Antes
do escritor Hunter S. Thompson virar um personagem da (contra) cultura e ganhar
uma considerável horda de fãs e seguidores, assim como uma pequena legião de
detratores, existia um jovem tentando se encontrar depois de algumas escolhas
erradas e decisões pouco sábias. Esse retrato de uma espécie de busca por uma voz
própria foi cunhado ainda nos anos 60 em um pequeno e brilhante livro que só
foi chegar a ser publicado anos e anos depois.
Esse
livro intitulado “Diário de Um
Jornalista Bêbado” (“The Rum Diary”, no original), ganha uma adaptação
cinematográfica pelas mãos do diretor Bruce Robinson de “Os Desajustados”, que
não satisfeito com isso, também é responsável por elaborar o roteiro. A mini
odisséia de um jovem jornalista que se manda para Porto Rico à procura de
trabalho e novos horizontes durante os anos 50, enfim chega a grande tela
depois de um bom período de promessas.
O
livro do qual o filme se utiliza é um primor. Mostra o autor antes do “mito”,
antes que o cinismo e desesperança preenchessem boa parte de si, antes do tal
do jornalismo gonzo ser batizado (tem mais aqui) e ganhar relevância. Ao mesmo
tempo em que é cômico e aventureiro, insere transgressões, incorreções e
questionamentos que mais tarde seriam ampliadas e desenvolvidas, porém, acima
de tudo versa sobre alguém tentando achar seu lugar no mundo.
O
filme, no entanto, não demonstra intensidade em quase nenhum desses lados.
Bruce Robinson utiliza o salvo conduto que a palavra “baseado” propõe para
fazer um filme superficial e estragar o ótimo time de atores que tem nas mãos. Johnny
Deep, fã de carteirinha de Thompson, que já havia protagonizado outra adaptação
do autor anteriormente (“Medo e Delírio” em 1998), divide as cenas com bons
nomes como Aaron Eckhart e Giovanni Ribisi.
Deep
interpreta Paul Kemp, o jornalista que desembarca em um caótico e completamente
tendencioso jornal porto-riquenho. Ao lado de desajustados e com fartas doses
de álcool inseridas pelo meio, acaba se envolvendo em enrascadas enquanto tenta
ganhar algum, e mais importante, tenta sobreviver ao caos em que se meteu (e
que parece bem com isso). Nesse caminho precisa lidar com belas mulheres, o
descaso pela pobreza e inescrupulosos empresários.
E
é utilizando esses dois fatores descritos no final do parágrafo acima, que “Diário de Um Jornalista Bêbado” se
encaminha. Se veste mais como um texto de indignação e da briga entre certo e
errado, ético e antiético, do que propriamente as roupas de aprendizado que lhe
são justas. E no meio da estrada em que percorre sem muita direção aproveita
para plastificar risadas, contemporizar o que deveria ser corrosivo e aliviar
aquilo que deveria incomodar.
P.S: Das coisas boas do filme está a bonita homenagem a
Hunter S. Thompson no final, que quase faz tudo valer a pena.
Nota: 5,5
Textos relacionados:
- Literatura Básica: “Medo e Delírio em Las Vegas”.
- Cinema: Documentário “Gonzo:Um Delírio Americano".
Assista ao trailer:
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