Quando a leitura de “Um Dia” do inglês David Nicholls está prestes a iniciar é necessário se deparar com um vasto número de citações retiradas de críticas em jornais e revistas, assim como de autores como Nick Hornby e Tony Parsons. Essas citações estão dispostas na capa, contracapa e nas páginas iniciais afirmando em letras garrafais que se você não gostar do livro, com certeza é um idiota que não sabe apreciar “um clássico moderno” como afirmou o Daily Mirror.
Com lançamento nacional esse ano pela editora Intrínseca (416 páginas), o terceiro romance de David Nicholls conta a história de Dexter e Emma, que na noite da formatura dormem juntos e iniciam uma relação de amor e amizade que vai perdurar pelos próximos anos. Dexter é um jovem cheio de charme que almeja viver a vida e Emma é estudiosa e cheia de sonhos e boas causas para defender. Entre o dia que amanhece lá fora e o sono que chega, vivem um momento único.
Com início em um 15 de julho, o autor leva a narrativa para esse mesmo dia nos anos subseqüentes e consegue demonstrar como cada pessoa se transforma com o passar do tempo e deixa para trás as coisas da juventude para se apegar em outras mais corriqueiras e cotidianas. Ao crescer junto e de acordo com seus personagens fala diretamente a uma turma que está hoje entre os 30 e 40 anos, sem ostentar (ainda bem) ser o retrato fiel e exato de uma geração.
“Um Dia” virou um filme que estreia no segundo semestre e apresentará Anne Hattaway e Jim Strugess nos papeis principais, sendo que devido a recepção que teve no Reino Unido e aliado com o roteiro funcional adaptado pelo próprio autor, tem tudo para causar também algum rebuliço. Entretanto, quando a leitura chega ao fim parece que a obra recebeu superlativos demasiados. É atraente, divertido e com uma bonita aura triste, mas nada que chegue longe disso.
A condução do texto lembra vários outros autores como os já citados Nick Hornby e Tony Parsons (esse segundo principalmente em características de Dexter), além de Helen Fielding (no que tange a Emma) e os filmes de Richard Linklater (“Antes do Amanhecer”/“Antes do Pôr-do-sol”). Isso para ficar apenas nos mais óbvios. A fórmula envolve dúvidas, sarcasmo, cinismo e referências da cultura pop funcionando em prol de um romance complicado e quase intangível.
“Um Dia” é um bom livro e demonstra sacadas interessantes, deixando ao leitor chances de se identificar com várias passagens e olhar para a sua própria vida de repente e lembrar, sorrir e chorar. Se um grande amor passou pela juventude, com certeza não se passará impune. Porém, não é nada além disso e não carrega em seu corpo toques de extraordinário. Histórias como a de Dexter e Emma são bonitas e emocionam, mas não podem almejar ser mais que isso.
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