quinta-feira, 2 de junho de 2011

"Um Lugar Qualquer" - 2011


Se alguém perguntar para um adolescente em qualquer lugar do mundo se ele quer ser um ator famoso de Hollywood quando crescer, tem boas chances da resposta trazer uma afirmativa. Por mais que a aura de glamour não seja a mesma de outrora, ainda atrai desejos e sonhos. Virar uma celebridade e ser reconhecido por onde passar, com fama suficiente para arremessar belas mulheres aos seus pés enquanto é adulado por vários assessores, ainda carrega seu charme.

Em “Um Lugar Qualquer” Sofia Coppola pega esse resquício de glamour e desmonta em pequenos pedaços de vazio e insatisfação. O mais recente filme da cineasta foi lançado em DVD e mostra Stephen Dorff (“Backbeat – Os 5 Rapazes de Liverpool”) como Johnny Marco, um famoso ator que mora em um disputado hotel de Los Angeles enquanto divulga o último trabalho. Tudo que o mundo das celebridades tem a oferecer está disponível para ele em grandes doses.

Acontece que o mundo de Johnny Marco é plastificado e sem sal. Caminha entre uma ação de marketing e outra com a marcha engatada no piloto automático. Nos intervalos em que precisa viver e produzir algo fora do seu trabalho opta por encher a cara ali, transar com uma bela dama aqui e assim segue. Com a direção espaçada e sem muitos diálogos, Sofia Coppola vai atiçando o espectador ao levar o ator em situações que mesmo incomodado, não toma outros caminhos.

No meio dos sorrisos forçados ele recebe a filha Cleo (Elle Fanning de “O Curioso Caso de Benjamin Button”) para passar uma temporada depois que a mãe resolve sumir. A menina de 11 anos começa a fazer que ele questione a forma que vem guiando a vida, por mais que isso seja um processo lento e demorado. A situação tão utilizada no cinema e na literatura em geral, é desenvolvida com a já conhecida predileção de Sofia Coppola pelo silêncio e ganha molduras consistentes.

O tema do longa carrega muito de autobiográfico ao trazer a relação entre pai e filha, já que a cineasta passou por situações bastante parecidas no decorrer dos anos 70 e da primeira metade dos 80. Também exibe praticamente a mesma espinha dorsal de alguns dos seus filmes anteriores, como por exemplo, a solidão no meio de um mar de pessoas e a falta de algo próximo do que pode ser concebido como felicidade. Exibe vidas em que falta o essencial, falta um diferencial.

Em “Um Lugar Qualquer” Sofia Coppola elabora mais uma pequena e singela obra prima. Um trabalho para ser assistido com calma e sem pressa e compensa com sobras o fiasco de “Maria Antonieta” de 2006. Desde a ótima trilha sonora (Foo Fighters, T.Rex, The Strokes) até os momentos de uma libertação dúbia no final, mostra que a vida nem sempre é representada por aquilo que conseguimos e nos cerca, o que pode parecer banal e sonhador, mas também pode ser bem real.

Nenhum comentário: