A pedofilia é uma perversão
sexual que resulta em crime na maioria dos países. A manutenção de relações com
crianças que ainda não chegaram a puberdade é uma dor de cabeça constante para
a polícia, um comércio que se alastra não só fisicamente, mas através da
pornografia pela internet. É baseado nesse assunto e nas suas correlações que o
escritor escocês Irvine Welsh (de “Trainspotting”) ambienta “Crime”, seu mais
recente romance.
O livro ganhou edição na Grã
Bretanha em 2008 e só agora chega ao Brasil pelas mãos da Editora Rocco. Com
416 páginas e tradução conjunta de Paulo Reis e Sergio Moraes Rego, mostra um
escritor novamente demonstrando relevância depois de algumas obras bem medianas
como “Se Você Gostou da Escola, Vai Adorar Trabalhar”. Irvine Welsh sai da sua
zona de conforto e viaja para Miami na Flórida, USA, para contar uma suja história
policial.
Ray Lennox é um detetive da divisão
de crimes hediondos em Edimburgo na Escócia (e já havia aparecido em um livro
anterior do autor). Fanático torcedor do Hearts está completamente estafado
depois de solucionar um caso de um serial killer que após sequestrar jovens
crianças, as estuprava, gravava e matava. O caso levou ele até o último nível
de um esgotamento total e o deixou agressivo e mais dependente de drogas como a
cocaína e o álcool.
Vendo o seu estado deplorável, o
chefe da divisão lhe manda sair de férias com a noiva Trudi para descansar e
retomar a linha. A noiva escolhe a ensolarada Miami para uma viagem que visa
também traçar os planos do futuro casório. Mas Lennox ainda está perturbado
mentalmente e dependente de pílulas, sendo que acaba se envolvendo em mais um
caso de pedofilia, dessa vez em uma rede que atua usando crianças de 3 estados
distintos.
No universo de “Crime”, Irvine
Welsh continua tratando da rede de miseráveis que sempre lhe foi familiar e não
deixa de forçar a barra com drogas, álcool e outros vícios e fraquezas do ser
humano. Porém, dá uma certa aliviada e opta por deixar as coisas mais perturbadoras
utilizando o lado psicológico dos personagens, variando constantemente entre
medo e paranoia, o que deixa tudo cinza, sem saber ao certo o que esses personagens
procuram.
Ray Lennox é o típico anti-herói,
só que carrega consigo tantos segredos e dúvidas que até para tentar salvar a pátria
passa por uma jornada em que não deixa de afogar-se nas suas falhas. O tema
(bastante) espinhoso escolhido pelo autor é sabiamente explorado e envolve o
leitor em uma trama policial que traz surpresas e pessoas completamente vulneráveis
em meio a um sol forte e desgastante. Um sol que serviu também para revigorar a
literatura de um ótimo escritor.
Sobre “Se Você Gostou da Escola,
Vai Adorar Trabalhar”, passe aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário