Em 1996 o jornalista e
historiador Sérgio Cabral (pai do atual governador do Rio de Janeiro Sérgio
Cabral Filho) lançou um livro no qual contava o início do rádio no Brasil e a
alavancagem que isso representou para a música popular nacional. No ano passado
a Lazuli Editora e a Companhia Editora Nacional republicaram a obra em uma
edição mais caprichada, com inclusão de novas partes e completamente revisada.
O saldo final é extremamente aprazível.
Sérgio Cabral é versado e
doutorado quando o assunto é música tupiniquim, principalmente de décadas
passadas. Fundador do Pasquim e ex-colaborador de alguns dos maiores jornais do
país, já elaborou livros sobre nomes como Tom Jobim, Pixinguinha, Nara Leão e
Ataulfo Alves. De prosa fácil e convidativa, consegue em apenas 144 páginas
traçar um panorama do objeto a que se propõe, assim como fazer um pequeno
tratado histórico da época que visita.
“MPB Na Era do Rádio” tem logo no começo uma interessante frase de
Leonardo Da Vinci que serve como contraponto ao que será apresentado. Essa
frase diz: “A música se evapora quando tocada”. Na época desse grande italiano
(1452-1519) realmente a música se apresentava como fugaz, pois não havia como
gravá-la. Depois de muito tempo foi que o cientista estadunidense Thomas Ava
Edison construiu um fonógrafo, instrumento capaz de realizar tal proeza.
Sérgio Cabral atravessa o
primeiro disco brazuca gravado em 1902 pelo cantor Baiano, passa pela criação e
avanço das rádios privadas e públicas e vai até a bossa nova já nos anos 50.
Pelo caminho esbarra com sutileza em nomes importantes para toda uma geração e,
por conseguinte para a nossa própria música. Nomes como Ary Barroso, Almirante,
Carmem Miranda, Cartola, Donga, Dorival Caymmi, Francisco Alves, Garoto, Lamartine
Babo, Noel Rosa e Orlando Silva.
Dentre as páginas, dois pontos
merecem evidência. Primeiro a relação da música com o Governo, principalmente
com Getúlio Vargas e o Estado Novo. Censurada e às vezes beneficiada com esse “acordo’,
os compositores e interprétes não tinham como não se correlacionar com o
estado. Segundo, os primórdios da arrecadação dos direitos autorais sob o
comando da SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais), que anos depois deixaria
isso nas prestigiadas mãos do ECAD.
De leitura agradável e prazerosa,
Sérgio Cabral versa sobre um tempo em que o rádio era o principal condutor de
notícias e entretenimento para a população. Tempos em que ainda se geravam ídolos
de abrangência nacional com frequência. Tempos em que o novo brigava contra o
antigo e ia contra o racismo, conservadorismo e necessidades pessoais. Tempos,
que se pensarmos bem, por mais longínquos que estejam, ainda guardam na
essência pequenas semelhanças com os nossos dias.
Nota: 9,0
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