“É amor, o ho-ba-la-lá, ho-ba-la-lá
uma canção. Quem ouvir o ho-ba-la-lá, terá feliz o coração...”. Foram esses
versos simples e pueris que conquistaram o escritor alemão Marc Fischer ainda em
meados dos anos 90. A música a que estes versos pertencem, porém, é muito mais
antiga. Ela faz parte do álbum de estreia de João Gilberto em 1959 chamado
“Chega de Saudade”, um disco clássico que para muitos marca, como que por
decreto, o início da bossa nova.
Marc Fischer se apaixonou por
completo pela música de João Gilberto. Uma devoção que hoje parece até não
caber mais nos nossos conturbados e corridos dias. “Ho-ba-la-lá”, a canção que
introduziu essa espécie de culto, é um caso raro de composição própria do
músico, que mesmo transformando toda canção que tocasse em sua, compôs muito
pouco. O resultado desse imenso afeto foi um livro que a Companhia das Letras
publicou aqui no ano passado com 184 páginas.
“Ho-ba-la-lá - À procura de João Gilberto” é uma mistura de relato
pessoal com biografia e ficção. De romance com tentativas rasas de ensaios e
literatura policial. E pairando acima de tudo é uma homenagem bonita e idílica
para essa personalidade tão genial e tão estranha da música nacional, basta
lembrar todo o rebuliço provocado pelo cancelamento dos shows que iriam
celebrar os seus 80 anos no final do ano passado, entre tantas outras situações do
tipo.
Em cima dessa aura misteriosa de
João Gilberto, repleta de enigmas, fatos extraordinários e um grau de
aversão a vida inversamente proporcional ao seu talento, Marc Fischer se veste
de detetive nas ruas do Rio de Janeiro com o intuito primordial de encontrar o
coração da bossa nova. No meio dessa hercúlea tarefa bate papos e mais papos
com figuras como Roberto Menescal, Miúcha, João Donato, Marcos Valle e Miéle, a
fim de encorpar sua missão.
O tom às vezes traz o estereótipo
da visão estrangeira sobre o Brasil, assim como no meio da obsessão do autor,
transforma João Gilberto em algo quase inalcançável artisticamente. Fora isso,
é uma obra que transpõe deleite ao leitor não somente pelo assunto abordado e
as paisagens da cidade maravilhosa como cenário, mas pela forma bem humorada e
simples que Marc Fischer conduz a narrativa, tal qual uma versão bossa nova de Bill Moody nos seus
livros policiais de jazz.
Plenamente indicado.
P.S: Marc Fischer
morreu em abril de 2011 e não viu seu livro ser publicado.
Nota: 8,0
Assista um vídeo com a canção Ho-ba-la-lá”:
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