Vinã Del Mar. Chile. O dia 25 de fevereiro
de 2012 se iniciava. Por volta de 2 horas da manhã, Morrissey saia do palco
depois de 18 músicas de um show com destaques isolados e apenas mediano na
maior parte do tempo.
Santiago. Chile. O dia 26 de
fevereiro de 2012 terminava. Quase às 11 horas da noite, o ex-vocalista dos Smiths
ia embora ovacionado pelo público após 21 canções de uma apresentação intensa e
próxima da palavra impecável.
A pergunta que fica é: O que
mudou nas 36 horas que intercalaram os dois espetáculos nas cidades chilenas? Ou:
Como um dia tão insosso se transformou pouco tempo depois em algo vibrante e
emocionante?
Bom, em Viña Del Mar, em um
tradicional festival da famosa cidade praiana organizado desde meados dos anos
50, as coisas funcionaram pouco. Devido principalmente a concepção do evento e
a confusão entre as produções da festa, da tevê organizadora (a rede
Chilevisión), como também do artista. Em um belíssimo anfiteatro chamado Quinta
Vergara e localizado dentro de um local turístico, Morrissey foi antecedido,
entre outros, pelo cantor romântico italiano Salvatore Adamo e pareceu um
estranho no ninho.
Das 12 mil pessoas presentes, não
seria exagero afirmar que 40% a 50% não conheciam as suas músicas e essa
porcentagem ficava ainda maior na parte mais próxima ao palco. Além disso, a iluminação
funcional dos shows anteriores ficou desconfortavelmente clara e festiva demais
para a última ocasião. Ressalte-se ainda, que o festival é um evento saudosista
e feito para a família, inspirado nos anos 60 e 70, com competição de artistas
e premiações entregues para todos os participantes.
Já em Santiago, a Movistar Arena inaugurada
em 2006 e cravada no interior do Parque O’Higgins era um lugar muito mais propício
para uma exibição de rock. O público que estava ali somente por causa do
Morrissey (pelo menos é o que se leva a entender) foi muito mais participativo.
O som estava melhor, o telão atrás do palco se mostrou relevante (já que o
músico não utiliza as imagens do show refletidas nele) e a banda devidamente empolgada
e acesa.
O próprio Morrissey aparentava estar bem humorado e mais envolvido com o show, mostrando certa gana de revidar todo
o rebuliço causado pela sua ida a Viña Del Mar, que invadiu os periódicos e
tevês chilenas com grande força, dando margem a todo tipo de especulação e histerismo
possível, abraçadas com um sensacionalismo barato digno do nosso amado Brasil.
É, não estamos sós nesse sentido.
Os repertórios dos dois shows não
se diferenciaram muito. 16 músicas se repetiram ao todo. A diferença residiu
mesmo em três fatores: o local, a intensidade e a presença de duas canções dos
Smiths em Santiago, que sozinhas já teriam o poder de mudar tudo: “Please,
Please, Please, Let Me Get What I Want” em uma versão estúpida de tão emocionante
e “Still Ill”, que finalmente rolou no bis depois de ser renegada em Viña Del
Mar.
Dos discos do artista, apenas o
fraco “Kill Uncle” de 1991 e o razoável “Southpaw Grammar” de 1995 não compareceram
com nenhuma faixa. Duas novas músicas foram tocadas em ambas as cidades: “People Are The Same Everywhere” e “Scandinavia” (a também nova “Action Is My Middle Name” só rolou na capital), além de
outras dos Smiths como a clássica “There Is A Light That Never Goes Out”,
a balada desesperada “I Know It’s Over”, a possante “How Soon Is Now?” e o
libelo contra a crueldade aos animais “Meat Is Murder”, que acompanhada por
imagens do documentário “Meet Your Meat” é aplaudida efusivamente por pessoas, que
em sua maioria, saem do show para comer carne em algum lugar.
As canções pós-Smiths foram muito
bem recebidas, principalmente em Santiago que abriu com um quarteto que já
arremessava o espectador para as alturas: “First Of The Gang To Die”, “You’re
The One For Me, Fatty”, “Alma Matters” e “You Have Killed Me”. A opção por
baladas (feita de modo mais acentuado em Viña Del Mar) também surtiu ótimos efeitos,
com destaque para “I’m Throwing My Arms Around Paris” e a sempre brilhante “Everyday
is Like Sunday”, cantada de pulmão cheio e com lágrimas discretas escorrendo
pelo rosto.
Na mais recente passagem pelo Chile
(a última havia sido em 2004), Morrissey foi o que costumou ser a carreira
toda. Meio intransigente e polêmico, porém autêntico e fiel as suas crenças dentro
do terrível jogo do entretenimento. Em dois dias, como um anjo caído despencou
ao inferno, mas se recuperou em tempo suficiente para novamente subir aos céus
e assim como o messias que representa para tantas pessoas, escutar suas preces
e convertê-las em canções.
Nada mais genuíno para este
senhor de 52 anos de idade e mais de 30 de carreira, que com seu sangue irlandês e coração inglês (como frisa em uma das suas grandes canções solo, ausente nos shows), mostra que ainda carrega consigo a capacidade de comover e
impressionar.
P.S: A banda é composta pelo velho amigo e parceiro Boz Boorer na
guitarra e violões, Solomon Walker no baixo, Jesse Tobias na guitarra, Gustavo
Manzur no teclado e violões e o maior destaque do grupo, o baterista Matt
Walker com sua energia, bumbos e gongo imenso.
Setlist de Viña Del Mar em 26 de fevereiro de 2012 (1ª foto):
1-I Want The One I Can’t Have
2-First Of The Gang Of Die
3-You’re The One For Me, Fatty
4-When Last I Spoke To Carol
5-Black Cloud
6-Speedway
7-There Is A Light That Never
Goes Out
8-Everyday Is Like Sunday
9-I Know It’s Over
10-Let Me Kiss You
11-People Are The Same Everywhere
12-I’m Throwing My Arms Around
Paris
13-Meat Is Murder
14-Ouija Board, Ouija Board
15-I Will See You in Far-Off
Places
16-Scandinavia
17-You Have Killed Me
18-How Sonn Is Now?
Setlist de Santiago em 26 de fevereiro de 2012 (2ª foto):
1-First Of The Gang Of Die
2-You’re The One For Me, Fatty
3-Alma Matters
4-You Have Killed Me
5-Ouija Board, Ouija Board
6-There Is A Light That Never
Goes Out
7-Everyday Is Like Sunday
8- I Will See You in Far-Off
Places
9-Action Is My Middle Name
10-I’m Throwing My Arms Around
Paris
11-I Know It’s Over
12-Let Me Kiss You
13-Speedway
14-People Are The Same Everywhere
15-Please, Please, Please, Let Me
Get What I Want
16-Black Cloud
17-Meat Is Murder
18-One Day Goodbye Will Be
Farewell
19-Scandinavia
20-How Soon Is Now?
BIS:
21-Still Ill