Quando se analisa uma obra, seja
ela um livro, um disco ou até mesmo um filme, é sempre oportuno tentar
qualificar a relevância desta não só para a área que está inserida, como também
o que representa para a carreira dos envolvidos. No entanto, ao se tratar sobre
“Kisses On The Bottom”, o novo trabalho de Paul McCartney, isso deve ser posto
de lado. Digo isso, pois é o tipo de obra que não almeja nada além do que ser um
tributo, um gesto de deferência com canções da primeira metade do século XX.
Há tempos que o ex-beatle queria
fazer um álbum com o olhar voltado para as décadas de 20, 30 e 40 e agora
resolveu tirar o projeto da cabeça e do papel. Para tanto convocou o experiente
produtor Tommy LiPuma (Miles Davis) e convidou Diana Krall, que não somente foi
tocar piano nas faixas como levou junto seus músicos. O resultado é um disco
bem tocado e acabado, com o jazz como direção principal (e quase única) e Paul
McCartney cantando de maneira suave e delicada, adequando bem a voz.
Depois da tríade de registros que
colocou novamente qualidade na sua produção atual, composta por “Driving Rain”
de 2001, “Chaos and Creation in The Backyard” de 2005 e “Memory Almost Full” de
2007, o velho Macca optou claramente por fazer um trabalho para ele mesmo. Se
pensarmos bem, isso não tem nada de errado e ele tem todo o direito de tomar
uma decisão dessas, afinal de contas está prestes a completar 70 anos e tem um
currículo esplendoroso de serviços prestados para a música. Mas isso é
suficiente?
A resposta é: provavelmente não. Por
mais que se veja esforço e dedicação embutidos, o resultado é apenas bonito e
não transmite aquela vontade de se ouvir novamente. Com uma escolha de repertório
que estaciona longe da garagem da obviedade, ele reconstrói canções como “Home
(When Shadows Fall)”, gravada por Nat King Cole e Sam Cooke, “Bye Bye Blackbird”,
que constava no arsenal de Frank Sinatra e “Always” composta por Irving Berlin
em 1925 e que já ganhou versões de nomes como Ella Fitzgerald.
Ele até se aventura em duas novas
músicas, que se situam entre o que de melhor o álbum oferece. A bela e romântica
“My Valentine” se enriquece com a guitarra de Eric Clapton e em “Only Our
Hearts” é a vez de Stevie Wonder abrilhantar o resultado final. Casos raros em um
trabalho que mesmo reconhecendo sua boa execução, não consegue emocionar. Como disse
o escritor russo Leonid Pervomaisky, “pouco importam as notas na música, o que conta
são as sensações produzidas por elas”. E essas sensações, infelizmente quase
inexistem em “Kisses On The Bottom”.
P.S: Paul McCartney prometeu
outro disco para esse ano. Só com inéditas. Vamos aguardar.
Nota: 6,0
Assista a um vídeo com “My
Valentine”:
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