Em um determinado momento de “As
Aventuras de Tintim”, que estreia somente agora nos cinemas nacionais, o personagem
principal (Jamie Bell de “Billy Elliot”) está cabisbaixo e parece querer
desistir. É quando o capitão Haddock (Andy Serkis de “O Senhor Dos Anéis”) chega
com um discurso atrapalhado, mas não menos envolvente, instruindo o jovem repórter
a seguir em frente e até atravessar muros e paredes se for preciso, o que serve
de combustível suficiente para que isso realmente ocorra.
Essa passagem resume bem o típico
herói que o diretor Steven Spielberg tanto gosta de apresentar. O herói que
mesmo apesar das adversidades e do tempo correndo contra ele, arruma uma
maneira de seguir em frente, sempre obstinado a conseguir seu objetivo. Longe
da direção desde o apenas razoável “Indiana Jones e o Reino da Caveira de
Cristal” de 2008, Spielberg retorna com uma animação concebida em cima da
criação de 1929 do belga Georges Prosper Remi, mais conhecido como Hergé.
O primeiro dos três filmes
propostos por Spielberg e Peter Jackson (que é produtor do primeiro e dirigirá
o segundo) é diretamente baseado em dois álbuns de Tintim: “O Segredo do
Licorne” de 1943 e “O Tesouro de Rackham, o Terrível” de 1944. Assim, encontra
Tintim envolvido em uma trama repleta de segredos e mistérios, abrangendo um tesouro
escondido em três miniaturas de navios originários de ancestrais do Capitão
Haddock e perseguido pelo vilão Sakharine (o 007 Daniel Craig).
Tintim nessa nova encarnação é
uma mistura eficiente das invencionices de MacGyver (para quem não sabe quem é,
passe aqui), do raciocínio rápido de Sherlock Holmes e da agilidade e
treinamento de algum agente secreto. Seu inseparável fox terrier Milu aparece
como nos quadrinhos salvando a pele do dono vez ou outra, assim como apreciando
um uísque. Figuras clássicas como os atrapalhados detetives gêmeos Dupond e
Dupont também fazem parte do trabalho, e claro, criam confusão atrás de
confusão.
Na caminhada atrás de resolver o
mistério do tesouro do Licorne, Tintim se depara com as mais incríveis aventuras
que passam por céu, terra e mar. Steven Spielberg parece ter redescoberto a sua
habilidade de construir cenas em ritmos acelerados e com charme e gosto bem
peculiares de outros tempos. O roteiro de Steven Moffat (da série “Sherlock”),
Edgar Wright (“Scott Pilgrim Contra o Mundo”) e Joe Comish (“Ataque Ao Prédio”),
mesmo não sendo assim um primor, colabora bem para o desenvolvimento.
“As Aventuras de Tintim” é mais
um bonito exemplo do que a tecnologia de captura de movimentos pode
proporcionar ao cinema, como Robert Zemeckis já havia demonstrado em “O
Expresso Polar” de 2004 e “Os Fantasmas de Scrooge” de 2009 e merece ser melhor
explorada. Mesmo com algumas situações maçantes (como a passagem no deserto),
Steven Spielberg atinge o alvo e promove uma aventura com boas recordações das
suas mais inspiradas produções e agrada tanto jovens quanto adultos mais
castigados.
Nota: 7,5
Assista ao trailer:
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