sexta-feira, 12 de novembro de 2010

"Deus e o Diabo no Liquidificador" - Cérebro Eletrônico - 2010

"Perdi a decência, ontem eu perdi a noção, perdi a compostura, a cabeça, perdi a razão. Perdi as chaves do apê e dormi no corredor. Naturalmente, eu perdi a moral com minha mulher e o com o zelador.” Esses são os versos iniciais de “Decência”, a primeira música de “Deus e o Diabo no Liquidificador”, o mais recente trabalho do Cérebro Eletrônico. A banda que cativou um bocado de gente com “Pareço Moderno” de 2008, consegue voltar ainda melhor.
Do disco de 2008 para cá duas baixas: Saíram o tecladista Dudu Tsuda e o baixista Isidoro Cobra. Nos seus lugares entraram Fernando TRZ (teclados) e Renato Cortez (baixo), que se juntam ao trio Tatá Aeroplano (vocal e efeitos), Fernando Maranho (guitarra e vocais) e Gustavo Souza (bateria). No terceiro trabalho o Cérebro Eletrônico contou com a produção de Alfredo Bello (mais conhecido como DJ Tudo) em conjunto com o guitarrista Fernando Maranho.
Fernando Maranho, aliás, é um dos destaques do álbum. Com a sonoridade repleta de guitarras o músico aparece bem mais, participando inclusive da composição junto com Tatá Aeroplano. A herança tropicalista da banda ainda está bem presente como em “O Fabuloso Destino do Chapeleiro Louco” que remete diretamente ao Mutantes, no frevo maluco psicodélico de “Desestabelecerei” ou na poesia e ritmo de “Desquite”, mas adquire tons mais crus e secos.
São onze canções em “Deus e o Diabo no Liquidificador” e boa parte envolve o ouvinte com melodias bem feitas e assobiáveis junto com as letras bem humoradas e longe do lugar comum habitual. “Cama” é um bom exemplo disso, com direito até a orquestrações, onde Tatá Aeroplano canta que só sai da cama quando a mulher decidida lhe disser que o ama. Uma balada com alma antiga, mas travestida de todas as nuances e sons dos nossos modernos tempos.
No rockinho básico de ‘Os Dados Estão Lançados” a letra cita Freud e Lars Von Trier para concluir que “Deus é mais, o diabo é menos, o homem é mais ou menos”. Já “Garota Estereótipo” é um folk-rock sessentista com participação de Hélio Flanders (Vanguart) no vocal. Caiu bem que só. “220V” é a única música que não foi composta pela banda (é de Peri Pane) e esbanja bom astral. Mal comparando talvez seja a “Me Atirar na Orgia” da vez por causa do ritmo.
“Sóbrio e Só” é um indie pop encharcado de influências dos anos 60 com a letra dizendo “A casa caiu, ou me mudo ou me caso, ou me acabo em álcool” enquanto ‘Realejo em Dó” é muito arrastada e se ficasse de fora não faria tanta falta assim. O disco acaba com a faixa que empresta o nome ao mesmo em cinco minutos de nonsense e uma tristeza quase surreal em passagens como: “Eu vivo no paraíso, distribuindo abraços, vivenciando amor (...) Diferente e só”.
As participações especiais que são habituais para a banda aqui aparecem ainda mais. Pelo disco estão perdidos além do já citado Hélio Flanders, outros nomes como Tulipa Ruiz, Leo Cavalcanti, Gustavo Galo e os ex-parceiros Dudu Tsuda e Isidoro Cobra. “Deus e o Diabo no Liquidificador” mostra uma banda que mesmo deixando clara sua alma tropicalista não deixa de confrontar outros sons para produzir músicas de forte teor pop. A música nacional agradece.
Sobre o trabalho anterior, passe aqui.
Site Oficial: http://www.cerebrais.com.br

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