Quantos sonhos você já não deixou
para trás? Mesmo se não chegavam a ser sonhos, digamos que quantas quimeras
formuladas na adolescência e juventude? Quantas vezes seus vícios, ou a simples
necessidade de ganhar dinheiro, fez com que projetos fossem abortados? O quanto
isso ainda te assombra ou desanima? Será que ainda existe tempo para voltar
atrás e começar de novo? Ou pelo menos escrever as coisas de modo diferente a
partir do dia que de hoje?
Perguntas, perguntas, perguntas.
Todas envolvendo a vida da maioria das pessoas que habitam o mundo desde que
ele existe aliado ao indefectível tempero do tempo, que pode ser benéfico, mas
que também serve de cemitério para ambições e desejos. Ao ler “A Visita Cruel do Tempo” da escritora
estadunidense Jennifer Egan, todos esses questionamentos se alinham, envolvidos
com roupas soturnas e dramáticas, salpicados com um leve colorido de esperança.
Lançado pela Editora Intrínseca (338
páginas) em janeiro desse ano no país, a obra saiu originalmente em 2010 nos
EUA e rendeu elogios demasiados e prêmios como o renomado Pulitzer. E pode-se
afirmar que foram devidamente merecidos. “A
Visita Cruel do Tempo” expõe diversos personagens em pontos distintos do
passado, presente e futuro, e faz estes se correlacionarem de maneira sutil e casual,
administrando e sofrendo em cima dos rumos escolhidos.
Começa com a assistente particular
de um produtor musical de sucesso, que esconde uma juventude problemática e tenta
lidar com a solidão atual e com a cleptomania que a assola e parece não ter cura.
Depois se afasta para esse produtor, que de um medíocre baixista de uma banda
punk no começo dos anos 80, vira uma espécie de Midas do rock ao descobrir e
elevar para o estrelato um grupo que tem na figura do incendiário guitarrista,
o carro chefe que lhe guiava.
Em cima desses indivíduos,
Jeniffer Egan adiciona outros forjando ligações entre amigos, parentes e
contemporâneos, para depois sugar todas as forças deles e arremessá-los em uma
vida, na maior parte dos casos, trágica e completamente sem graça. O tom do
livro é inteligente, distinto e engraçado, e por usar o universo da música (e o
do rock mais especificamente) acaba passeando por todos os excessos e
artimanhas que são inerentes a esse universo.
Alternando a escrita com várias
maneiras de narrativa, cria uma obra que merece ser chamada de fascinante. Suas
ligações e análises que ficam sentadas calmamente na conversa mais ampla, tratam
sobre aquilo que talvez seja mais caro a cada ser humano, que é o passar do
tempo e a oportunidade e momento histórico de fazer as coisas acontecerem, como
também o poder que cada decisão impõe. É um livro raro, para ser admirado e
pensado em todas as suas tristezas e melancolias.
Nota: 9,5
Site da autora: http://jenniferegan.com
A editora disponibilizou o
primeiro capítulo para leitura. Veja aqui.
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