Eric Dale (Stanley Tucci) está em
frente ao computador de trabalho, com olhar compenetrado no que vê. Nada parece
distinguir esse dia de outro dos últimos 19 anos em que é funcionário da mesma
empresa, até ser chamado por uma pessoa que nunca viu antes que vem lhe
explicar que está demitido (uma pessoa como o Ryan Bingham de “Amor Sem Escalas”).
Lá ele ouve sobre o desligamento, fica com raiva, mas aceita. Antes de sair do
prédio encontra um dos subordinados e entrega um arquivo em que trabalhava. Pede
“cuidado” quando for analisar.
Estamos em setembro de 2008 em
plena Wall Street, um dia antes de emergir a pior crise da história estadunidense
desde o ano de 1929. A crise que derrubou titãs do mercado financeiro como o
banco de investimentos Lehman Brothers (no qual o longa parece livremente se inspirar).
E é nesse calamitoso dia que o estreante diretor (e roteirista) J.C. Chandor
fez nascer “Margin Call - O Dia Antes do Fim”, um filme que tem a habilidade de
balancear estreitos dramas pessoais com o cenário maior que irá se desencadear
para milhares de cidadãos.
O arquivo que Eric Dale trabalhava
preocupado cai nas mãos do talentoso Peter Sullivan (Zachary Quinto, o Sylar da
série “Heroes”) e ele por curiosidade e ambição se debruça nele para concluir.
Para tanto, vara a madrugada. O resultado é que parece não ser nada animador, aliás,
é completamente alarmante. Os números e projeções indicam que o patrimônio da
empresa caminha para a desvalorização quase total, o que significa um
desmoronamento rápido e absoluto, causado pela falta de compromisso e de zelo
com as regras do mercado.
Ao pressentir a merda que se
encaminha para o ventilador, Peter chama o chefe (Paul Bettany) de uma farra e
depois todo o alto escalão é convocado como se fosse uma boneca russa se
sobrepondo. Primeiro o diretor da seção Sam Rogers (Kevin Spacey), em seguida
seu superior Simon Baker (Jared Cohen) e no final mais uma diretora (Demi
Moore) e o grande leão da selva, o presidente (ou CEO, como preferir) John Tuld
(Jeremy Irons). Em uma reunião farta de cobranças e medo, soluções são buscadas
sem se ater a ideia do que é correto, apenas de resistir.
“Margin Call” é uma fotografia
bem batida da podridão e egoísmo que o dinheiro faz despertar no ser humano. Em
um lugar onde alguns lucram milhões por ano, de nada importa as pessoas que
andam pelas ruas sem saber o que vai acontecer no próximo dia, como avalia em
certa passagem o personagem de Zachary Quinto. Ao lado de “Trabalho Interno” de
Charles Ferguson, o filme de J.C. Chandor forma um panorama abundante da
linguagem que os chefões do mercado financeiro dominante no mundo conhecem. A
linguagem do lucro e da sobrevivência.
Assista ao trailer:
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