É de se imaginar que o sumo pontífice do catolicismo seja um
homem experiente, sem medos ou dúvidas e focado na condução da igreja sob o seu
comando. É de se esperar também que ele saiba superar os desafios que a
modernidade apresenta a uma instituição tão antiga e coordene esta perante os
obstáculos com que lida diariamente. O papa ainda terá que ter o dom da
palavra, conquistando novos adeptos e aplacando a ira dos descontentes. Porém,
para Nanni Moretti, as coisas não são bem assim.
O diretor italiano de filmes como “Caro Diário” de 1993 e “O
Quarto do Filho” de 2001, apresenta em “Habemus Papam” um raciocínio
interessante. Ambienta esse novo trabalho no Vaticano logo após o falecimento
de um papa e dentro do processo de conclave que elegerá o próximo regente.
Nesse conclave estão reunidos cardeais de todo o mundo que durante os dias
seguintes terão a responsabilidade de decidir sobre quais ombros cairá o peso e
a honra de comandar a igreja católica no futuro.
Nanni Moretti dá uma revertida nessa história. O sucessor
que o conclave escolhe aparece com ataques de pânico e incertezas sobre a
própria capacidade. O Cardeal Melville (o experiente Michel Piccoli) é quem
recebe o privilégio, mas parece surpreso e frágil para assumir o posto. O filme
penetra diretamente na condição humana e em cima dela mostra que independente
da posição que a pessoa esteja ocupando está suscetível a receios sobre o
trabalho e na extensão direta disso, sobre a vida.
Para ajudar o papa a se sentir mais seguro e convicto das suas
aptidões entra em cena o porta-voz do Vaticano (Jerzy Stuhr) e um psicanalista
ateu interpretado pelo próprio Moretti. No desespero que estaciona em torno dos
envolvidos, “Habemus Papam” caminha habilmente em tom de comédia por assuntos espinhosos
como a real dimensão da Igreja Católica no mundo atual, assim como pelo
verdadeiro show de fofocas e exibição que está inserido na disseminação da fé.
Quando o papa eleito escapa da Basílica de São Pedro na
procura por paz e de forças para compreender pelo que está passando, começa a
perceber que na verdade não entende quase nada sobre o mundo exterior. Nessa
perigosa estrada que podia facilmente se converter em um opaco discurso, Nanni
Moretti se mantém firme em apenas apresentar as questões e não tentar levianamente
respondê-las e assim realiza um bom trabalho, onde a fragilidade humana não
distingue posição, cor ou vestimentas.
Nota: 7,0
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