O mundo é um lugar repleto de podridão e sujeira com gente fazendo de tudo para se dar bem de qualquer modo. Danem-se a ética, os bons costumes e a compaixão. O que importa é grana no bolso, o resto é balela. Mas você já sabia disso não? Basta dar uma olhadinha mais atenta nas notícias da tevê ou internet e no mundo a sua volta que fica fácil perceber. E mesmo que ainda haja bondade espalhada por aí, ela parece cada vez mais encoberta por essa imensa carga de lama.
Disponível em DVD, o filme argentino “Abutres” de Pablo Trapero (de “Leonera” e “Nascido e Criado”) é mais um exemplo do rumo que a humanidade insiste em percorrer. No longa são explorados os acidentes de trânsito no país, que causam mais de 20 mortes por dia, passa dos 600 por mês e na última década alcançou a incrível marca de 100.000 casos fatais. Uma guerra silenciosamente travada, que como todo guerra gera dividendos e lucros oriundos da dor e sofrimento.
Sosa (Ricardo Dárin) é um advogado que perdeu a sua carteira profissional por algum motivo não contado e hoje ganha a vida trabalhando em uma empresa que cuida das indenizações dos acidentes ocorridos. Ele é um dos “abutres” do título e não mede esforços para conseguir representar as famílias, assim como forjar causas contra as seguradoras. Tem esquema com a polícia, hospitais, paramédicos, mecânicos. Nada passa impune e todo mundo leva o seu no processo.
Cansado (mas não arrependido), ele resolve sair dessa máfia depois que um caso dá terrivelmente errado. Mas como se sabe, nessas situações não é tão simples assim cair fora quando se quer. No meio disso ele vê em Lújan (Martina Gusman, que já trabalhou em outros filmes do diretor) um fato novo, uma paixão que deixa o seu mundo um pouco menos infesto. Porém, enquanto a calma vem é fácil perceber que uma grande tempestade já se avizinha no horizonte.
Além de um roteiro bem conduzido e um final que não apela para saídas fáceis, o grande esteio no qual “Abutres” se ampara é a atuação de Ricardo Dárin. Impressiona como esse cara se tornou um grande ator. Em filmes mais antigos como “Nove Rainhas” de 2000 e “O Filho da Noiva” de 2001 isso já transparecia, mas é em trabalhos recentes como esse “Abutres”, além do excelente “O Segredo Dos Seus Olhos” de 2010 e “XXY” de 2007, que isso ganha muito mais força.
A direção de Pablo Trapero não deixa dúvidas que o perdão não tem lugar em “Abutres” e a redenção que seria um sonho quase impossível, mesmo assim não é tão desejada como deveria. Todos se sujam, só depende se trará beneficio ou não. Ideais são arremessados no ralo quando se percebe que o que está em jogo é o seu lado. Até as boas ações que parecem querer surgir aqui e ali são cortadas na primeira chance. Afinal, não tá fácil pra ninguém não é mesmo?
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