quinta-feira, 31 de março de 2011

"Incêndios" - 2011

O escritor português Eça de Queiroz disse certa vez que “a todo viver corresponde um sofrer”. Essa frase pode ser diretamente remetida ao longa canadense “Incêndios”, que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro desse ano. Nele a dor e o sofrimento estão ali presentes e vivos a todo o momento, optando por aparecer de modo mais calado, sem muitos gritos ou exageros dramáticos.
O experiente diretor Denis Villeneuve (pouco conhecido por aqui) nos mostra um filme em que as correlações entre passado e presente não são de modo algum gratuitas e bate na porta da estupidez humana. Para ambientar ainda mais o clima utiliza músicas do Radiohead como “You And Whose Army?” e “Like Spinning Plates” na trilha sonora. Os versos de Thom Yorke se encaixam perfeitamente.
“Incêndios” inicialmente é a história dos gêmeos Simon Marwan (Maxim Gaudette) e Jeanne Marwan (Mélissa Désormeaux-Poulin), mas logo se estende para a vida da mãe deles, Nawal Marwan (Lubna Azabal). Ao falecer a mãe deixa um testamento no qual imprime tarefas a seus rebentos que podem escancarar um passado desconhecido. Inicia-se uma viagem que não tem bilhete de retorno.
Com o tom do suspense se espalhando pela película, Denis Villeneuve entrecorta passagens da busca dos gêmeos pelo irmão e pai desconhecidos com flashbacks que narram a vida da mãe na juventude no Líbano, antes da eclosão da guerra civil dos anos 70. Entre costumes de um povo e absurdos de violência da guerra em si, adicionam-se fatos que vão surpreendendo os rumos de toda a trama.
O tema desenvolvido poderia levar para o campo do dramalhão sensacionalista, mas opta por uma estrada mais límpida, porém não menos angustiante e dolorosa. A atuação dos atores corrobora esse clima e são monocromáticas. O sofrimento e a provação que se visualiza ganha uma carga ainda mais dura pela forma que esses personagens lidam com o assunto, incomodando a cada momento.
“Incêndios” é um grande filme com direção e elenco trabalhando em alto nível. Seu único pecado é tentar explicar demais o final dos acontecimentos quando ele já aparece de maneira subliminar. No entanto, isso não retira o brilho do filme de Denis Villeneuve, que mesmo sendo pesado acaba transparecendo isso de maneira consistente sem ir pelo caminho mais fácil da exposição gratuita da dor.

Um comentário:

Tati disse...

Amei o filme. E fiquei surpresa com a atualidade da guerra. Chegou até a confundir minha cabeça sobre o presente e o passado.

Bjs!