Dá para imaginar a cena. Michael Stipe, Peter Buck e Mike Mills batem um papo sobre os rumos do R.E.M. “E aí, vamos gravar um disco novo?”, alguém deve perguntar em dado momento. Amigos acima de tudo, o trio toma um café aqui, enverga uma cerva ali e começa a programar o próximo álbum. “E quem vai produzir?”, ouve-se lá pelo meio. “Chama o Lee de novo, acho que estamos bem com ele”, alguém responde. “É mesmo. Vamos em frente então”.
Um disco novo do R.E.M. se não for inicialmente concebido assim, passa bem perto. A tranqüilidade que 30 anos de carreira trazem não é para se jogar fora, ainda mais para quem provavelmente deve ser a melhor banda da sua geração. São anos e anos caminhando na estrada sem se machucar muito e sem fazer algo em que não se acredita. Até a decisão de não sair em turnê em tempos em que todo mundo circula por aí, mostra que no R.E.M. nada se impõe.
“Collapse Into Now” traz doze faixas que compõem um disco ótimo e quase perfeito. Com produção de Garret “Jacknife” Lee (de “Accelerate” de 2008 e “Live At The Olympia” de 2009), o álbum foi gravado e masterizado em berços importantes da música como New Orleans e Nashville nos USA e no Hansa Studios em Berlim, berço de obras fantásticas como o “Heroes” de David Bowie e o “Lust For Life” do Iggy Pop. É fato que isso contagiou ainda mais o ar.
O R.E.M. sempre foi craque em abrir seus trabalhos e mais uma vez faz essa proeza. Em “Discoverer” Michael Stipe canta “Hey baby, isso não é um desafio/Significa apenas que eu te amo (...) Eu estava errado/Eu tenho sido um ridículo errado” para depois do clima inicial uma guitarra à la “Finest Worksong” aparecer e dar o toque especial característico da casa. Para quem conhece a banda desde o início é diversão garantida procurar ecos de outras fases pelas faixas.
“Collapse Into Now” tem um pouco de cada R.E.M. que nos foi apresentado desde “Chronic Town”, o EP de estréia em 1982. No entanto, pode ser entendido mais como a soma do “New Adventures in Hi-Fi” de 1996 e do “Accelerate” de 2008, com porções do “Document” de 1987. “All The Best”, “Mine Smell Like Honey”, “That Someone Is You” e “Alligator Aviator Autopilot Antimatter”, por exemplo, podiam pela urgência e melodia estar no último disco de 2008.
Já “Überlin” (presença garantida nas próximas coletâneas), “Every Day Is Yours To Win” e a climática e poderosa “Blue” que encerra o disco com Michael Stipe e Patti Smith duelando em uma base caótica e densa, poderiam ser da safra do “New Adventures In Hi-Fi”. Do lado mais tranqüilo temos a bela “Oh My Heart” (em show de Stipe, Buck e Mills), “Walk It Back”, “Me, Marlon Brando, Marlon Brando And I” e o pop ensolarado e melancólico de “It Happened Today”.
Ao acabar de escutar “Collapse Into Now”, também não fica difícil de imaginar uma cena ao final das gravações entre os músicos e o produtor. Alguém diz: “É, ficou bom, gostei do resultado”. Outro retruca: “Mas não ficou igual a coisas do passado? Será que vão gostar?”. “Fizemos um belo disco, nosso melhor em anos e fizemos isso com carinho e empenho. Se nós gostamos, é claro que vão gostar.” Pode parecer ingênuo, mas para o R.E.M funciona sempre assim. O mundo agradece.
Sobre o Accelerate de 2008, passe aqui.
Site oficial: http://remhq.com
Um comentário:
Ainda tenho que ouvir esse disco. Valeu pelo texto.
Postar um comentário