Wilson é um cara de 40 e poucos
anos, solitário, que usa praticamente o mesmo estilo de roupa todos os dias e
demonstra uma proeminente barriga e uma calvície em plena progressão. Na sua
vidinha atual em Oakland, Califórnia, USA, dispara suas raras demonstrações de
afeto apenas para a cadelinha que lhe faz companhia, enquanto tenta (sem muito sucesso)
puxar conversas com outras pessoas.
É esse personagem descrito acima
que dá nome a graphic novel de Daniel Clowes (de “Como Uma Luva de Veludo
Moldada em Ferro” de 2002), que a Companhia das Letras pelo seu selo “Quadrinhos
na Cia.” publica aqui este ano com 80 páginas e tradução de Érico Assis. Lançada
lá fora em meados de 2010, a história rendeu prêmios e holofotes para o autor,
além de uma injeção de ânimo na carreira.
“Wilson” foi imaginado enquanto Daniel Clowes cuidava do pai em um
leito de hospital. Para passar o tempo foi rascunhando uma tira aqui, outra ali
e percebeu que tinha criado algo interessante. Utilizando leves informações biográficas,
concebeu sempre em tiras temáticas de 6 ou7 quadros, uma personalidade ranzinza,
antipática e sarcástica, mas com humor desconcertante nas verdades que dita ao
léu.
Os temas começam mostrando um pouco
do indivíduo pelo viés da sua amargura e fracassadas tentativas de
sociabilidade com o mundo. Após isso se misturam pela reviravolta de uma vida
pacata e são transferidos para assuntos como morte, religião, casamento, filhos
e solidão. Daniel Clowes alterna constantemente a maneira de desenhar e deixa
as imagens com vínculo direto sobre aquilo que conversa.
No decorrer da leitura de “Wilson” é fácil vincular a obra com o
universo explorado por Harvey Pekar (de “American Splendor”). O jeito rabugento
e diferentemente cômico em relação ao cotidiano também foi desenvolvido de modo
habitual (e com mais brilhantismo) pelo falecido quadrinista. Daniel Clowes se
distancia do óbvio na nova empreitada e com uma índole particular diverte bem,
mesmo sem ser espetacular.
Nota: 7,5
Site do autor: http://danielclowes.com
Textos relacionados:
- "Os Beats" – Harvey Pekar, Ed
Piskor e Paul Buhle, aqui.
- "Bob & Harv – Dois Anti Heróis
Americanos" - Harvey Pekar e Robert Crumb, aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário