São incontestáveis as barreiras
que a internet quebrou (e quebra) na nossa vida. A possibilidade de estar
conectado de modo instantâneo a qualquer pessoa do mundo e a facilidade de
transpor informação talvez sejam as suas maiores virtudes. No entanto, essa mesma
internet também serviu, por outro lado, para isolar ainda mais indivíduos que
já não possuíam habilidade social, assim como encher de preguiça o corpo para
fugir do confortável refúgio a frente do computador.
O filme argentino “Medianeras – Buenos Aires na Era do Amor
Virtual”, que chegou recentemente em DVD trata sobre esse afastamento e
essa solidão, encobrindo isto sobre os panos de uma relação amorosa de uma
comédia romântica habitual. Porém, a maneira que o diretor e roteirista Gustavo
Taretto trata esses temas na sua estreia cinematográfica, reside em um lugar
remoto do mar de obviedades costumeiro e insere bom humor e um pouco de reflexão a essa história comum.
No longa, Martín (Javier Drolas)
passa basicamente todo o tempo em casa, trabalhando com os websites que cria e
em cima dos quais ganha o pão de cada dia. Já Mariana (Pilar López de Ayala) é
um arquiteta formada há dois anos, mas que nunca fez algo na sua área e
sobrevive devido a um emprego de vitrinista nas lojas de Buenos Aires. Os dois saíram
de recentemente de relacionamentos que não deixaram boas lembranças, apenas
certo arrependimento pelo tempo desperdiçado em vão.
Para eles a internet é um alívio
que serve como ocupação para também preencher os medos e fobias de cada um. Vez
ou outra, uma forma diversa de alívio mais humana é arriscada, mas os
resultados são desestimulantes. Usando as construções da cidade como metáfora
para a sua situação, como também para a vida das pessoas em geral, os diálogos exercem
uma análise sucinta sobre os modos atuais de convivência e faz com que, em
determinada escala, o ouvinte se encha de pensamentos.
Com uma atuação sóbria dos atores
e direção que flerta bem com maneirismos, “Medianeras”
expõe dois momentos especiais com a música como pano de fundo. Primeiro com “True
Love Will Find You In The End” de Daniel Johnston e depois com Marvin Gaye e
Tammi Tarrel com o clássico “Ain’t No Mountain High Enough”. E deixa a
impressão final de que como dizia o humorista Josh Billings “a solidão é um
lugar bom de visitar uma vez ou outra, mas ruim de adotar como morada”.
Nota: 8,5
Assista ao trailer:
Um comentário:
Boa indicação! Gostei muito do filme. Tks.
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