segunda-feira, 19 de setembro de 2011

"Daytripper" - Fábio Moon e Gabriel Bá


Desde tempos imemoriais a morte desperta as mais diversas sensações na humanidade. Desde Caim e Abel, passando pelas guerras épicas travadas entre povos durante os tempos, envergando pelas tragédias e desastres e indo até aquele ente querido que partiu nos deixando para trás. A morte revela medo, pânico, desânimo, incapacidade, revolta, dor. Imagine tratar com ela diariamente na sua mesa de trabalho? Essa é a vida de Brás de Oliva Domingos.

Brás é o personagem principal de “Daytripper”, a premiada graphic novel dos gêmeos paulistanos Fábio Moon e Gabriel Bá. Lançada nos Estados Unidos pelo selo Vertigo da DC Comics em 10 volumes, a série ganha edição única nacionalmente pelas mãos da Editora Panini, que coloca no mercado um bonito encadernado de 260 páginas com capa dura e formato americano. A publicação levou o prêmio Eisner esse ano, o maior disponível no mundo dos quadrinhos.

Fábio Moon e Gabriel Bá já haviam ganho outros prêmios importantes anteriormente (inclusive o próprio Eisner), mas em categorias menores ou em trabalhos individuais. É em “Daytripper” que eles atingem o ponto máximo da carreira até aqui e se tornam imensamente relevantes para o quadrinho nacional. A pergunta que se faz depois de ler os preâmbulos é: A obra é realmente merecedora de tudo isso? E a resposta é sim. Merece cada simples centímetro.

Com a ajuda luxuosa do colorista Dave Stewart (Superman, Demolidor, Conan), os irmãos forjaram uma história emocionante, intensa e delicada. Acompanham Brás de Oliva Domingos em 10 momentos da vida, que se alternam entre infância, adolescência, juventude, fase adulta e já velho. Em todas essas fases (ou dias em alguns casos), o processo de finitude está presente, mesmo depois de grandes alegrias como o nascimento de um filho.

Em sua mesa redigindo obituários para um jornal, o personagem principal anseia por sair da sombra do pai (um escritor famoso) e de todos os fantasmas que ainda lhe assustam. O tom das conversas e o semblante que carrega é de uma esperança calculada e de sonhos que foram deixados para trás. Mesmo quando a vida engrena ou quando a infância feliz é retratada, essa felicidade sempre aparece entrecortada por anseios e desejos não usufruídos.

A transição do jovem que queria falar da vida e acaba em certo momento escrevendo sobre a morte é belamente retratada nos traços, textos e cores de “Daytripper”. Uma obra que mexe com o leitor como poucas e que faz pensar sobre a vida com extrema sensibilidade. Consegue ir além do lugar comum e valoriza o dia a dia de cada um naquelas coisas pequenas e cotidianas que são o que fazem, lá no fundo, temermos tanto a morte que se espreita mais a frente.

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