O que tem em comum o poeta
português Fernando Pessoa, o militar brasileiro Filinto Müller e o mago inglês
Aleister Crowley? Tirando alguns delírios mais desastrosos, não muito a ser
compartilhado, sem dúvida. A exceção que une esses três nomes fica por conta de
“As Esganadas”, o novo romance de Jô Soares (Companhia das Letras, 264 páginas)
que utiliza em alguns momentos aparições dessas figuras históricas para
construir sua trama.
No seu quarto livro, o humorista
e entrevistador retorna a visão para um serial killer, que dessa vez sai a
cometer atrocidades no Rio de Janeiro dos anos 30. O alvo desses crimes são
donzelas que não primam por silhuetas charmosas e pequeno apetite, mas sim
corpos roliços e uma fome quase inesgotável. Assim como gosta de fazer, Jô
Soares expõe logo o assassino para o leitor e assim o insere dentro da caçada
que percorre os variados capítulos.
Como é costumeiro nos seus
romances, Jô Soares cria alguns personagens impecáveis e repletos de idiossincrasias
quase freudianas. Os maiores acertos dessa nova empreitada ficam por conta de
um anão que além de trabalhar em um circo é um exímio cantor de ópera e a do
responsável pelas mortes, o dono de uma prestigiada empresa funerária que recebe
o apropriado nome de Caronte (mais aqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/Caronte).
Nesse pequeno universo de personagens
bem sacados existe espaço também para o bonachão detetive Tobias Esteves, um
rico português que ajuda na resolução dos casos e o impagável ajudante de
Caronte, mais conhecido na Lapa como Cu de Veludo. Porém, “As Esganadas” sofre
o mesmo problema dos trabalhos anteriores do autor: não consegue funcionar como
história, apesar dos acertos na construção dos envolvidos no desenrolar dos
fatos.
A trama não flui bem e
além de tudo repete várias facetas e vícios do autor, como o uso dos mesmos
lugares (Confeitaria Colombo, por exemplo) e os maneirismos estereotipados de detetive a lá
Sherlock Holmes. Mesmo divertindo vez ou outra, “As Esganadas” é um livro
apenas razoável e que até resolve o problema de uma sala de espera, mas não
pode ambicionar ser mais que isso. Ainda não foi dessa vez que Jô Soares conseguiu
unir seus (bons) personagens com uma (boa) história. Fica para a próxima.
Teaser do livro:
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