Stephen Malkmus é uma espécie de herói
indie. Dentro daquilo que se convencionou a estipular como o universo habitado
por essa, digamos assim, comunidade dos fãs de música, esse californiano de 45
anos é um dos nomes mais importantes. Tudo por conta do Pavement, banda que com
ele a frente lançou discos poderosos no decorrer dos anos 90, o que serviu
tanto para redefinir um pouco da estética de ser alternativo, quanto reforçar paradigmas
já existentes.
Depois de anunciar seu término em
2000, o Pavement retornou para uma turnê mundial com um status de grande banda
que nunca teve na época em que vivia no mercado alternativo. Com shows estupendos
na grande maioria das vezes (inclusive no Brasil), a trupe aproveitou para
fazer uma grana e também lançar uma coletânea. A expectativa então era de que
um novo álbum pudesse ser concebido, mas para infelicidade dos seus seguidores,
isso não ocorreu.
O que realmente aconteceu foi que
Stephen Malkmus reuniu novamente o The Jicks, grupo de apoio que lhe acompanha
desde a estreia solo, para gravar um novo disco. Mike Clark na guitarra e
teclados, Joanna Bolme no baixo e Janet Weiss na bateria (que depois saiu para
a entrada de Jake Morris) são os parceiros que fizeram “Mirror Traffic”
existir. A banda, mais uma vez não se aventura muito sozinha e segue somente a
musicalidade proposta pelo líder.
“Mirror Traffic” é sem sombra de
dúvida o disco mais acessível da carreira solo de Stephen Malkmus. A produção de
Beck contribui (até meio paradoxalmente) para uma carga menor de
experimentações e viagens sonoras, tais quais foram ouvidas em “Real Emotional
Trash” de 2008. Ainda existem canções acima de 5 minutos (“Brain Gallop”, “Share
The Red” e “Gorgeous Georgie”), no entanto, o maior percentual é de canções
curtas e com um apelo pop acentuado.
O álbum começa com “Tigers”, que
já entra pelo meio e traz o vocal repleto dos habituais falsetes e trejeitos para
passar por momentos até então desconhecidos da faceta do músico, como em “No
One Is (As I Are Be)”, construída no violão com direito a metais e lembrando um
indie pop (quase) dócil. O lado ácido também se faz presente. Em “Senator”, temos
uma homenagem ao democrata Anthony Weiner que se envolveu em um escândalo com
fotos, twitter e universitárias nos USA.
No decorrer das 15 canções de “Mirror
Traffic” percebe-se que a inquietude e o complexo de Peter Pan de Malkmus diminuiu.
Não que as maluquices tenham ido embora (confira “Jumblegloss e “Spazz”, por
exemplo), mas são mais administráveis. Mesmo que tardiamente e para desespero
de muitos dos antigos fãs, ele finalmente cresceu e o resultado disso é um
trabalho que se não ajudará em nada para aumentar a aura de herói, é
extremamente prazeroso de ser ouvido.
Site oficial: http://stephenmalkmus.com
Assista ao clipe de “Senator” (com Jack Black):
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