quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

"Memórias Luso/Africanas" - Gui Amabis - 2011


O músico e compositor paulista Gui Amabis conduziu sua carreira pelo caminho das trilhas sonoras. Esteve envolvido na televisão em trabalhos como “Cidade dos Homens”, assim como em filmes nacionais (“Quincas Berro D’Água”) e gringos (“Senhor das Armas”). Em 2008 se juntou a Céu (sua esposa), Dengue, Pupillo e Lúcio Maia (Nação Zumbi) e o irmão Rica Amabis (Instituto) para lançar um projeto intitulado Sonantes, que primeiro saiu lá fora para somente depois aparecer em edição tupiniquim.

Por fora disso, mais ou menos desde meados de 2007, vinha lapidando um projeto próprio que nasceu no ano passado. “Memórias Luso/Africanas” surgiu de modo independente e com disponibilização gratuita no site oficial (http://guiamabis.com). O álbum vem caracterizado, não de modo surpreendente, como uma engrenagem de um filme inspirado nas lembranças do artista e com um olhar enraizado nas origens do povo brasileiro e nas influências herdadas durante o decorrer dos tempos.

Para transpor suas ideias na parte vocal ele convidou para cantar a esposa Céu, além de amigos como Criolo, Tulipa Ruiz e Lucas Santtana. Já para auxiliá-lo na montagem dos sons pretendidos, músicos como Thiago França (sax), Régis Damasceno (guitarra), Curumin (bateria), Samuel Fraga (bateria), Dengue (baixo) e Rodrigo Campos (violão) foram convidados para participar. O resultado disso são 10 faixas que impulsionam a música para uma esfera repleta de nuances e explorações.

“Memórias Luso/Africanas” abre com “Dois Inimigos”, cheia de tensão nos teclados e uma letra que trata de dificuldades e uma “batalha que continua franca e aberta”. Em “Orquídea Ruiva” Sinhá se debruça sobre falas, enquanto Criolo submete sonho e desejo em um vocal surpreendente. “Sal e Amor” é alegre e ensolarada com Tulipa Ruiz no comando, ao passo que “Swell” monta uma cama quebrada para Céu “correr por toda a pele tentando encontrar um poro aberto para se infiltrar”.

“Ao Mar” brinca com o jazz e novamente vem mais suave na voz de Tulipa Ruiz, fazendo analogias com o mar e aplaudindo o amor. “Doce Demora” mistura valsa e tango e “O Deus Que Devasta Mas Também Cura” surge com uma excelente participação de Lucas Santtana. Para fechar vem a tríade “Imigrantes” (com belo vocal de Tiganá se sobressaindo), a angustiante homenagem ao músico etíope Mulatu Astatke com Criolo em “Para Mulatu” e o tema quase instrumental de “Fim de Tarde”.

Em pouco mais de 30 minutos (e claro contando com a ajuda dos convidados citados anteriormente), Gui Amabis faz uma estreia digna de alguém devidamente graduado na escola da música. “Memórias Luso/Africanas” é uma obra que transpõe tudo que deseja, indo da homenagem aos ancestrais até a aflição das texturas sonoras e que honra o significado da palavra encanto. E no final é um disco que pede urgentemente para que alguém crie um filme em cima das suas canções e versos.

Nota: 8,0

Baixe o disco gratuitamente no site oficial: http://guiamabis.com

Assista a um vídeo com “Sal e Amor”:



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