terça-feira, 3 de abril de 2012

“Between The Times And The Tides” - Lee Ranaldo - 2012


No final do ano passado o casal Thurston Moore e Kim Gordon anunciou o fim de um casamento de longos 27 anos, tempo em que além de dividir a casa e a cama, dividiam ainda vocais e instrumentos dentro do Sonic Youth, uma das bandas mais importantes do rock norte-americano dos últimos 30 anos. A banda, em consequência disso ou não, também anunciou uma parada, que conforme uma declaração aqui e outra acolá pode representar o encerramento das atividades.

Pouco antes desses eventos, o guitarrista e vocalista Thurston Moore se aventurava pelo terceiro disco individual chamado “Demolished Thoughts” e colhia bons resultados. Com produção de Beck, o trabalho foi predominantemente acústico e intimista e mostrou canções fortes como “Benediction” e “Orchad Street”. Em março desse ano é a vez do outro guitarrista da banda partir para uma empreitada solo, já anunciada há alguns meses e que chega pelo selo Matador Records.

Lee Ranaldo sempre ficou (de modo compreensível, até) meio que na sombra do casal Moore e Gordon, mesmo sendo responsável por canções como “Eric’s Trip” e “Hey Joni” do “Daydream Nation” de 1987 e “Wish Fulfillment" do “Dirty” de 1992, ambos clássicos na discografia do grupo. Devido ao momento atual, “Between The Times And The Tides” se apresenta como a chance ideal para mostrar algumas canções próprias e brilhar um pouco mais, chance que ele não desperdiça.

O álbum começou a ser imaginado em 2010, quando o músico foi convidado para realizar um show acústico na França. Depois foi lapidado devagarzinho até chegar às mãos do produtor John Agnello (Sonic Youth, The Hold Steady e Dinosaur Jr.), que fez um excelente trabalho com as 10 canções executadas por amigos como Nels Cline (Wilco), John Medeski (Medeski, Martin & Wood), Alan Licht (Run On), Irwin Menken e o velho companheiro de banda Steve Shelley.

O resultado é um trabalho que viaja por rumos às vezes distintos, mas que mantêm a unidade e o conjunto. Ao contrário do que Thurston Moore fez no ano passado, Lee Ranaldo opta por explorar as guitarras e as encharca com influências que vão desde os anos 60, passam pelo power pop e pela lisergia e desembarcam em reflexos das amadas distorções do seu grupo. Com um vocal mais límpido e não tanto encoberto por microfonias, satisfaz mesmo sem ser soberbo.

Faixas como “Off The Wall” e “Angles” expõem um apelo pop, enquanto “Fire Island (Phases)”, “Lost” e “Tomorrow Never Comes” embaralham melodia com barulho. Já “Shouts” caminha por um calmo pós-rock, à medida que “Hammer Blows” e “Stranded” são as únicas realmente acústicas. Falando sobre coisas básicas como a vida e o amor, Lee Ranaldo fabrica um belo disco, que igual a um navio seguro e robusto serve para superar as incertezas do tempo e das marés que o rodeiam.

Nota: 9,0

Assista ao clipe de “Angles”:



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