“Os Filhos do Imperador” é o quarto livro da americana Claire Messud e foi originalmente lançado em 2006 nos USA, chegando por aqui em 2008 pela Nova Fronteira. A autora é esposa do conhecido crítico literário John Wood e nasceu em solo norte-americano, mesmo sendo filha de um argelino e de uma canadense. Seus livros anteriores foram aclamados com prêmios e figuraram no meio da lista dos mais vendidos do New York Times.
Com “Os Filhos do Imperador”, Claire Messud recebeu críticas elogiosas de publicações tradicionais como o Washington Post e o New York Times Book Review, trazendo assim um interesse maior embutido no livro. Quando a leitura vai avançando, inserida dentro da Nova York de 2001, mas antes do atentado de 11 de Setembro, percebemos que talvez os elogios tenham sido exagerados, ou então a crítica faz parte da mesma ala que é atacada na trama.
A escritora apresenta três amigos na faixa dos 30 anos (Marina, Danielle e Julius) que vivendo na selva que é a cidade norte americana buscam seu espaço dentro da (pretensa) elite intelectual que a habita. Sobre eles paira a figura do renomado jornalista Murray Thwaite (pai de Marina), que de uma maneira ou outra acaba influenciando a vida de todos, assim como a de Frederick Tubb, um jovem de 20 anos que aparece para dar uma nova visão a eles.
Os objetivos de “Os Filhos do Imperador” são bem definidos e até que funcionam bem. Ao mesmo tempo em que existe a crítica em cima daqueles que se dizem intelectuais e, por conseguinte de toda a esfera jornalística da cidade, ocorre também uma visão de um país perdido e que fica completamente sem rumo depois do 11 de Setembro. Libera artilharia também contra a geração dos anos 90, que cresceu e chegou aos 30 anos sem dizer muita coisa.
Os alvos da autora, no entanto, são enfraquecidos pela pressa com que decide os rumos necessários para que a trama ganhe ritmo e conduza ao resultado pretendido. Tudo avança rápido e com muitas coincidências, sendo que na maior parte do tempo não há justificativa para tanto. Dessa forma, por mais que o livro possa até ostentar ser muita coisa, sua leitura acaba sendo desencorajada a cada página virada e chegar ao final se torna uma canseira danada.
domingo, 30 de janeiro de 2011
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
"Veroz" - Maglore - 2011
Um jovem caminha pela rua de uma grande cidade com o coração cheio de idéias e sonhos enfiados pelos bolsos e na velha mochila. Entende que clichês são necessários e pensa que irá encontrar alguém que lhe leve do seu jeito e do seu modo, pois acredita que a vida é boa acima de tudo. Esse singelo e talvez inocente roteiro poderia ter “Às Vezes Um Clichê”, música dos baianos do Maglore como a trilha sonora.
O Maglore tem no currículo um EP lançado em 2009 (“Cores Ao Vento”) e despeja agora o primeiro disco de graça no seu site oficial. “Veroz” foi gravado de maneira independente e recupera as cinco músicas do EP de 2009 em versões mais trabalhadas com Teago Oliveira (vocal e guitarra), Léo Brandão (teclado e guitarra), Nery Leal (baixo) e Igor Andrade (bateria) sob a batuta da produção de Jorge Solovera.
“Veroz” é um disco essencialmente pop que usa o rock e o folk como caminho para expressar sua sonoridade. Nele não há virtuosismos presunçosos ou elaborações mais profundas. É música pop como esta deve ser e tem aquelas melodias doces e letras para decorar e se distrair cantando sem compromisso. Há influências de bandas brazucas dos anos 80 e lembra em algumas passagens os gaúchos do Cidadão Quem.
Passeando pelas letras do disco podemos inclusive levar aquele jovem do primeiro parágrafo para a continuidade da sua viagem pessoal. Em “Tão Além”, por exemplo, ele descobre que as pessoas podem lhe tratar mal e o mundo não é tão fácil assim como pensava. Em “Enquanto Sós” aparece mais triste pois queria ter a pessoa desejada por perto, mas se vê perdido no meio de escuridão e ilusão.
E nessa jornada o mundo revela outras faces, como mostra a ótima “Todos Os Amores São Iguais” ou as fotos rasgadas de “Lápis de Carvão”, assim como a melancolia de “Despedida”. Porém, no percurso do jovem também tem momentos de paz e harmonia e é quando a praiana “Pai Mundo” revela esse instante, unindo Dorival Caymmi e os ritmos que a Bahia pode mostrar em uma surpreendente canção.
É certo que nem tudo são rosas na estréia do Maglore, mas os espinhos são poucos e acabam por se tornar sem muita importância, como vemos na aproximação desnecessária dos Los Hermanos em “Demodê”. No geral “Veroz” é um disco leve e saboroso, que pode ser consumido em excessivas cargas diárias sem preocupação com qualquer tipo de overdose. É simples como a vida deveria ser sempre que possível.
Download gratuito no site oficial: http://www.maglore.com.br
E na Trama Virtual: http://tramavirtual.uol.com.br/maglore
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Melhores do Ano Scream & Yell - 2010
O Scream & Yell do chapa Marcelo Costa colocou no ar o seu tradicionalíssimo especial com os melhores do ano. Tive o prazer de participar novamente. Neste ano, foram 95 votantes (recorde!) espalhados entre músicos, jornalistas de sites, revistas e jornais além de blogueiros e colunistas do próprio Scream & Yell. Dá uma passada lá e confere: http://screamyell.com.br/site/2011/01/25/top-seven-2010-scream-yell/
Tambem dá uma conferida no voto a voto, pois as listinhas são interessantes e dá para achar algo que tenha passado batido. Tem muita coisa boa espalhada por aí. Acessa lá: http://screamyell.com.br/site/2011/01/25/melhores-de-2010-os-95-votantes/
A minha listinha pessoal está bem aqui ó:http://screamyell.com.br/site/2011/01/25/melhores-de-2010-adriano-mello-costa/
Os melhores do ano do Scream & Yell é sempre bacanudo e traz um ótimo panorama do ano que passou. Muita gente boa votando. A lista aqui do Coisapop publico no dia 1º de fevereiro. Paz Sempre!!
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
"Teenage and Torture” - Shilpa Ray And Her Happy Hookers - 2011
É humanamente impossível acompanhar a jornada diária de lançamentos musicais que a internet hoje disponibiliza. Você pesca um álbum daqui, lê a resenha de outro ali e torce para acertar nas escolhas, por mais que em boa parte das vezes seja a decepção que tome conta. Assim sendo, quando um trabalho como “Teenage and Torture” da Shilpa Ray And Her Happy Hookers cai no seu colo, é o tipo de coisa que faz o dia começar bem melhor.
Banda do Brooklyn, New York, Shilpa Ray toca junto com suas “prostitutas felizes” um rock de garagem na acepção mais setentista possível da palavra e imerso em muito blues. Shilpa Ray começou pelas ruas, engrenou a primeira banda, mas foi com o atual grupo que lançou um disco em 2009 (“A Fish Hook An Open Eye”), angariou críticas positivas tanto do registro como das apresentações ao vivo e excursionou com o Grinderman de Nick Cave.
Ela tem um vocal que pode muito bem ser encarado como resultado de uma alquimia sonora (sem querer tecer comparações, que fique claro) entre Patti Smith, Joan Jett e Nina Hagen, conseguindo ir em outras vezes para o caminho mais tosco das garotas do Kitty, Daisy e Lewis, por exemplo. Junte-se a isso o instrumental sujo e despojado dos Happy Hookers (com destaque para os dois guitarristas) e o resultado é uma pedrada daquelas boas.
“Hookers”, a primeira faixa do disco, já merece uma descrição detalhada com o ritmo indo e voltando, crescendo e diminuindo entre poeira, gritos e vocais transpostos transformando uma melodia suave em pura acidez. A maior parte das 10 canções de “Teenage and Torture” passa dos quatro minutos e resulta em suítes poderosas como em “Dames A Dime A Dozen” e “Genie's Drugs” para em outras como “Heaven In Stereo” surgir urgente e punk.
O único momento de tranquilidade fica nos minutos finais com “Requiem In A Key I Don't Know”, que sinceramente não consegue chegar perto de apagar o fogo disponibilizado anteriormente. “Teenage and Torture” é daqueles discos que viciam, que ficam pedindo para ser tocado a todo o momento. É rock sem frescuras, emulações ou afetações e com uma cantora acima da média que brilha entre gritos, sussurros e letras não convencionais.
Site oficial: http://shilparay.com
Twitter: http://twitter.com/shilparayandHHH
domingo, 23 de janeiro de 2011
"72 Horas" - 2010
Até onde você conseguiria ir pelo amor da sua vida? Que barreiras você ultrapassaria para ficar ao lado de quem gosta? Por mais que tais perguntas soem batidas e sem muito nexo nos dias atuais é nelas que o diretor Paul Haggis (de “Crash – No Limite”) ambientou o mais recente trabalho. “72 Horas” traz a história de um homem que vê da noite para o dia a vida ser destroçada e precisa ainda que por caminhos esburacados revelar uma força interior.
Russell Crowe é o professor universitário John Brennan, um americano de classe média casado com uma bonita mulher pela qual é apaixonado e tem um filho único. A esposa (interpretada por Elizabeth Banks de “Três Vezes Amor”) é presa dentro de casa acusada de assassinar sua chefe. Antes da cena da prisão, Paul Haggis mostra uma conversa entre e o casal e o irmão e a esposa dele, onde essa briga de trabalho foi alavancada em níveis bem grandes.
Após a esposa ser presa, John Brennan passa a criar o filho sozinho e não descansa em provar a inocência da mulher, que ao contrário do que seu coração indica tem imensas chances de ser culpada do crime, uma vez que as evidências são claras nesse sentido. Depois de três anos brigando no sistema judiciário e vendo suas chances caírem uma a uma, assim como sua própria sanidade, o professor universitário resolve trilhar uma nova estrada.
Como as saídas legais se esgotaram, ele trama uma fuga da prisão e para tanto se envolve e sofre grandes conseqüências no processo. O plano de fuga e como ele é construído consegue ser transportado para a tela como possível, mesmo levando em consideração o tratamento que um filme é capaz de dar e mostra um amor que foge da obsessão simples para se tornar quase que uma espécie de crença, uma religião interior na qual John precisa se apoiar.
“72 Horas” é adaptado do filme francês “Pour Elle” e tem o tipo de roteiro que poderia ser uma decepção em mãos menos competentes. No entanto, na direção de Paul Haggis e na interpretação de Russell Crowe (que se não chega a ser brilhante é plenamente crível) se revela um bom filme de drama e ao mesmo tempo policial. Só não é melhor ainda, pois na parte final resolve explicar muito as coisas e acaba perdendo um pouco da graça que havia conquistado.
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
"Cyrus" - 2010
Você chegou aos 40 anos e a vida se mostra um verdadeiro fracasso sem sentido algum. Sua esposa lhe deixou faz alguns anos e por mais que você mantenha uma relação completamente sadia com ela, a perda ainda fere bastante. No mais, não há convívio social ou projetos interessantes para o futuro. A vida entrou naquele piloto automático sem graça do qual parece ser impossível sair. Assim é a vida de John, personagem interpretado por John C. Reilly em “Cyrus”.
Em “Cyrus”, os irmãos Jay e Mark Duplas mostram uma história que pode ser entendida como comédia até certo ponto, mas que se origina diretamente da solidão. A vida de John sai um pouco do marasmo quando sua esposa Jamie (Catherine Keer, sempre bem) o convence a ir para uma festa em uma cena muito engraçada se não fosse trágica ao mesmo tempo. Lá ele conhece aos 45 do segundo tempo uma mulher que vai mudar o rumo do seu caminho dali pra frente.
Molly, a mulher que John conhece na festa, é vivida por uma Marisa Tomei ressurgida depois da boa participação em “O Lutador”. Ela é uma mãe solteira também na faixas dos 40 anos que carrega consigo uma tristeza no próprio semblante e vive com o filho de 21 anos, o qual criou sozinha e mantêm uma relação intensa e provavelmente prejudicial aos dois. Cyrus (o filho) é interpretado por Jonah Hill, que do gordinho de “Superbad” aparece aqui em um papel bem denso.
Enquanto a relação entre John e Molly vai crescendo para tomar um destino mais sério, Cyrus tenta de toda forma boicotar o romance e deixa os envolvidos em uma situação constrangedora e desconfortável, além de mostrar o quão frágil é o mundo em que eles vivem. O roteiro meio que apressa o relacionamento amoroso e deixa algumas pequenas falhas no caminho, mas não incomoda tanto quanto a câmera que a todo o momento verte em closes para os personagens.
Apesar desses pequenos deslizes (que também podem ser entendidos como gosto pessoal), “Cyrus” é um filme que convence muito bem. John C. Reilly está perfeito no papel do quarentão solitário e proporciona cenas excelentes, como quando começa a cantar e dançar “Don't You Want Me” do Human League em uma festa. É um filme de busca, mas também de aprendizagem e sobre encontrar exatamente o melhor lugar que você acha que pode estacionar e ficar um tempo.
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
“Showroom of Compassion” - Cake - 2011
Os californianos do Cake não lançavam nada desde “Pressure Chief” de 2004, descontando aí a coletânea de b-sides e covers que apareceu em 2007, mas que realmente não agregou lá muita coisa na discografia da banda. Desde que alcançaram sucesso com a fantástica versão de “I Will Survive” em 1996, o grupo comandado por John McCrea criou um estilo próprio de música transitando entre o pop e o alternativo e sendo embalado em vestes meio malucas.
“Showroom of Compassion” surge agora no comecinho de 2011 para saldar a dívida desse tempo. Gravado e produzido em mais de dois anos pela banda na cidade de Sacramento, o sexto álbum chega pelo selo próprio do quinteto, o Upbeat Records. A exposição que temos no álbum não traz muita compaixão como o título sugere e continua dentro do sarcasmo e cinismo habituais no trato do cotidiano, com direito até a crítica política na primeira faixa.
“Funeral Funding”, a citada primeira faixa, traz o Cake com um órgão aparecendo pungente lá no fundo, soando até meio soturna para os padrões da banda, enquanto John McRea destila “você vai receber o financiamento federal (...) leve os seus colegas para jantar fora, pague seu irmão para vir e cantar”. E já nessa canção dá para perceber que a sonoridade não mudou nada para Mcrea, Vincent DiFiore, Xan McCurdy, Gabriel Nelson e Paulo Baldi.
Depois de “Funeral Funding”, “Long Time” é mais a sua cara ainda, com o baixo tomando conta e o vocal quase falado. Na baladinha “Got To Move” o humor do quinteto mostra as garras em versos mordazes: “você sempre tem que se mover, você sempre está tentando provar que há algo novo em tudo que faz”, para emendar depois com “você está correndo só para provar que não é algo novo”. “What's Now is Now” tem clima meio disco e fala sobre recomeçar.
“Mustache Man(Wasted)”, traz bom humor e uma latinidade bem peculiar na guitarra, enquanto “Teenage Pregnancy” e seu sugestivo título (“Gravidez na Adolescência”) chega instrumental ao piano e é a única que foge dos padrões Cake de qualidade. “Sick Of You” (e sua introdução Keith Richards) que vem na sequência é um hit do mesmo porte de carros-chefe da carreira como “Never There”, “Going To Distance” e “Short Skirt/Long Jacket”.
O último bloco traz mais crítica (agora social) em “Easy To Crash”, faz trilha de road movie caipira em “Bound Away”, namora a tristeza em “The Winter” e se perde totalmente nas experimentações de “Italian Guy”. No final, “Showroom of Compassion” agradará em cheio os fãs, mas também pode (ou deveria) levantar a pulga do mais do mesmo atrás da orelha. No entanto, como não dá para imaginar o Cake fazendo outro tipo de som, é melhor deixar como está.
Site oficial: http://www.cakemusic.com Twitter: http://twitter.com/cakemusic
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
"The King Is Dead" - The Decemberists - 2011
Quando o Decemberists lançou “Hazards Of Love” em 2009 indicava um caminho extremamente perigoso. O disco era uma espécie de ópera folk-rock com clima medieval e letras pomposas, ou seja, tipo do trabalho audacioso e pretensioso que quase sempre mostra um rumo perdido e a viagem para experiências mais egomaníacas. Poucos grupos conseguiram fazer algo nesses moldes e soar relevante, sendo que o Decemberists não será conhecido por ser um deles.
Quando “The King Is Dead”, o sexto e novo álbum da banda começa a ser tocado, percebe-se (ainda bem) que o “Hazards Of Love” foi um momento isolado e infeliz que ficou para trás. Colin Meloy, Chris Funk, Jenny Conlee, Nate Query e John Moen retornam com um registro bonito, permeado com canções repletas daquelas melodias que grudam instantaneamente e remetem para o universo não somente do folk de costume, como também para o country americano.
Apesar do nome do álbum traçar comparações a um clássico do The Smiths (que Colin Meloy realmente adora), transita por outra banda fundamental dos anos 80, o R.E.M. Peter Buck que trabalhou com os integrantes no excelente “Killingsworth” do Minus 5 de 2009, aparece aqui em três faixas e junto com a cantora Gillian Welch (que participa de 7 canções), ajuda a construir o resultado final. Aliás, os trabalhos paralelos dos membros são de grande valia nesse novo disco.
Logo na abertura com “Don't Carry It All”, entre violões e uma harmônica temos uma idéia do que se apresentará a seguir. Colin Meloy canta límpidos versos sobre o peso do mundo nos ombros e como se pode ter um pouco de esperança para seguir em frente. Já em “Calamity Song” (com entrada extirpada do R.E.M) trata sobre desastres e mortes, deixando como sobra somente o consolo dos anjos. “Rise To Me” ambiciona ser mais tradicional e vem falando sobre a terra.
“Roxy In The Box” mistura o Decemberists dos primeiros anos com um toque de bluegrass muito bem vindo, enquanto “January Hymn” mergulha um pouco mais nas raízes estadunidenses para falar sobre o tempo, estações e pessoas que vão embora. Na sequência é a vez de “Down By The Water”, que mesmo já conhecida há algum tempo aparece forte e bonita para providenciar quase 4 minutos de uma beleza melódica que esse quinteto de Portland é tão capaz de proporcionar.
Depois de “Down By The Water”, por mais que seja difícil recuperar o fôlego, há de se fazer um esforço pois ainda tem mais recompensa com o countyzaço de “All Arise!”, a correlação de momentos em “June Hymm”, o ritmo mais denso de “This Is Why We Fight” e os violões tristes que acompanham “Dear Avery” e seus versos sobre amizade e infância perdidas. “The King Is Dead” emociona e entristece quase que na mesma medida e tem o mal de não conseguir sair do som.
Site oficial: http://www.decemberists.com
Twitter: http://twitter.com/thedecemberists
sábado, 15 de janeiro de 2011
“As Viagens de Gulliver” - 2011
Desde que foi originalmente concebido por Jonathan Swift como um livro no longínquo ano de 1726, “As Viagens de Gulliver” já teve incontáveis adaptações para as mais distintas esferas do mundo do entretenimento. Dessa forma, uma nova adaptação para o cinema não desperta a primeira vista nenhuma notícia sensacional ou extraordinária. No entanto, como o protagonista desta nova versão é Jack Black, pelo menos algum interesse cria-se em torno do projeto.
Esse novo “As Viagens de Gulliver” objetiva converter o texto original para os nossos tempos explorando uma verve simplesmente cômica e sem o sarcasmo e crítica social que o original consegue transparecer. Ao acabar a sessão percebe-se que o resultado cômico até que é alcançado em um ou outro momento, mas fica bem aquém do que se poderia imaginar. Jack Black no papel de Lemuel Gulliver não convence completamente e abusa um pouco das suas caretas.
Aliás, Jack Black já está trilhando o mesmo caminho de Jim Carrey no uso excessivo das expressões faciais como caminho para a sua comédia. O que antes significava um diferencial engraçado transforma-se em algo chato e inapto com o decorrer do tempo. E continuando nesse pequeno exercício de comparação, ele ainda sai perdendo por não ter bons momentos de drama na carreira, ao contrário de Jim Carrey que já mostrou que quando quer pode ser um belo ator.
Na trama do longa, o personagem principal trabalha para um jornal de Nova York no qual exerce a função de coordenador da expedição, entregando correspondências aos funcionários. Em um dia ruim e devido a sua platônica paixão por Darcy Silverman (Amanda Peet de “Meu Vizinho Mafioso”), ele se envolve em uma enrascada e embarca para uma viagem rumo ao Triângulo das Bermudas onde acaba por chegar na terra onde os habitantes são do tamanho de uma formiga.
A estréia de Rob Letterman na direção em filmes sem ser de animação (antes já havia feito “Monstros Vs. Alienígenas” e “O Espanta Tubarões”) também não é das mais inspiradas e não contribui em quase nada para o resultado final. “As Viagens de Gulliver” consegue extrair algumas risadas e não é um martírio assisti-lo, porém alcança com muita boa vontade apenas a alcunha de mediano e traz um ator que precisa urgentemente se reinventar e deixar de parodiar a si próprio.
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
"Meu Segredo Mais Sincero" - Leila Pinheiro - 2010
Leila pinheiro é uma artista acima de tudo honesta com seu trabalho. Desde o início dos anos 80 vem gravando discos e mais discos apoiados sempre na excelência do instrumental e na extensão da personalidade da sua voz. A decisão então de gravar canções de Renato Russo no mais recente álbum poderia abalar essa credibilidade e parecer um golpe, no entanto, para quem conhece essa paraense e sua relação próxima com esse nome de uma geração, sabe que não é por aí.
No seu disco “Alma” de 1988 já regravava “Tempo Perdido” que ganhou as bênçãos do próprio Renato Russo, mantendo uma relação próxima com a obra dele e até mesmo com a pessoa. “Meu Segredo Mais Sincero” então não é um objeto de marketing (mesmo tendo indiretamente muito disso envolvido) e preza por aquilo que Leila Pinheiro sempre guiou a carreira. É bem produzido e executado, trazendo ao todo 14 faixas e uma pequena vinheta no final (“Perfeição”).
Mas há de se convir que não é lá muito fácil pegar um repertório cheio de pequenos clássicos extremamente executados e reinventá-los. Canções do porte de “Ainda é Cedo”, “Pais e Filhos”, “Há Tempos” e “Eu Sei” seriam um desafio para qualquer um que os encarasse e por mais que Leila consiga fazer isso com coragem, o resultado não fica bom. Em faixas como “Índios”, por exemplo, um coral entoa cânticos em segundo plano deixando um ar até constrangedor.
Talvez a escolha do repertório tenha sido o maior erro. Dos maiores hits são poucos que funcionam, como “O Teatro Dos Vampiros”. Os destaques do álbum se concentram nas canções menos conhecidas como “Quando Você Voltar” (do último disco da Legião, “A Tempestade”) que ficou muito bonita sugerindo uma tristeza quase sublime. Faixas como “Angra dos Reis”, bem climática e viajadona e a baladona “Hoje”, única parceria entre Leila e Renato, são a prova disso.
“Andréa Dória” e “Metal Contra as Nuvens” (aqui em uma resumida versão de 5 minutos) também se sobressaem dentro do disco, por mais que fiquem aquém dos poucos acertos desse. A escolha do repertório causa transtornos ainda mais graves quando “La Solitudine”, música que Renato Russo regravou em um de seus registros individuais começa a adentrar as caixas de som. Um dueto forçado via tecnologia que consegue a façanha de ser pior que a versão de “Índios”.
O resultado do disco seria ainda pior se Cláudio Faria não tivesse auxiliado por todos os lados ou se não houvesse a participação de Herbert Vianna e Dado Villa Lobos em alguns momentos nas guitarras. “Meu Segredo Mais Sincero” é um disco justo, uma homenagem de um artista para outro repleto de admiração e de boas intenções, só que carrega um forte problema consigo: é chato, bem chato na grande maioria das canções e isso não é fácil assim de desconsiderar.
Site oficial: http://www2.uol.com.br/leilapinheiro
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
"Incontrolável" - 2011
O diretor Tony Scott já fez alguns filmes em parceria com o ator Denzel Washington, tais como “Chamas da Vingança”, “Déjà Vu” e “O Seqüestro do Metrô 123”. Em todos eles pode-se afirmar que não conseguiu o resultado esperado, pois as produções acabavam patinando entre o insosso e a pura decepção. Não que fossem filmes completamente ruins, a parte técnica até que é boa e a direção de atores promovia resultados surpreendentes de certo modo.
Com “Incontrolável” que estreou recentemente nos cinemas, dá para dizer que a parceria entre os dois realmente começou. Não se trata de um trabalho espetacular, veja bem, na verdade não chega próximo disso, no entanto, é um filme de ação competente que traz cenas realmente instigantes e que consegue deixar o telespectador preocupado com o final e o desenrolar dos acontecimentos sem precisar usar grandes estratégias ou vincular soluções fantasiosas.
Inspirado em fatos reais ocorridos em 2001 quando um trem com 47 vagões percorreu mais de 100 quilômetros antes de conseguir ser parado, “Incontrolável” mostra o veterano Frank Barnes (Denzel Washington) em mais um dia de serviço junto com o novo funcionário Will Colson (Chris Pine de “A Última Cartada”). Os dois são surpreendidos no trampo quando recebem o aviso que um trem desgovernado vem em sua direção devido a uma falha humana.
O roteiro de Mark Bomback (de besteiras como “O Enviado”) amplia o drama ao adicionar problemas pessoais aos envolvidos que dentro do cenário do estado da Pensilvânia, com indústrias por todo o lado, acaba sendo deprimente e desolador. Tony Scott consegue extrair de Denzel Washington um pouco além das habituais feições e trejeitos e explora bem o núcleo de apoio que conta com Rosario Dawson, Jeff Wincott e um excelente Kevin Dunn.
O filme se apóia na idéia do cara que não leva jeito para herói, mas que na hora de um grande aperto veste as roupas da dignidade e da coragem para ir a luta e salvar grandiosamente o dia. Nada muito original é verdade, mas isso acaba não atrapalhando muito, por mais que às vezes alguns apelos sensacionalistas sejam mostrados na tela. “Incontrolável” é um bom filme de ação com pitadas de drama. E nada além disso, para o bem e para o mal.
sábado, 8 de janeiro de 2011
"American Slang" - The Gaslight Anthem - 2010
“E eles me cortaram em pedaços e me ensinaram a dirigir” diz um dos versos da música “American Slang” que abre o terceiro disco dos americanos de Nova Jersey The Gaslight Anthem, para depois engatar em outras passagens como “eu tenho seu nome tatuado no interior do meu braço” e “liguei para meu pai, mas ele tinha morrido”. Enquanto a canção vai se desenvolvendo eu um rock clássico com um riff de guitarra assumindo a ponta, a letra se destaca.
Depois da urgência e pressa da estréia com “Sink Or Swin” em 2007, onde a influência do punk era bem forte, o som foi ganhando outras cores já em “The '59 Sound”, o álbum seguinte que remetia ao universo de influências mais fortes de Bruce Springsteen e Tom Petty. “American Slang”, o disco, caminha para mais um pequeno passo a frente pois por mais que o tom das influências antigas ainda se faça presente, elas começam a ganhar novos tons de cores.
Depois da bacanuda faixa de abertura já citada vem “Stay Lucky”, outra boa canção que em certo momento afirma para o seu par “que os sentimentos morreram por razões que você sabe”. As letras de Brian Fallon são bem trabalhadas, coisa bem rara hoje na maioria das bandas novas e mesmo não sendo geniais agradam bem. O instrumental de Alex Rosamilia (guitarra), Alex Levine (baixo) e Ben Horowitz (bateria) também sobe mais um nível no novo disco.
São 10 faixas em 30 e poucos minutos (o disco mais curto da carreira) o que acaba ajudando para que as idéias não soem muito repetidas, gerando cansaço. Em músicas como “Bring It On” a sonoridade de Bruce Springsteen ainda está muito presente, mas em outras como “The Queen of Lower Chelsea” é o The Clash que aparece ditando as regras na mistura de ska e dub que é oferecida e que também surge como reggae em “The Diamond Church Street Choir”.
“American Slang” ainda continua variando (mesmo que não muito) como em “Old Haunts” que aparece tendo como base para a canção Paul Westerberg e seu Replacements ou na tristeza melancólica de “We Did It When We Were Young” que lembra o U2. A energia do punk fica um pouco mais para trás e vai se travestindo em um rock clássico com direito a maiores experimentações, o que deixa a esperança de um grande disco para um futuro próximo.
Site oficial: http://gaslightanthem.com
My Space: http://www.myspace.com/thegaslightanthem
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
"Vida" - Keith Richards com James Fox
Geralmente na biografia de músicos a parte mais interessante para os leitores são aqueles casos engraçados e meio surreais que não foram muito divulgados na mídia, além do detalhamento da construção de músicas e discos importantes. “Vida”, o livro que busca tratar sobre Keith Richards e que foi escrito pelo mesmo em colaboração com James Fox, cumpre bem essas premissas apesar de demorar um pouco a engrenar nas suas 630 páginas.
Logo na entrada já aparece uma situação digna de “Medo e Delírio em Las Vegas” de Hunter Thompson com o guitarrista do Rolling Stones sendo preso no Arkansas, USA, com um carro contendo alguma quantidade de substâncias ilegais. Depois volta um pouco para a infância e o descobrimento da paixão pela música, inicialmente por nomes como Chuck Berry (talvez a maior devoção), Elvis Presley e Buddy Holly. Tudo começou por ali.
Chuck Berry é inclusive o responsável indireto pela amizade com Mick Jagger, que resultaria em clássicos do rock construídos pelos “Glimmer Twins”. O início do Stones evidente que traz boas páginas, como a influência de Ian Stewart na criação da banda, o carinho imenso pelo blues de nomes como Muddy Waters, as passagens de Brian Jones e Mick Taylor pela segunda guitarra e uma troca de figurinhas constante com uns tais de Beatles.
Keith Richards se retrata como um louco por música acima de tudo. Ele abre detalhes do seu modo de tocar guitarra e de como prefere algumas canções como outras (“Jumpin' Jack Flash” ao invés de “Satisfaction”, por exemplo). Narra também todo seu relacionamento de amor e ódio com vários tipos de drogas, ao qual credita parte do sucesso das suas composições. Ainda bem que não há nada de hipocrisia barata ou politicamente correto lá.
Lógico que a amizade com Mick Jagger permeia quase todo esse “Vida”. As brigas da dupla que ficaram famosas e que certamente renderam muito mais publicidade e marketing em cima dos Stones marcam sua presença. De insinuações indiretas até cortadas fulminantes como quando insinua que o pênis do parceiro e amigo é pequeno. Com certeza as linhas sobre a dupla servirão para vender mais um bocado de material e render dinheiro aos bolsos.
“Vida” traz diversas loucuras no seu corpo como aventuras pela América, a elaboração do clássico “Exile On Main Street” (e a conseqüente famosa turnê “Stones Touring Party”) e coisas do tipo. A parte ruim fica por conta de alguns momentos de pura enrolação, onde umas 100 páginas provavelmente não fariam falta e o descaso da Editora Globo com o livro que vem com erros diversos tanto na grafia quanto na condução da tradução. Uma pena.
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
"O Escritor Fantasma" - 2010
As teorias de conspiração ganharam um upgrade e tanto com o advento da internet e por conseqüência a intensificada ampliação e divulgação com que notícias de todas as formas e cores passaram a ter. Os filmes de uma maneira geral sempre foram um fértil campo para a exploração dessas teorias, mas o que antes era exclusivo (ou mais divulgado) hoje pode parecer trivial. Para se destacar nesse cenário atualmente, esses filmes precisam ter um algo mais para oferecer.
“O Escritor Fantasma”, mais recente trabalho do diretor Roman Polanski traz consigo esse algo mais. A categoria que o diretor imprime na maioria dos seus filmes aqui se faz presente novamente, mesmo com todos os problemas pessoais que sua vida carrega e vez ou outra acabam aparecendo mais do que seu talento. Em uma trama sutil e repleta de suspense, Polanski une temas como política, modernidade e ideologias com um toque de humor até surpreendente.
Esse toque de humor fica por conta do personagem de Ewan McGregor (mais uma vez muito bem), que tem como profissão ser ghost-writer, aquele escritor que faz a obra (principalmente biografias) e dá o crédito para outra pessoa. Ao achar que ganhou a sorte grande por ser contratado para trabalhar na biografia do ex-primeiro ministro britânico Adam Lang (Pierce Brosnan), se vê no meio de um redemoinho de traições e mentiras que não consegue entender.
Mesmo com tanta pressão em sua volta e sem saber direito que rumo tomar, o personagem de Ewan McGregor vai vertendo esse nervosismo para boas tiradas e um bem vindo cinismo. Em algumas passagens principais “O Escritor Fantasma” poderia facilmente descambar para alguma forma fácil, com uma explicação contada ao telespectador, mas para o bem do trabalho isso passa longe de acontecer e o nevoeiro com que as verdades são escondidas permanece denso.
Roman Polanski é um diretor que erra muito mais do que acerta na carreira e já transitou pelos mais diversos estilos, elaborando obras do quilate de “O Bebê de Rosemary”, “Chinatown” e “O Pianista”. Em “O Escritor Fantasma” ele consegue mais um acerto para o currículo e mostra uma habilidade rara na direção, fazendo até com que atores medianos como Pierce Brosnan e Kim Catrall trabalhem acima do seu padrão de qualidade. Plenamente recomendado.
sábado, 1 de janeiro de 2011
"Cartola - Música Para Os Olhos" - 2007
Imagens de um enterro vão passando pela tela, enquanto os versos “tudo acabado e o baile encerrado...” ganham corpo. O enterro em questão é de Angenor de Oliveira, imensamente mais conhecido como Cartola e a música que toca é seu primeiro sucesso chamado “Divina Dama”. Assim, com esse cenário de fundo guiado em preto e branco “Cartola - Música Para os Olhos” se inicia para em quase uma hora e meia de duração lançar um olhar sobre a vida desse ícone do samba.
O filme que foi lançado em 2007 e já chegou há um bom tempo em DVD, merece muito ser visto. Longe de querer ser definitivo ou traçar um panorama fechado para a obra do Cartola, os diretores Lírio Ferreira e Hilton Lacerda (que trabalharam juntos em filmes como “Baile Perfumado” e Árido Movie”) ambientam essa obra no universo de acontecimentos nacionais, assim como na projeção da sua influência para com o samba e a música brasileira por conseqüência.
Recheado de imagens raras e encontros muito bonitos têm depoimentos de nomes como Buci Moreira, Ismael Silva, Zé Keti e Aracy de Almeida, além da presença constante do velho e querido parceiro Carlos Cachaça. O longa passa pela formação do músico nascido em 11 de outubro de 1908 até o seu falecimento em 30 de novembro de 1980, incluindo aí a criação da Estação Primeira de Mangueira, o casamento com a Dona Zica, o ostracismo e o tardio reconhecimento.
Alguns momentos são preciosos como a descrição da criação de clássicos do samba nacional como “O Sol Nascerá” de frases belas assim: “A sorrir eu pretendo levar a vida, pois chorando eu vi a mocidade perdida”. A cena em ele que está ao lado do pai também é fascinante. Nela ele explica que como não era bom aluno seu pai ensinava as lições em casa tocando violão, para depois emendar sozinho aquela que talvez seja sua mais bonita canção: “O Mundo é Um Moinho”.
“Cartola - Música Para os Olhos” é daqueles filmes para se ter em casa guardado na estante. Além de narrar a vida de um grande nome da música nacional, transpõe para a tela um cenário maior com grande objetividade e emoção. Cartola que fez sambas tão bonitos como “As Rosas Não Falam”, pode ser enquadrado em uma música que não é de sua autoria, aquela que diz: “Eu sou o samba, a voz do morro, sou eu mesmo sim senhor”. Abra uma cerveja e faça um brinde.
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