Desde
tempos imemoriais a morte desperta as mais diversas sensações na humanidade. Desde
Caim e Abel, passando pelas guerras épicas travadas entre povos durante os
tempos, envergando pelas tragédias e desastres e indo até aquele ente querido
que partiu nos deixando para trás. A morte revela medo, pânico, desânimo,
incapacidade, revolta, dor. Imagine tratar com ela diariamente na sua mesa de
trabalho? Essa é a vida de Brás de Oliva Domingos.
Brás
é o personagem principal de “Daytripper”, a premiada graphic novel dos gêmeos
paulistanos Fábio Moon e Gabriel Bá. Lançada nos Estados Unidos pelo selo
Vertigo da DC Comics em 10 volumes, a série ganha edição única nacionalmente
pelas mãos da Editora Panini, que coloca no mercado um bonito encadernado de
260 páginas com capa dura e formato americano. A publicação levou o prêmio
Eisner esse ano, o maior disponível no mundo dos quadrinhos.
Fábio
Moon e Gabriel Bá já haviam ganho outros prêmios importantes anteriormente
(inclusive o próprio Eisner), mas em categorias menores ou em trabalhos
individuais. É em “Daytripper” que eles atingem o ponto máximo da carreira até
aqui e se tornam imensamente relevantes para o quadrinho nacional. A pergunta
que se faz depois de ler os preâmbulos é: A obra é realmente merecedora de tudo
isso? E a resposta é sim. Merece cada simples centímetro.
Com a
ajuda luxuosa do colorista Dave Stewart (Superman, Demolidor, Conan), os irmãos
forjaram uma história emocionante, intensa e delicada. Acompanham Brás de Oliva
Domingos em 10 momentos da vida, que se alternam entre infância, adolescência,
juventude, fase adulta e já velho. Em todas essas fases (ou dias em alguns
casos), o processo de finitude está presente, mesmo depois de grandes alegrias como
o nascimento de um filho.
Em sua
mesa redigindo obituários para um jornal, o personagem principal anseia por
sair da sombra do pai (um escritor famoso) e de todos os fantasmas que ainda
lhe assustam. O tom das conversas e o semblante que carrega é de uma esperança
calculada e de sonhos que foram deixados para trás. Mesmo quando a vida engrena
ou quando a infância feliz é retratada, essa felicidade sempre aparece
entrecortada por anseios e desejos não usufruídos.
A
transição do jovem que queria falar da vida e acaba em certo momento escrevendo
sobre a morte é belamente retratada nos traços, textos e cores de “Daytripper”.
Uma obra que mexe com o leitor como poucas e que faz pensar sobre a vida com
extrema sensibilidade. Consegue ir além do lugar comum e valoriza o dia a dia
de cada um naquelas coisas pequenas e cotidianas que são o que fazem, lá no
fundo, temermos tanto a morte que se espreita mais a frente.
Site
da Panini sobre: http://web.hotsitepanini.com.br/vertigo/series/daytripper
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