A geração beat que causou tanto furor nos Estados Unidos nos anos 50 e 60 deixando sua marca na obra de outros artistas como Bob Dylan e Beatles, entre tantos outros, talvez hoje tenha ficado para trás. Os tempos são outros e a crença na falta de valores e a busca por diversos tipos de artes ou comportamentos que vão em direção a oportunidades de frentes criativas diversas, hoje já não faz tanto sentido, uma vez que o mundo recicla isso de outras maneiras.
Dito isso, ao término de “Os Beats”, graphic novel que Harvey Pekar escreveu antes do seu falecimento em julho deste ano, fica difícil imaginar qual a relevância da obra para uma nova geração que não conhece e possivelmente não ouviu falar em Jack Kerouac, Allen Ginsberg ou William Borroughs. Lançada lá fora ano passado, chegou aqui agora pelo selo Benvirá da Editora Saraiva com 208 páginas e vem com a arte de Ed Piskor e a edição de Paul Buhle.
Junto do trio responsável que coordena a maior parte das narrativas, estão vários outros nomes dos quadrinhos underground como Joyce Brabner (esposa de Harvey Pekar), Jay Kinney e Jeffrey Lewis. São pequenas biografias espalhadas em desenhos em branco e preto, contando um pouco de histórias que vistas agora com o devido distanciamento narram vidas que produziram obras importantes, mas que também tiveram erros e fracassos em demasia.
Harvey Pekar, um ícone da contracultura moderna que sempre se mostrou influenciado pela geração beat no seu trabalho na excelente “American Splendor” (que virou filme em “Anti-Herói Americano”) versa sobre Kerouac, Ginsberg e Borroughs com reverência e algumas poucas brincadeiras, fazendo falta a sua rabugice tradicional. Esta superficialidade é a maior falha de “Os Beats”, que se contenta apenas com dados históricos e pouca interpretação dos fatos.
Mesmo assim se trata de um livro recomendável, não somente por causa dos três grandes, mas principalmente pela gama de artistas importantes desta geração que ficaram na sombra deles, apesar do reconhecimento crítico. Nele estão pequenas doses de autores influentes da literatura marginal americana como Michael McClure, Lawrence Ferlinghetti, Gregory Corso e Diane Di Prima, que podem servir de aperitivo para um futuro conhecimento mais abrangente.
Kerouac, Ginsberg e Borroughs escreveram obras poderosas como “On The Road” (“Pé Na Estrada’), “Howl” (“Uivo”) e “Naked Lunch” (“Almoço Nu”), respectivamente e ingressaram fortemente dentro da turma dos anos 60 e 70 que converteram essas idéias para seus trabalhos. Hoje, no entanto, esse legado de tanto filtrado que foi por geração após geração não mantêm o mesmo impacto e talvez “Os Beats” sirva para mudar um pouco isso.
Sobre “On The Road” de Jack Kerouac, passe aqui.
Mais Harvey Pekar no blog, passe aqui.
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