Pegue a dupla Miles e Jack de “Sideways
– Entre Umas e Outras” de 2004 e misture com o Warren Schmidt de “As Confissões
de Schmidt” de 2002 e com o Jim McAllister de “Eleição” de 1999. Todos eles são
personagens de filmes do norte-americano Alexander Payne, interpretados por Paul
Giamatti, Thomas Hadden Church, Jack Nicholson e Matthew Broderick,
respectivamente. Dessa mistura você provavelmente identificará algumas
semelhanças com Matt King, o protagonista do novo trabalho do cineasta.
Esse protagonista é vivido (muito
bem) por George Clooney nas paradisíacas paisagens do estado do Havaí, as quais
“Os Descendentes” não cansa de
mostrar. Afinal, quando se imagina o arquipélago de ilhas da região, logo vem a
mente praias, sorrisos, surfe, férias e mulheres dançando graciosamente com
colares coloridos no pescoço. Porém, para quem leva a vida por lá, os problemas
e sofrimentos diários de qualquer cidade são os mesmos, independente se são amenizados
por causa do visual ou do clima mais descontraído.
É fazendo contraponto entre a
beleza natural e os dramas cotidianos, que Alexander Payne faz aquele que pode
ser considerado como o seu melhor filme. A sua maneira de fazer cinema retorna
mais precisa ainda, investindo como sempre nas pessoas e na maneira que elas
arrumam para lidar (ou não) com as broncas que lhe aparecem diariamente, ou
mesmo aquelas que caem do céu, como é o caso de Matt King, que de uma hora para
outra vê a esposa (Patricia Hastie) definhar em uma cama devido a um acidente
de barco.
Na verdade, a relação já não era
lá essas coisas, uma vez que a maior preocupação do patriarca da família era o
trabalho de advogado e a venda de uma imensa área virgem que envolve
diretamente todos os parentes, que herdaram essas terras por conta de um
casamento entre um homem de negócios e uma princesa nativa (daí o nome do
filme). Agora, além de ter que não enlouquecer com o mundo, Matt King ainda
precisa começar a cuidar de duas filhas (Shailene Woodley e Amara Miller), que
mantinha uma delicada distância.
O roteiro feito em seis mãos pelo
diretor com Nat Faxon e Jim Rash é baseado em novela do escritor Kaui Hart
Hemmings e consegue envolver o espectador com as questões que apresenta de
maneira sutil e silenciosa, assim como já visto em trabalhos anteriores. “Os Descendentes” equilibra bem a forte
carga de emoção com algum humor ao atravessar as adequações, traições, medos,
dúvidas, raivas e ganância que ostenta. No final, mostra que cada um carrega
consigo uma quantia certa de dor, independente do éden ou inferno que habite.
P.S: O longa é do ano passado, mas estreou aqui em 27 de
janeiro de 2012. Venceu 2 Globos de Ouro e está concorrendo ao Oscar em 5
categorias.
Nota: 9,0
Assista ao trailer:
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