Em 07 de julho de 2005 atentados terroristas mataram 52 pessoas em Londres. Os ataques atingiram o metrô e um ônibus parando uma das maiores cidades do mundo. Em uma pequena ilha longe da cidade, Elizabeth Sommers (Brenda Blethyn de “O Barato de Grace”) toca a vida pacata dentro do seu sítio até que vê a notícia na televisão. Imediatamente pega o telefone e liga para a sua filha, que se mudou para Londres para estudar.
Como não obtêm sucesso resolve se mandar atrás da filha. Enquanto faz sua busca aparece no seu caminho Osmaine (Sotigui Kouyaté de “Coisas Belas e Sujas”), um africano radicado na França que também procura pelo filho sumido após os atentados e que não vê desde que o mesmo tinha 6 anos. Os caminhos dos dois acabam convergindo e logo percebem que estão atrás da mesma coisa, por mais que carreguem inúmeras diferenças entre si.
Essa é a trama de “Destinos Cruzados” (“London River” no original), filme do diretor Rachid Bouchareb que usa o drama dos atentados para expor seu ponto de vista sobre diversidade e aceitação, expandindo-o também para um pouco de religião e política. O tema de dois estranhos que apesar de diferentes acabam se unindo durante uma tragédia pessoal poderia muito bem escapar para o drama piegas, mas o diretor controla o rumo com austeridade.
O antagonismo entre a dupla de personagens principais é explorado nas mais diversas cores. Ela é cristã, ele é muçulmano. Ela é branca, ele é negro. Ela é mais aberta, ele incrivelmente fechado. Enquanto ela busca a filha diretamente na polícia, ele vai em busca dos religiosos da região. Sotigui Kouyaté que faleceu em 18 de abril desse ano tem uma atuação que provoca até desconforto e mistura impassividade com calma, angústia com humilhação.
“Destinos Cruzados” é um filme que trabalha em tom menor o tempo todo. Nele não espaço para alardes ou grandes reviravoltas e a esperança é tratada como um alicerce frágil e sem sustentação. Rachid Bouchareb consegue adentrar o tema do cotidiano de pessoas comuns alterado por um evento externo com bastante sutileza e dispara disfarçadamente contra a intolerância e a guerra e suas conseqüências. Um filme triste e amordaçado, mas bem bonito.
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