Juro que comecei a assistir “Scott Pilgrim Contra o Mundo” com a maior das boas intenções, afinal meu lado nerd estava ansioso para ver como o diretor Edgar Wright (“Todo Mundo Quase Morto”) conseguiria transpor para a tela o manancial de referências que os quadrinhos de Bryan Lee O’Malley utiliza. Essa transposição até que funciona bem, mas o esgotamento e o cansaço vão tomando conta na mesma proporção que as aventuras se desenvolvem no filme.
“Scott Pilgrim Contra o Mundo” é forjado para um público completamente específico. A denominação nerd nem combina mais com esse público. É tanta informação (mal) absorvida ao mesmo tempo, que deve-se adequar tudo possível para agradar pelo menos em parte alguém. Música, cinema, televisão, videogames e literatura juvenil são arremessados dentro de um balaio de sons e efeitos visuais que por mais bem feitos que apareçam, não disfarçam a confusão.
Michael Cera, o ator que dá vida ao canadense de 22 anos meio sem graça e sem jeito de Toronto, era a escolha óbvia para o papel. Ele está acostumado com esse tipo do jovem que curte bandas obscuras e demonstra incapacidade para lidar com a vida e as mulheres que nela aparecem. Funcionou muito bem em trabalhos como “Juno”, “Superbad” e “Uma Noite de Amor e Música” e apenas mais ou menos em outros casos recentes como “Juventude em Revolta”.
O problema de Michael Cera é que em qualquer personagem que interprete (como no horrível “Ano um”) ele traz os mesmo trejeitos e caras. Quase um Jim Carrey dos adolescentes e isso pode acabar fazendo mal na sua carreira. Como Scott Pilgrim vemos o mesmo ator de quase todos os filmes, tentando se equilibrar na sua pacata vida, morando com um amigo gay, namorando uma colegial chinesa de 17 anos e tocando baixo na razoável banda Sex Bob-Omb.
Enquanto a vida vai andando sem pressa aparece no caminho Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winstead) para bagunçar tudo. Para ir atrás dessa nova paixão, Scott Pilgrim precisa lidar com os ex-namorados de Ramona. Tudo normal em uma trama simples, com a exceção de que cada ex-namorado tem um super-poder próprio e precisa ser derrotado como em um jogo de videogame. A ação domina boa parte da trama e promove até bons momentos isoladamente.
“Scott Pilgrim Contra o Mundo” vem sendo considerado o filme indie do ano (sim, uma nova categoria), guardando comparações com “500 Dias com Ela” do ano passado, que é bem superior. Mesmo com boas tiradas e peças importantes bem realizadas como a trilha sonora de Nigel Godrich (Radiohead), o longa do diretor Edgar Wright é feito para um público que transmite o sinal desses tempos de efemeridade e distúrbio de atenção. E deve agradar somente a ele.
P.S: Bons tempos em que filme “indie” era “Alta Fidelidade”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário