Em um feriado praticamente como todos os outros, Paulo saiu de casa com sua mulher e filha em direção a um sítio de um amigo em Ibiúna no interior de São Paulo. Tudo caminhou normalmente. Arrumou as coisas, teve uma discussão irrisória com a esposa por conta de alguma besteira e tomou a estrada. Isso é o que está na sua memória quando ele aparece batendo na porta do prédio onde morava. Acontece que as coisas não são tão simples assim.
Paulo sumiu por um ano junto com a mulher e filha para desespero dos familiares e amigos. Mesmo com a procura de todos, incluindo a polícia, nenhuma pista foi achada. Quando ele aparece na porta do prédio onde residia, o novo porteiro nem lhe conhece. Ele resolve então ir em direção a casa da mãe, o que acaba causando um misto de alegria e susto pela forma que acontece e principalmente porque a mulher e a filha não aparecem da mesma maneira.
É com essa trama que Lourenço Mutarelli costura as linhas do seu novo romance. “Nada Me Faltará” chega pela Companhia das Letras com 136 páginas. Nele, o autor conhecido por obras como “O Cheiro do Ralo” e “O Natimorto” traz novamente uma história que em nenhum momento é convencionada aos lugares comuns e habituais de sempre. Bom exemplo disso, “Nada Me Faltará” é construído somente com diálogos, sem nenhuma descrição detalhada de nada.
Paulo, o cara que some e depois de um ano retorna sem lembrar-se do que aconteceu é um personagem que vai sendo descoberto a cada momento e chega no final sem apontar direito para onde está indo. Mais do que uma história sobre perdas, raiva e convenções sociais e familiares, “Nada Me Faltará” transita quieto pela solidão e pela maneira com que as pessoas vivem despejando expectativas próprias em cima de outras pessoas que agüentam isso caladas.
Quando o livro já está chegando perto do fim chega-se a conclusão que pouco interessa o que aconteceu ao Paulo, sua mulher e filha. Não importa se ele é um grande ator, um assassino filho da mãe ou um pobre coitado que nunca mais vai ter a vida de volta. “Nada Me Faltará” talvez não seja um livro para se entender, para absorver a história. Ele fala sobre o meio, amplificado por um desastre, mostrando o quanto todos podem ficar perdidos de vez em quando.
Um comentário:
Ótima indicação de leitura!!
Muito boas informações.
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