terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Morrissey em Viña Del Mar e Santiago (Chile) - 24 e 26 de fevereiro de 2012


Vinã Del Mar. Chile. O dia 25 de fevereiro de 2012 se iniciava. Por volta de 2 horas da manhã, Morrissey saia do palco depois de 18 músicas de um show com destaques isolados e apenas mediano na maior parte do tempo.

Santiago. Chile. O dia 26 de fevereiro de 2012 terminava. Quase às 11 horas da noite, o ex-vocalista dos Smiths ia embora ovacionado pelo público após 21 canções de uma apresentação intensa e próxima da palavra impecável.

A pergunta que fica é: O que mudou nas 36 horas que intercalaram os dois espetáculos nas cidades chilenas? Ou: Como um dia tão insosso se transformou pouco tempo depois em algo vibrante e emocionante?

Bom, em Viña Del Mar, em um tradicional festival da famosa cidade praiana organizado desde meados dos anos 50, as coisas funcionaram pouco. Devido principalmente a concepção do evento e a confusão entre as produções da festa, da tevê organizadora (a rede Chilevisión), como também do artista. Em um belíssimo anfiteatro chamado Quinta Vergara e localizado dentro de um local turístico, Morrissey foi antecedido, entre outros, pelo cantor romântico italiano Salvatore Adamo e pareceu um estranho no ninho.

Das 12 mil pessoas presentes, não seria exagero afirmar que 40% a 50% não conheciam as suas músicas e essa porcentagem ficava ainda maior na parte mais próxima ao palco. Além disso, a iluminação funcional dos shows anteriores ficou desconfortavelmente clara e festiva demais para a última ocasião. Ressalte-se ainda, que o festival é um evento saudosista e feito para a família, inspirado nos anos 60 e 70, com competição de artistas e premiações entregues para todos os participantes.

Já em Santiago, a Movistar Arena inaugurada em 2006 e cravada no interior do Parque O’Higgins era um lugar muito mais propício para uma exibição de rock. O público que estava ali somente por causa do Morrissey (pelo menos é o que se leva a entender) foi muito mais participativo. O som estava melhor, o telão atrás do palco se mostrou relevante (já que o músico não utiliza as imagens do show refletidas nele) e a banda devidamente empolgada e acesa.

O próprio Morrissey aparentava estar bem humorado e mais envolvido com o show, mostrando certa gana de revidar todo o rebuliço causado pela sua ida a Viña Del Mar, que invadiu os periódicos e tevês chilenas com grande força, dando margem a todo tipo de especulação e histerismo possível, abraçadas com um sensacionalismo barato digno do nosso amado Brasil. É, não estamos sós nesse sentido.

Os repertórios dos dois shows não se diferenciaram muito. 16 músicas se repetiram ao todo. A diferença residiu mesmo em três fatores: o local, a intensidade e a presença de duas canções dos Smiths em Santiago, que sozinhas já teriam o poder de mudar tudo: “Please, Please, Please, Let Me Get What I Want” em uma versão estúpida de tão emocionante e “Still Ill”, que finalmente rolou no bis depois de ser renegada em Viña Del Mar.

Dos discos do artista, apenas o fraco “Kill Uncle” de 1991 e o razoável “Southpaw Grammar” de 1995 não compareceram com nenhuma faixa. Duas novas músicas foram tocadas em ambas as cidades: “People Are The Same Everywhere” e “Scandinavia” (a também nova “Action Is My Middle Name” só rolou na capital), além de outras dos Smiths como a clássica “There Is A Light That Never Goes Out”, a balada desesperada “I Know It’s Over”, a possante “How Soon Is Now?” e o libelo contra a crueldade aos animais “Meat Is Murder”, que acompanhada por imagens do documentário “Meet Your Meat” é aplaudida efusivamente por pessoas, que em sua maioria, saem do show para comer carne em algum lugar.

As canções pós-Smiths foram muito bem recebidas, principalmente em Santiago que abriu com um quarteto que já arremessava o espectador para as alturas: “First Of The Gang To Die”, “You’re The One For Me, Fatty”, “Alma Matters” e “You Have Killed Me”. A opção por baladas (feita de modo mais acentuado em Viña Del Mar) também surtiu ótimos efeitos, com destaque para “I’m Throwing My Arms Around Paris” e a sempre brilhante “Everyday is Like Sunday”, cantada de pulmão cheio e com lágrimas discretas escorrendo pelo rosto.

Na mais recente passagem pelo Chile (a última havia sido em 2004), Morrissey foi o que costumou ser a carreira toda. Meio intransigente e polêmico, porém autêntico e fiel as suas crenças dentro do terrível jogo do entretenimento. Em dois dias, como um anjo caído despencou ao inferno, mas se recuperou em tempo suficiente para novamente subir aos céus e assim como o messias que representa para tantas pessoas, escutar suas preces e convertê-las em canções.

Nada mais genuíno para este senhor de 52 anos de idade e mais de 30 de carreira, que com seu sangue irlandês e coração inglês (como frisa em uma das suas grandes canções solo, ausente nos shows), mostra que ainda carrega consigo a capacidade de comover e impressionar.

P.S: A banda é composta pelo velho amigo e parceiro Boz Boorer na guitarra e violões, Solomon Walker no baixo, Jesse Tobias na guitarra, Gustavo Manzur no teclado e violões e o maior destaque do grupo, o baterista Matt Walker com sua energia, bumbos e gongo imenso.


Setlist de Viña Del Mar em 26 de fevereiro de 2012 (1ª foto):

1-I Want The One I Can’t Have
2-First Of The Gang Of Die
3-You’re The One For Me, Fatty
4-When Last I Spoke To Carol
5-Black Cloud
6-Speedway
7-There Is A Light That Never Goes Out
8-Everyday Is Like Sunday
9-I Know It’s Over
10-Let Me Kiss You
11-People Are The Same Everywhere
12-I’m Throwing My Arms Around Paris
13-Meat Is Murder
14-Ouija Board, Ouija Board
15-I Will See You in Far-Off Places
16-Scandinavia
17-You Have Killed Me
18-How Sonn Is Now?

Setlist de Santiago em 26 de fevereiro de 2012 (2ª foto):

1-First Of The Gang Of Die
2-You’re The One For Me, Fatty
3-Alma Matters
4-You Have Killed Me
5-Ouija Board, Ouija Board
6-There Is A Light That Never Goes Out
7-Everyday Is Like Sunday
8- I Will See You in Far-Off Places
9-Action Is My Middle Name
10-I’m Throwing My Arms Around Paris
11-I Know It’s Over
12-Let Me Kiss You
13-Speedway
14-People Are The Same Everywhere
15-Please, Please, Please, Let Me Get What I Want
16-Black Cloud
17-Meat Is Murder
18-One Day Goodbye Will Be Farewell
19-Scandinavia
20-How Soon Is Now?
BIS:
21-Still Ill 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

"50%" - 2011


Você tem 27 anos, um trabalho razoável, uma namorada que mora contigo e deixa o relacionamento cada vez mais sério, assim como uma vida confortável. Nada excepcional, mas com tranquilidade e boa chances de futuro. Sempre andando pelas regras, certinho e sem beber, fumar, usar drogas ou algo do tipo, em um dia aparentemente normal você descobre ter câncer. E o pior ainda, um câncer raro que o médico simplesmente arremessa na tua cara. E agora?

É assim que se encontra Adam (Joseph Gordon-Levitt de “500 Dias Com Ela”) no filme “50%” do jovem diretor Jonathan Levine, lançado diretamente em DVD aqui no país. Baseado em uma história real, o longa procura mostrar como uma doença perigosa e quase mortal pode afetar a vida de alguém, além de contrapor essa doença com uma fase nova que inclui um redescobrimento de si mesmo, como também um processo de mudança e novas atitudes.

Do trabalho em uma rádio, Adam retira de melhor a amizade desconexa e sincera com Kyle (Seth Rogen de “O Besouro Verde”), que sente o impacto do infortúnio do amigo, no entanto logo começa a tirar proveito para arrumar mulheres à custa disso. Essa pequena linha que é traçada entre humor e tristeza é um dos pontos altos do filme e envolve basicamente tudo que é exposto, o que resulta em cenas realmente boas, como naquelas do tratamento de quimioterapia.

Da vida pessoal, Adam não tem lá muito o que se orgulhar. Apesar de ter um caso amoroso com a bela Rachel (Bryce Dallas Howard de “Histórias Cruzadas”) e ver este avançar, as coisas definitivamente não vão bem. Depois da descoberta da doença então, elas desandam de vez, menos por maldade e talvez mais por imperícia no trato de coisa tão grave. O relacionamento com os pais também é longo e distante e inicialmente não oferece quaisquer alívios.

Com um bom elenco de coadjuvantes (Anna Kendrick, Anjelica Houston e Philip Baker Hall, entre outros), “50%” também tem um grande diferencial na trilha sonora com The Walkmen, Pearl Jam e Roy Orbison, além de uma encaixada perfeita de “High And Dry” do Radiohead. Jonathan Levine acerta ao tratar de um tema extremamente difícil e emociona ao mesmo tempo em que deixa no ar a mensagem que olhar para a vida com um sorriso no rosto é sempre a melhor pedida.

P.S: O título (“50/50” no original) faz referência as chances de sobrevivência do personagem principal.

Nota: 7,5

Assista ao trailer:  


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

"São Marcos de Palestra Itália" - Celso de Campos Jr.


Não deveria ser assim, essa é a verdade. Está certo que quem nasceu dos anos 90 em diante talvez não carregue essa sensação no peito, que reside longe do saudosismo simples e banal. Porém, naquela que indiscutivelmente é a paixão nacional, identificação é uma palavra que perdeu o sentido. Fidelidade então nem se fala. Por isso que a carreira de Marcos Roberto Silveira Reis, nascido em 4 de agosto de 1973 na cidade de Oriente no estado de São Paulo deve ser louvada. Por isso, e claro, por ele ser um tremendo goleiro, um dos maiores da história do futebol verde e amarelo.

Marcos, que ainda moleque começou a vestir a camisa do Palmeiras, foi canonizado pela torcida palestrina como santo no ano de 1999, depois de uma exibição brilhante na eliminação do rival Corinthians (e que tinha um timaço na época) nas quartas-de-final da Libertadores. Daí em diante seus “milagres” se multiplicaram e invadiram a seleção brasileira campeã do mundo em 2002 e seguiram até mesmo a 2ª Divisão do Campeonato Brasileiro, quando o time caiu e ele dignamente jogou com empenho a competição ao recusar uma proposta excelente do Arsenal da Inglaterra.

Com tudo isso envolvendo a sua vida de esportista, uma biografia é plenamente cabível. E isso é o que fez Celso de Campos Jr., jornalista e autor de biografias de Adoniran Barbosa e do jornal Notícias Populares. Lançado no final do ano passado com 304 páginas pela Editora Realejo, “São Marcos de Palestra Itália” foi, de maneira surpreendente até, perseguido pateticamente pela direção do clube paulista. Tal perseguição deve-se ao fato (ridículo) do clube estar participando de dois projetos do tipo que circundam o goleiro, com participação do próprio e de vários outros personagens.

Para elaborar o livro, Celso de Campos Jr. se baseou quase que unicamente em notícias de jornais, revistas e outras publicações, o que acaba jogando contra a obra de modo fulminante. As histórias e causos do “Marcão” são conhecidas em sua maioria e aqui estão recontadas com bom rigor de escrita e união, no entanto passam longe de trazer novidades ou pontos de vista diferentes. O trabalho é um compêndio da trajetória dentro dos campos e atravessa quase nada para a vida pessoal, assim como para a infância e formação de caráter, o que via de regra é fundamental para uma biografia.

O tom de Celso de Campos Jr. também incomoda. Marcos é respeitado pelas torcidas dos outros times seja pela autenticidade e espontaneidade, como também por ser o típico boa praça (além de um monstro debaixo das traves). O autor vai na contramão disso e fracassa nas tentativas de humor ao falar jocosamente dos adversários em piadas que nem atingem o chato politicamente correto, pois são verdadeiramente sem graça. Isso ajuda a tornar “São Marcos de Palestra Itália” uma quase-biografia que agradará em cheio somente aos torcedores do Palmeiras. O Marcão merece e tem material para coisa melhor.

Nota: 5,5

P.S: Marcos foi o melhor goleiro que vi jogar. E mesmo sendo flamenguista, sempre tive uma simpatia, por assim dizer, com o Palmeiras em São Paulo. Entendo que o futebol ficou chato e vigiado demais nos dias atuais e que gozações sempre são bem-vindas ao mundo do futebol. No entanto, essas gozações funcionam quando são divertidas. Basicamente.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

"Séries" - Luck


Se ainda existiam dúvidas sobre a qualidade da produção televisiva norte-americana e de como essa vem suplantando em diversos momentos a produção de cinema do país, essas dúvidas ganham mais razões para serem dirimidas com “Luck”, a nova série da HBO. Concebida por David Milch da ótima “Deadwood”, teve o piloto dirigido por Michael Mann de “Colateral” e “Inimigos Públicos”, que também assina a produção executiva junto com notáveis como o experiente roteirista Eric Roth de “O Curioso Caso de Benjamin Button”.

E não é só atrás das câmeras que “Luck” se destaca inicialmente. O elenco é formado por atores de talento inegável e reconhecido como Dustin Hoffman e Nick Nolte, além de outros como Dennis Farina (“Snatch – Porcos e Diamantes”), Richard Kind (“Um Homem Sério”), Kevin Dunn (da franquia “Transformers”), Jill Hennessy (“Lei e Ordem”) e W. Earl Brown (“Deadwood”). Um verdadeiro timaço que começou a se apresentar no Brasil no dia 05 de fevereiro e assim segue às 22 horas de domingo na HBO.

A história se expande através de Chester “Ace” Bernstein (Dustin Hoffman), um mafioso que depois cumprir pena de alguns anos, sai em busca de retomar a sua vida, mas sai principalmente em busca de vingança. Ele foi preso para encobrir parceiros da máfia que dominam as apostas de modo geral em Los Angeles, incluindo aí cassinos e particularmente corridas de cavalo, o real interesse da série. Boa parte dela se desenvolve dentro de cocheiras sujas, das pistas de areia do hipódromo e dos bares da redondeza.

Com poucas exceções, a totalidade dos personagens de “Luck” está envolvida ou em um fracasso retumbante e tenta se reerguer, ou está desesperada por alguma fórmula mágica que lhes traga fortuna, ou ainda se perdem em uma vida com intrigas e sem alegrias. Alguns estão desesperados, inclusive. Bons exemplos são os quatro amigos que acertam a sorte grande em um dia, o jockey que tenta a todo custo voltar para os dias de glória e o estupendo agente gago que tenta vender suas “mercadorias” de forma incansável.

“Luck” já teve a segunda temporada confirmada (a primeira terá 9 episódios), porém não está imune a desafios, uma vez que por estar vinculada a uma área muito fechada de ação e utilizar nos diálogos vários termos técnicos, corre o risco de ficar monótona e desestimulante. Por enquanto, no entanto, coloca um bom corpo de vantagem nessa corrida específica e tem tudo para se consagrar como mais uma produção de alto nível dentro do cardápio de excelência da HBO, e por conseguinte da televisão.

Nota: 8,5

Site oficial com vídeos e informações: http://www.hbomax.tv/luck

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

"A Visita Cruel do Tempo" - Jennifer Egan


Quantos sonhos você já não deixou para trás? Mesmo se não chegavam a ser sonhos, digamos que quantas quimeras formuladas na adolescência e juventude? Quantas vezes seus vícios, ou a simples necessidade de ganhar dinheiro, fez com que projetos fossem abortados? O quanto isso ainda te assombra ou desanima? Será que ainda existe tempo para voltar atrás e começar de novo? Ou pelo menos escrever as coisas de modo diferente a partir do dia que de hoje?

Perguntas, perguntas, perguntas. Todas envolvendo a vida da maioria das pessoas que habitam o mundo desde que ele existe aliado ao indefectível tempero do tempo, que pode ser benéfico, mas que também serve de cemitério para ambições e desejos. Ao ler “A Visita Cruel do Tempo” da escritora estadunidense Jennifer Egan, todos esses questionamentos se alinham, envolvidos com roupas soturnas e dramáticas, salpicados com um leve colorido de esperança.

Lançado pela Editora Intrínseca (338 páginas) em janeiro desse ano no país, a obra saiu originalmente em 2010 nos EUA e rendeu elogios demasiados e prêmios como o renomado Pulitzer. E pode-se afirmar que foram devidamente merecidos. “A Visita Cruel do Tempo” expõe diversos personagens em pontos distintos do passado, presente e futuro, e faz estes se correlacionarem de maneira sutil e casual, administrando e sofrendo em cima dos rumos escolhidos.

Começa com a assistente particular de um produtor musical de sucesso, que esconde uma juventude problemática e tenta lidar com a solidão atual e com a cleptomania que a assola e parece não ter cura. Depois se afasta para esse produtor, que de um medíocre baixista de uma banda punk no começo dos anos 80, vira uma espécie de Midas do rock ao descobrir e elevar para o estrelato um grupo que tem na figura do incendiário guitarrista, o carro chefe que lhe guiava.

Em cima desses indivíduos, Jeniffer Egan adiciona outros forjando ligações entre amigos, parentes e contemporâneos, para depois sugar todas as forças deles e arremessá-los em uma vida, na maior parte dos casos, trágica e completamente sem graça. O tom do livro é inteligente, distinto e engraçado, e por usar o universo da música (e o do rock mais especificamente) acaba passeando por todos os excessos e artimanhas que são inerentes a esse universo.

Alternando a escrita com várias maneiras de narrativa, cria uma obra que merece ser chamada de fascinante. Suas ligações e análises que ficam sentadas calmamente na conversa mais ampla, tratam sobre aquilo que talvez seja mais caro a cada ser humano, que é o passar do tempo e a oportunidade e momento histórico de fazer as coisas acontecerem, como também o poder que cada decisão impõe. É um livro raro, para ser admirado e pensado em todas as suas tristezas e melancolias.

Nota: 9,5

Site da autora: http://jenniferegan.com

A editora disponibilizou o primeiro capítulo para leitura. Veja aqui.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Música: Van Halen e Leonard Cohen


Eddie Van Halen tinha na cabeça a exata dimensão do que podia representar o próximo disco de sua banda, que desde o fraco e insosso “Van Halen III” (com Gary Cherone do Extreme nos vocais) não lançava nada inédito. Podia ser um retorno ao topo do mundo do rock, ainda mais com a volta de David Lee Roth para os vocais a partir de 2007, ou então viver decididamente do passado glorioso e sair lucrando turnê após turnê apenas com o poder do nome.

“A Different Kind Of Truth” que chega às lojas esse ano, caminha na direção desse regresso, mesmo que a banda tenha utilizado para as 13 canções que compõem o álbum,  várias ideias antigas resgatadas em demos e reformuladas. O resultado é bom e traz a bateria de Alex Van Halen bem azeitada com o baixo de Wolfgang Van Halen (filho de Eddie, que estreia em disco), para que os famosos solos do líder ecoem com categoria (como em “Blood And Fire”).

O grupo acerta a mão principalmente em faixas como “Tattoo”, “She's The Woman” e “The Trouble With Never” e faz uma volta digna, íntegra e respeitável. Que permaneça assim.

Nota: 7,5

Site oficial: http://www.van-halen.com

Leonard Cohen está com 77 anos. Tempo suficiente para influenciar um bocado de gente e descansar. No entanto, depois de anos sem lançar nenhum disco novo (o último foi “Dear Heather” de 2004), ele se viu com a necessidade financeira de lançar um trabalho inédito, depois de dois registros de apresentações ao vivo. “Old Ideas” é um compêndio de canções que joga na mesa os mesmos temas trabalhados na carreira, mas com um olhar mais extenuado, mais fatigado.

São 10 faixas que começam na cínica “Going Home”, onde Cohen se permite chamar de bastardo preguiçoso e vai para a tristeza redentora de “Amen” e a narrativa confusa de “Show Me The Place”, para depois beber sombras em “The Darkness” e suplicar por amor em “Anyhow”. “Crazy To Love You” mistura loucura e amor, enquanto “Come Healing” é quase uma canção de igreja. Para fechar, “Banjo” busca salvação, “Lullaby” é cheia de dúvidas e “Different Sides” trata de fé e compreensão.

Leonard Cohen parece saber que esse é o seu último registro. Letras como “eu sei que meus dias são poucos, o presente não é tão agradável, só um monte de coisas para fazer” atestam isso. E se isso for realmente verdade, “Old Ideias” é um belo testemunho final.

Nota: 8,0


Assista ao clipe de “Tattoo” do Van Halen:


Assista ao clipe de “Show Me The Place” de Leonard Cohen:

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Séries - "Alcatraz"


Nos últimos cento e poucos anos, a Ilha de Alcatraz, situada no meio da Baía de São Francisco nos Estados Unidos, passou de base militar para uma prisão famosa, até chegar na atração turística que hoje representa. Em cima dessa ilha e usando a prisão que um dia lá se abrigou é que Elizabeth Sarnoff (“Lost”), Steven Lilien (“Kyle XV”) e Bryan Wynbrandt (também de “Kyle XV”) criaram a nova série produzida pelo onipresente J.J. Abrams.

“Alcatraz” passa no canal da Warner toda segunda feira às 22 horas e procura envolver ação policial com jogos de detetive e um grande e não revelado mistério responsável por todo o desenvolvimento da trama. Esse mistério envolve essencialmente o estranho (e absurdo) desaparecimento de 302 pessoas quando a prisão fechou em março de 1963. Nos dias atuais esses sumidos começam a dar a cara sem explicação aparente ou plausível.

No comando da obscura força-tarefa federal que visa solucionar esses casos e prender novamente os perigosos indivíduos que estão a solta, está Emerson Hauser (o experiente Sam Neill), um policial que trabalhava na época do acontecido. Ao seu lado, por necessidade ou mesmo motivos ainda não revelados, está a detetive Rebecca Madsen (a bela Sarah Jones de “Sons Of Anarchy”) e o Dr. Diego Soto (o Hurley de “Lost”, em boa atuação).

Cada episódio leva o nome de um dos “perdidos” e abrange a busca para encontrá-lo, assim como entender as causas do não envelhecimento e os motivos das ações que eles vem efetuando. Com boas doses de ação e soluções bem boladas nesse início, a série consegue agradar e até mesmo fazer o espectador tomar parte do enigma que apresenta. No entanto, já fica claro que essa fórmula facilmente será esgotada ainda na primeira temporada.

Esse evidente esgotamento futuro, passa pelo cansaço da repetição, assim como pela extensão de temporadas que se visualiza. Caso os produtores e roteiristas direcionem a série para outro patamar, que pode até trocar totalmente de foco se optar em tratar do mistério sem alongamentos desnecessários e novas perguntas junto com as respostas (o que aconteceu com “Lost”, por exemplo), pode-se esperar mais. Porém, isso é um assunto mais para frente. É bom ir com calma.

Nota: 6,0

Site oficial da série no Brasil: http://www.warnerchannel.com/series/alcatraz

Assista a um trailer: 

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

"Tudo Pode Mudar" - Jonathan Tropper


Em uma balada do disco “Analogue” de 2005 chamada “Birthright", Morten Harket do A-ha canta, depois de algumas considerações sobre a vida, que “tudo muda com o tempo”. Assertiva simples e até mesmo banal, mas que é passível de ser empregada como uma trilha sonora imaginária de um livro do escritor Jonathan Tropper, lançado este ano pela Editora Arqueiro (um espécie de braço da Sextante) com 230 páginas e tradução de Simone Reisner.

“Tudo Pode Mudar” (“Everything Changes”, no original), foi escrito antes de “Como Falar Com o Viúvo”, a divertida obra do autor que saiu por aqui em meados de 2010, e exibe muitas coisas em comum com essa, como a auto-piedade do personagem principal e a inquietação contínua referente ao rumo que a vida tomou, além do fato que ambos distribuem suas incertezas rodeados em um conforto de moradia e despesas cotidianas.

No livro, Zachary King passou recentemente pelos 30 anos e tem mais ou menos a vida encaminhada. Um trabalho razoável (apesar de desestimulante) e um noivado com uma bela e inteligente mulher. Porém, por trás disso residem coisas mais nubladas. Primeiro a família despedaçada, desde que o pai foi despejado pela mãe por causa de adultério, e em segundo a morte do melhor amigo em um acidente de carro, que ainda lhe enche de culpa.

Mas ainda que essas incertezas encham o peito de Zachary King, tudo continua caminhando praticamente do mesmo jeito, até que um turbilhão de situações se encontram e dão ínicio as mudanças que o título se refere (até um possível câncer resolve aparecer). Com um bom desenvolvimento dos coadjuvantes, o autor faz que com que o livro sobreviva bem sem precisar tanto do carisma (quase inexistente) que o protagonista exibe nas páginas.

“Tudo Pode Mudar” utiliza da premissa de contar pequenas tragédias de maneira leve, ocupando o espaço com circunstâncias constrangedoras e passagens cômicas. Escondido nessa premissa está o propósito de mostrar que toda hora é hora para se tomar decisões que alterem uma vida que não está fazendo bem, mesmo que isso não seja necessariamente bom a curto prazo. Parece trivial, mas a vida real nem sempre é fácil como uma canção. Ou um livro.

Nota: 7,0

Sobre “Como Falar Com Um Viúvo”, passe aqui.

Site oficial do autor: http://jonathantropper.com                                      

domingo, 5 de fevereiro de 2012

"Os Descendentes" - 2012


Pegue a dupla Miles e Jack de “Sideways – Entre Umas e Outras” de 2004 e misture com o Warren Schmidt de “As Confissões de Schmidt” de 2002 e com o Jim McAllister de “Eleição” de 1999. Todos eles são personagens de filmes do norte-americano Alexander Payne, interpretados por Paul Giamatti, Thomas Hadden Church, Jack Nicholson e Matthew Broderick, respectivamente. Dessa mistura você provavelmente identificará algumas semelhanças com Matt King, o protagonista do novo trabalho do cineasta.

Esse protagonista é vivido (muito bem) por George Clooney nas paradisíacas paisagens do estado do Havaí, as quais “Os Descendentes” não cansa de mostrar. Afinal, quando se imagina o arquipélago de ilhas da região, logo vem a mente praias, sorrisos, surfe, férias e mulheres dançando graciosamente com colares coloridos no pescoço. Porém, para quem leva a vida por lá, os problemas e sofrimentos diários de qualquer cidade são os mesmos, independente se são amenizados por causa do visual ou do clima mais descontraído.

É fazendo contraponto entre a beleza natural e os dramas cotidianos, que Alexander Payne faz aquele que pode ser considerado como o seu melhor filme. A sua maneira de fazer cinema retorna mais precisa ainda, investindo como sempre nas pessoas e na maneira que elas arrumam para lidar (ou não) com as broncas que lhe aparecem diariamente, ou mesmo aquelas que caem do céu, como é o caso de Matt King, que de uma hora para outra vê a esposa (Patricia Hastie) definhar em uma cama devido a um acidente de barco.

Na verdade, a relação já não era lá essas coisas, uma vez que a maior preocupação do patriarca da família era o trabalho de advogado e a venda de uma imensa área virgem que envolve diretamente todos os parentes, que herdaram essas terras por conta de um casamento entre um homem de negócios e uma princesa nativa (daí o nome do filme). Agora, além de ter que não enlouquecer com o mundo, Matt King ainda precisa começar a cuidar de duas filhas (Shailene Woodley e Amara Miller), que mantinha uma delicada distância.

O roteiro feito em seis mãos pelo diretor com Nat Faxon e Jim Rash é baseado em novela do escritor Kaui Hart Hemmings e consegue envolver o espectador com as questões que apresenta de maneira sutil e silenciosa, assim como já visto em trabalhos anteriores. “Os Descendentes” equilibra bem a forte carga de emoção com algum humor ao atravessar as adequações, traições, medos, dúvidas, raivas e ganância que ostenta. No final, mostra que cada um carrega consigo uma quantia certa de dor, independente do éden ou inferno que habite.

P.S: O longa é do ano passado, mas estreou aqui em 27 de janeiro de 2012. Venceu 2 Globos de Ouro e está concorrendo ao Oscar em 5 categorias.

Nota: 9,0

Assista ao trailer:


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

"J. Edgar" - 2012


John Edgar Hoover foi uma das principais personalidades dos EUA no século passado. Indiscutivelmente. No comando do FBI (Federal Bureau of Investigation) fez fama, jogou perigosamente com seus demônios pessoais, espalhou medo e acumulou desafetos. Ao falecer em 2 de maio de 1972, deixou para trás uma organização estruturada e moderna para os padrões da época, como também um caminho permeado por chantagens e desvios costumeiros da lei.

Clint Eastwood tinha então em suas mãos um personagem repleto de nuances e facetas para retratar em um filme. Em “J. Edgar” lançado lá fora no ano passado e estreando aqui agora, o experiente e habilidoso diretor tenta priorizar mais o lado humano do que os famosos e abundantes conflitos pessoais comandados sobre a mão de ferro do FBI. No entanto, acaba não conseguindo o objetivo desejado tanto pela pouca intensidade, quanto pelas opacas atuações.

Leonardo DiCaprio foi escolhido para interpretar o papel principal e dá uma reduzida na progressão de qualidade que demonstrou nos últimos trabalhos, mesmo se aproximando um pouco da sua atuação como “Howard Hughes” em “O Aviador” de 2004. Nos demais papeis apresentam-se trabalhos igualmente medianos como Naomi Watts como a secretária pessoal Helen Gandy, Armie Hammer como o amigo de trabalho (e de outras coisas mais) Clyde Tolson e até mesmo a quase sempre ótima Judi Dench como a mãe protetora e confidente Anna Marie Hoover.

Porém, apesar dessa carga moderada, o longa serve para demonstrar a personalidade controladora, paranóica e solitária que perseguiu estrangeiros, artistas e negros, em prol de uma visão contorcida do bem estar da população norte-americana. Aquela velha história dos fins justificarem os meios. Além de mostrar parcialmente as brigas internas para controlar as emoções em relação a Clyde Tolson que transitavam entre o amor (existente e) não declarado e a amizade. 

“J. Edgar” tem seus méritos na competente parte técnica e na recriação da época (exceção feita ao péssimo trabalho de maquiagem), mas esbarra em uma direção pouco inspirada de Clint Eastwood e um roteiro escasso de brilhantismo de Dustin Lance Black de “Milk – A Voz da Igualdade”, como também é escassa a atuação dos atores envolvidos. Para um cara que deixou uma marca tão forte nos EUA e atravessou 8 presidentes, esperava-se que o resultado alcançado fosse bem melhor.

Nota: 6,5 

Assista ao trailer: