Em 2005 o furacão Katrina passou devastando tudo que via pela frente na costa da cidade americana de Nova Orleans, no estado da Louisiana. A cidade conhecida mundialmente pela sua música e cultura, com destaque para o Mardi Gras (carnaval eternizado em filmes como “Easy Rider”) ficou na beira do abismo. Berço de grandes nomes do jazz como Louis Prima, Louis Armstrong e Wynton Marsalis, Nova Orleans até hoje busca recuperação.
“Treme” a nova série que a HBO vem transmitindo mostra a vida dos habitantes depois de alguns meses do desastre. O nome vem de um distrito da cidade, que apesar de ser de baixa renda tem uma música incandescente. Criada pela dupla Eric Overmyer e David Simon, dona de trabalhos de reconhecida qualidade como “The Wire”, a série trilha caminhos brilhantes na primeira temporada. Mescla crítica social, cultura e sentimentalismo em doses precisas.
Claro que o grande foco dos episódios está nos habitantes, que mesmo depois de terem suas casas e bens materiais arrasados e contando com o pouco caso do governo federal, por mais que George Bush (o presidente na época) tenha feito varias promessas, ainda reúnem força para seguir em frente. Essa superação que não é tão bem sucedida na sua maioria, tem como pano de fundo a magistral música da cidade, com trilha sonora de extrema classe.
Logo nos primeiros episódios, Elvis Costello aparece em um bar para ver um grupo tocando e fica impressionado. Na sequência aparece junto com o maestro Allen Toussaint dentro de um estúdio, o que resultaria na vida real no bonito “The River In Reverse”, disco lançado em 2006. Dr. John é outro músico conhecido que também aparece. Além desses nomes uma gama de competentes músicos locais despejam na tela o chamado “Som de Nova Orleans”.
O elenco tem atuações fortes e bem conduzidas, como é o caso do casal Creighton (John Goodman) e Toni Bernette (Melissa Leo), o primeiro um escritor e professor que ganha reconhecimento pelas suas duras críticas políticas e a segunda uma advogada que tenta ajudar pessoas prejudicadas pelo desastre. Do lado mais musical o grande destaque é Steve Zahn como o hilariante Davis McAlary e Wendell Pierce como o trombonista Antoine Batiste.
Quase todos os personagens são bens desenvolvidos e conseguem ter brilho próprio como a chef Janette Desautel (Kim Dickens) que tenta salvar o restaurante da falência ou LaDonna Batiste (Khandi Alexander) que busca o irmão desaparecido no dia do furacão. O lado tradicionalista e carnavalesco aparece na figura de Albert Lambreux (Clarke Peters), que volta para a cidade tentando reerguer o antigo time para o Mardi Gras, não medindo esforços para tanto.
“Treme” é uma série que quase toca o céu. É capaz de levar o telespectador da emoção aos risos e da compaixão ao pensamento político em questão de minutos. Seus encantos estão dispersos nas atuações bem construídas, como também na música que ressoa por todo espaço que se mova. Porém no final de tudo, o que vemos é o retrato cada vez mais presente de descaso pela população daqueles que deveriam ser seus principais responsáveis. Infelizmente.
Site oficial: http://www.hbo.com/treme/index.html
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