Leila pinheiro é uma artista acima de tudo honesta com seu trabalho. Desde o início dos anos 80 vem gravando discos e mais discos apoiados sempre na excelência do instrumental e na extensão da personalidade da sua voz. A decisão então de gravar canções de Renato Russo no mais recente álbum poderia abalar essa credibilidade e parecer um golpe, no entanto, para quem conhece essa paraense e sua relação próxima com esse nome de uma geração, sabe que não é por aí.
No seu disco “Alma” de 1988 já regravava “Tempo Perdido” que ganhou as bênçãos do próprio Renato Russo, mantendo uma relação próxima com a obra dele e até mesmo com a pessoa. “Meu Segredo Mais Sincero” então não é um objeto de marketing (mesmo tendo indiretamente muito disso envolvido) e preza por aquilo que Leila Pinheiro sempre guiou a carreira. É bem produzido e executado, trazendo ao todo 14 faixas e uma pequena vinheta no final (“Perfeição”).
Mas há de se convir que não é lá muito fácil pegar um repertório cheio de pequenos clássicos extremamente executados e reinventá-los. Canções do porte de “Ainda é Cedo”, “Pais e Filhos”, “Há Tempos” e “Eu Sei” seriam um desafio para qualquer um que os encarasse e por mais que Leila consiga fazer isso com coragem, o resultado não fica bom. Em faixas como “Índios”, por exemplo, um coral entoa cânticos em segundo plano deixando um ar até constrangedor.
Talvez a escolha do repertório tenha sido o maior erro. Dos maiores hits são poucos que funcionam, como “O Teatro Dos Vampiros”. Os destaques do álbum se concentram nas canções menos conhecidas como “Quando Você Voltar” (do último disco da Legião, “A Tempestade”) que ficou muito bonita sugerindo uma tristeza quase sublime. Faixas como “Angra dos Reis”, bem climática e viajadona e a baladona “Hoje”, única parceria entre Leila e Renato, são a prova disso.
“Andréa Dória” e “Metal Contra as Nuvens” (aqui em uma resumida versão de 5 minutos) também se sobressaem dentro do disco, por mais que fiquem aquém dos poucos acertos desse. A escolha do repertório causa transtornos ainda mais graves quando “La Solitudine”, música que Renato Russo regravou em um de seus registros individuais começa a adentrar as caixas de som. Um dueto forçado via tecnologia que consegue a façanha de ser pior que a versão de “Índios”.
O resultado do disco seria ainda pior se Cláudio Faria não tivesse auxiliado por todos os lados ou se não houvesse a participação de Herbert Vianna e Dado Villa Lobos em alguns momentos nas guitarras. “Meu Segredo Mais Sincero” é um disco justo, uma homenagem de um artista para outro repleto de admiração e de boas intenções, só que carrega um forte problema consigo: é chato, bem chato na grande maioria das canções e isso não é fácil assim de desconsiderar.
Site oficial: http://www2.uol.com.br/leilapinheiro
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