O canadense Guy Delisle é persona non grata em países como a China e a Coréia do Norte. O ilustrador e animador passou por eles a trabalho e cunhou suas impressões em diários de viagens que resultaram nos quadrinhos de “Shenzhen” e “Pyongyang”. A Zarabatana Books publicou essas obras aqui anos atrás em conjunto com a última, “Crônicas Birmanesas”, onde conta suas impressões sobre a Birmânia e/ou Myanmar, um país no sul da Ásia.
O motivo que levou Guy Delisle a não ser bem quisto nos países em que visita e posteriormente retrata nos quadrinhos, é porque em todos eles escancara a deformidade do regime político do país e as conseqüências que são geradas para a população. Agora difere bastante do (ótimo) discurso de nomes como Joe Sacco e usa uma verve extremamente bem humorada e levantando de modo sucinto questões que podem ser mais explanadas.
Ao ler “Crônicas Birmanesas” que foi lançado aqui em 2009 e tem 267 páginas, vemos um autor que dessa vez não foi (pelo menos diretamente) a trabalho e sim acompanhar a esposa que passaria um ano lá por conta dos Médicos Sem Fronteiras. Com um pequeno filho para cuidar, a visão de Guy Delisle continua perspicaz e faz o leitor mergulhar em uma cultura plenamente diferente, retratando esta com o habitual traço e uma certa rabugice.
Para quem conhece as obras anteriores, esse “Crônicas Birmanesas” não aponta nada de extremamente novo, mas existem pequenas variações. A mais visível é o encontro com a paternidade que rende momentos bem explorados. Na contramão disso, no entanto, o tom rabugento é mais ampliado que anteriormente e se torna chato em algumas passagens, além do fato que a visão de “primeiro mundo” sobre os “países menores” às vezes incomoda.
Mas esse lado ruim não chega a atrapalhar muito e “Crônicas Birmanesas” é uma leitura bem aprazível, que parece contada por um amigo recém chegado de viagem. Uma das maiores vantagens da leitura sempre foi transportar quem lê para outras culturas e outros países sem precisar levantar da cadeira de casa, e isso é plenamente explorado nos álbuns de Guy Delisle. É para ler e sorrir, como também refletir sobre os modos da política em geral.
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