Uma pessoa pode ser definida além do seu caráter e índole pelos seus gostos, preferências, pequenas particularidades e maneiras de fazer as coisas mais cotidianas. Quando se retira isso de qualquer um que seja e passa a igualar essas preferências e manias com as de outros, a própria personalidade do indivíduo se esvai e este passa a fazer parte de uma espécie de rebanho conduzido por forças maiores de qualquer esfera. A prisão é craque em fazer isso.
O quadrinista japonês Kazuichi Hanawa passou por isso aos 52 anos. Em 1994 foi condenado a três anos de cadeia por um episódio envolvendo armas de fogo e uma dose considerável de excentricidade. Forçado a passar esses dias em uma prisão do norte do país, se viu conduzido a um universo novo em que os desejos individuais são suprimidos em prol da disciplina e da ordem. Nada, mas nada mesmo, pode estar destoando dos demais.
Ao sair desse período, Hanawa colocou todas essas impressões em um mangá lançado originalmente em 2000 e que ganhou edição nacional pelas mãos da Editora Conrad por aqui em 2005. Em 248 páginas desenhadas em preto e branco com a forte utilização de um estilo rascunhado e com sombras, o autor foge do seu tradicional recanto de criação (erotismo e fantasia principalmente), para criar uma obra que trata da descaracterização do ser humano.
A cadeia retratada em “Na Prisão” não é daquelas em que seus “habitantes” são obrigados a lidar com os desmandos e atrocidades dos carcereiros, mas sim com um forte adestramento de casualidades e conduta. Apesar de terem comida farta os presos passam por quase uma lobotomização, já que a quantidade de normas e regras são extensas e se aplicam a praticamente tudo. A pressão talvez seja até mais forte e intensa por esses motivos.
“Na Prisão” também mostra em segundo plano o destino do preso, que fica até contente por estar ali já que não tem para onde ir, o que se correlaciona diretamente com a função do governo nessa recuperação e os gastos com que esse sistema onera os cofres públicos. Depois de ler o mangá de Kazuichi Hanawa é fácil traçar paralelos com obras futurísticas que versam sobre a anulação da personalidade do ser humano, afinal o futuro sempre está bem ali na esquina.
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