Sexta. 23 de Março de 2012. A
primeira exibição de “Jogos Vorazes”
(The
Hunger Games, no original) era às 13hs. Uma hora e pouco antes, a fila
na frente do cinema localizado em um shopping já era extensa e misturava sem clemência
jovens de 14 anos em diante com alguns pais e avós que também se faziam
presente. A algazarra envolvia conversas altas e pipocas no chão. Tudo isso
para ver o filme inicial baseado nos livros que a escritora Suzzane Collins
transformou em um pequeno fenômeno.
Com a espera na sala, a confusão
inacreditavelmente conseguiu aumentar e envolveu a distribuição de senhas para
um sorteio feito pelo fã clube depois da exibição, demonstração de quem sabia
mais sobre a série e uma imensidão de spoilers, promovida ainda mais pela demora
agravada pela quebra de algum equipamento. O caos estava montado. Cabia a
alguns poucos elementos estranhos aquele universo, se adequar e (tentar) aproveitar
a película, mesmo que isso se apresentasse como uma árdua missão.
“Jogos Vorazes” é a primeira adaptação cinematográfica da (atual)
trilogia de Suzzane Collins. A direção do longo ficou com Gary Ross (do bom “Seabiscuit
- Alma de Herói”) que tinha a tarefa de transpor para a grande tela a mistura
de “reality show com gladiadores romanos” que encantou tanta gente mundo afora.
Só que por trás dessa tarefa maior, o diretor também tinha que ser capaz de funcionar
o universo e as cores que o livro supõe, como também inserir os lados mais
interessantes da trama.
Esse lado mais interessante
citado acima, ocupa um cunho mais crítico e político do que outras obras do
mesmo estilo. Em um futuro remoto da humanidade, o governo assume um papel de
coerção e domínio completo do poder. Nascido de uma guerra que dizimou milhares
de pessoas, esse governo anualmente faz uma competição envolvendo 24
adolescentes oriundos dos 12 distritos que compõe esse mundo. Quanto maior o
número do distrito, menor a qualidade de vida e a capacidade de sobrevivência.
Na nova edição do evento, Katniss
Everdeen (a ótima Jennifer Lawrence de “Inverno da Alma”) acaba se oferecendo
no lugar da irmã menor que foi escolhida. Mesmo sabendo que apenas um
competidor sairá vivo da luta disfarçada de grande evento, ela não pensa duas
vezes. Junto com ela vai Peeta Mallark (Josh Hutcherson de “Minhas Mães e Meu
Pai”) e os dois são envolvidos em um cenário que varia de cômico a brutal e que
serve como o pão e o circo que o estado usa para ajudar a controlar o povo.
O elenco de apoio do filme tem
categoria de sobra e consegue se sobressair em vários momentos. Stanley Tucci e
Toby Jones vivem dois apresentadores de tevê. Woody Harrelson é uma espécie de
treinador que já venceu os jogos antes e até Lenny Kravitz se sai razoável como
o estilista de Katniss. As cores das roupas e penteados dos indivíduos da
capital caem muito bem como delineadores da alienação a que eles sucumbem e
traçam um interessante paralelo, ainda que leve, para os nossos dias.
O resultado final de “Jogos Vorazes” estaciona um degrau
acima dos filmes voltados para o mesmo nicho de público, com temas sublinhados
que podiam ser a semente para despertar o início de um interesse além do
entretenimento. Além da aventura bem construída (porém, apenas comum), a
personagem de Jennifer Lawrence provoca discussões adicionais para espectadores
ainda em formação. Infelizmente, como a sala fazia questão de afirmar com muito
barulho a cada nova cena, esses espectadores estão mais interessados em estar
na moda, ou em um novo “Crepúsculo”. Uma pena.
Nota: 7,5
Assista ao trailer:
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