No final do ano passado o casal Thurston
Moore e Kim Gordon anunciou o fim de um casamento de longos 27 anos, tempo em
que além de dividir a casa e a cama, dividiam ainda vocais e instrumentos
dentro do Sonic Youth, uma das bandas mais importantes do rock norte-americano
dos últimos 30 anos. A banda, em consequência disso ou não, também anunciou uma
parada, que conforme uma declaração aqui e outra acolá pode representar o
encerramento das atividades.
Pouco antes desses eventos, o
guitarrista e vocalista Thurston Moore se aventurava pelo terceiro disco individual
chamado “Demolished Thoughts” e colhia bons resultados. Com produção de Beck, o
trabalho foi predominantemente acústico e intimista e mostrou canções fortes
como “Benediction” e “Orchad Street”. Em março desse ano é a vez do outro
guitarrista da banda partir para uma empreitada solo, já anunciada há alguns
meses e que chega pelo selo Matador Records.
Lee Ranaldo sempre ficou (de modo
compreensível, até) meio que na sombra do casal Moore e Gordon, mesmo sendo
responsável por canções como “Eric’s Trip” e “Hey Joni” do “Daydream Nation” de
1987 e “Wish Fulfillment" do “Dirty” de 1992, ambos clássicos na
discografia do grupo. Devido ao momento atual, “Between The Times And The Tides” se apresenta como a chance ideal
para mostrar algumas canções próprias e brilhar um pouco mais, chance que ele
não desperdiça.
O álbum começou a ser imaginado
em 2010, quando o músico foi convidado para realizar um show acústico na
França. Depois foi lapidado devagarzinho até chegar às mãos do produtor John
Agnello (Sonic Youth, The Hold Steady e Dinosaur Jr.), que fez um excelente
trabalho com as 10 canções executadas por amigos como Nels Cline (Wilco), John Medeski
(Medeski, Martin & Wood), Alan Licht (Run On), Irwin Menken e o velho
companheiro de banda Steve Shelley.
O resultado é um trabalho que
viaja por rumos às vezes distintos, mas que mantêm a unidade e o conjunto. Ao
contrário do que Thurston Moore fez no ano passado, Lee Ranaldo opta por
explorar as guitarras e as encharca com influências que vão desde os anos 60,
passam pelo power pop e pela lisergia e desembarcam em reflexos das amadas
distorções do seu grupo. Com um vocal mais límpido e não tanto encoberto por
microfonias, satisfaz mesmo sem ser soberbo.
Faixas como “Off The Wall” e “Angles”
expõem um apelo pop, enquanto “Fire Island (Phases)”, “Lost” e “Tomorrow Never
Comes” embaralham melodia com barulho. Já “Shouts” caminha por um calmo
pós-rock, à medida que “Hammer Blows” e “Stranded” são as únicas realmente
acústicas. Falando sobre coisas básicas como a vida e o amor, Lee Ranaldo fabrica
um belo disco, que igual a um navio seguro e robusto serve para superar as
incertezas do tempo e das marés que o rodeiam.
Nota: 9,0
Assista ao clipe de “Angles”:
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