Mavis Gary (Charlize Theron de “Monster”)
conseguiu uma vida confortável aos 37 anos, bem superior a que a maioria dos
habitantes da sua cidade natal em Mercury no estado de Minnesota poderia
almejar. Tem um bom apartamento em uma metrópole, é escritora e trabalha com
uma famosa série de livros. Tudo parece mais ou menos como sucesso, que se não
pode ser considerado algo espetacular, é no mínimo uma baita realização. Porém,
a sua casa tem alicerces bem frágeis e quebradiços.
Em cima da personagem que a bela
Charlize Theron interpreta com muita habilidade é que o diretor canadense Jason
Reitman edifica o seu novo trabalho. Nele retoma a parceria com a roteirista
Diablo Cody apresentada em “Juno” de 2007 e dá mais um passo em direção a uma carreira
cinematográfica permeada com relevância e excelência. “Jovens Adultos”, que estreia agora nacionalmente é mais um ótimo exemplo
desse potencial do diretor e carrega o espectador em um interessante jogo.
A protagonista de “Jovens Adultos” não tem realmente a
vida perfeita que imagina. Enquanto o filme passa na tela, percebe-se que apesar
de ainda manter a beleza intacta (porém, ajudada por truques diversos), não tem
muito mais com o que se orgulhar essencialmente. Está divorciada, suas relações
são instantâneas e superficiais e na série de livros que escreve é como se
fosse uma ghost writer, apesar de
citada como colaboradora internamente. E até essa série já está em declínio.
Quando chega um e-mail a convidando
para ir ao batizado da filha do ex-namorado na cidade natal, aquilo acaba
mexendo muito com ela e rende uma cena memorável em uma conversa ridícula e
falsa com uma amiga. Ela se manda novamente para Mercury depois de tantos anos
em busca de reatar o namoro (com um cara casado e com uma filha) e dessa
maneira, na sua infeliz concepção, recolocar a felicidade de novo no caminho.
Mais que uma busca, esse desejo tem um esboço de afirmação.
O diretor Jason Reitman já havia explorado
a solidão disfarçada com empregos e relações ligeiras no ótimo “Amor Sem
Escalas” de 2010, como também a questão da maturidade no já citado “Juno”.
Aqui, ele retorna a esses temas mais inverte o prisma do crescimento, pois já
não é uma jovem que precisa amadurecer e lidar com um mundo de
responsabilidades e sim o contrário, uma adulta que não consegue estabelecer
relações e se mistura cada vez mais com os livros que escreve para
adolescentes.
Na procura em reatar o antigo
romance com Buddy Slade (Patrick Wilson de “Watchmen”), Mavis Gary esbarra em
Matt Freehauf (o competente Patton Oswald), um gordinho que tem problemas de
locomoção por conta de uma agressão sofrida de modo irracional ainda no colégio
e detentor de uma antiga devoção por ela. Não obstante é com esse cara que remonta
bonecos de brinquedo e faz bebida no porão, que ela consegue ter alguns
momentos de alívio na sua fantasiosa cruzada.
“Jovens Adultos” é acompanhado por uma trilha sonora para lá de
eficiente (que ostenta Lemonheads e Replacementes pelo meio) e transforma “The
Concept” do Teenage Fanclub em coadjuvante, o que rende ótimos momentos. Jason
Reitman entra de cabeça no universo da sua própria geração para questionar
ambição e crescimento, fazendo isso de maneira criativa e cômica dentro da
carga de drama que está automaticamente inerente. E assim sem contos de fadas
ou redenções, faz mais um belo filme.
Nota: 8,5
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- “Juno”
Assista ao trailer:
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