violões tão
utilizados em outrora e resume as guitarras a coadjuvantes (ainda que fundamentais),
deixando a linha de frente ocupada por sintetizadores e programações
eletrônicas, rememorando assim a música mais soturna que o pós-punk dos anos 80
(Joy Division e afins) produziu.
“The
Gravedigger's Song” usa inglês e francês para falar de um amor que serve como
alívio, enquanto “Bleeding Muddy Waters” homenageia o bluesman e faz Lanegan
sentir e sangrar. “St. Louis Elegy” emerge com morte e religião e “Riot In My
House” é um dos raros rocks do disco (o outro é “Quiver Syndrome”), com
guitarras gritando ao fundo do caos e tumulto citados na letra. Em “Ode To Sad
Disco” temos um dance que foi deposto do seu lugar e “Phantasmagoria Blues” se
assemelha mais com as coisas antigas.
Esse
novo registro mostra um artista que apesar dos anos de carreira, ainda se mostra
interessado em confrontar a si mesmo. Pode-se até dizer que os assuntos são
repetitivos, porém a vida sempre será rica em dores, sofrimentos e aflição. Da
sua geração, Mark Lanegan é aquele que mais sabe criar em cima desses temas.
Essa habilidade (boa ou má, quem saberá dizer?)
continua a gerar uma obra que foge da obviedade e serve como ferramenta para
acalmar as próprias inquietudes. “Blues
Funeral” é o mais recente exemplo disso.
Nota: 7,5
Site
oficial: http://marklanegan.com
Twitter:
http://twitter.com/marklanegan
Textos
relacionados no blog:
Música: “Saturnalia” – The Gutter Twins
Assista
a uma apresentação ao vivo com 4 músicas do álbum com outra pegada:
Nenhum comentário:
Postar um comentário