Em uma discussão mais forte com a esposa, Jake passa completamente dos limites e a espanca sem piedade. Esse fato distribui toda a gama de acontecimentos que o espetáculo “Mente Mentira” apresentará, mesmo sem aparecer para a platéia. A trama é inserida a partir do momento seguinte, quando o marido desconsolado e visivelmente perturbado entra em contato com seu irmão para comunicar a tragédia provocada por ele e para pedir ajuda.
O exposto no parágrafo acima é o ponto de partida de “Mente Mentira”, a nova peça teatral dirigida por Paulo de Moraes e em cartaz no Teatro Raul Cortez em São Paulo. Trata-se de uma montagem nacional do admirado texto “A Lie of The Mind” de Sam Shepard, obra que foi lançada em 1985 nos Estados Unidos e teve bastantes elogios, ganhando inclusive uma adaptação recente lá fora pelas mãos do ator Ethan Hawke na direção.
Para quem já conhece um pouco do trabalho de Sam Shepard, que além de ator escreveu roteiros para filmes como “Paris, Texas” de Win Wenders, sabe do seu gosto por colocar os ritos e tradições do seu país na berlinda. Nessa peça não é diferente. Quando o marido espanca a mulher, os dois são obrigados a voltar a morar com os respectivos pais, mostrando toda a instabilidade e infelicidade das próprias famílias, assim como suas loucuras.
Jake e Beth são interpretados pelo global Malvino Salvador e por Fernanda Machado. Os dois tem atuações consistentes, no entanto não conseguem em momento algum colocar a intensidade que o texto parece requerer. O grande destaque fica com o elenco de apoio. Não são raras as passagens que os pais de Beth roubam a cena. Roza Grobman e Luti Angelelli (substituindo Zé Carlos Machado nesse dia) aliam drama e humor negro com categoria.
Paulo de Moraes tem trabalhos premiados na sua história como a montagem de “Toda Nudez Será Castigada”, porém erra um pouco a mão nesse “Mente Mentira”. Ao optar por não adequar o texto para o cenário nacional mantendo as referências norte americanas como o beisebol e a distinção entre sul e norte, se perde um pouco e fica no meio do caminho entre as duas coisas. A peça acaba então também parando no meio, sendo apenas razoável.
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