Julio Cortázar nasceu na Bélgica em 1914 por um acaso do destino. Seu pai era diplomata e por conta disso chegou ao mundo longe do seu país, a Argentina. Considerado um dos maiores contistas que a América Latina produziu, se mudou para Paris em 1951 por causa da ditadura é lá viveu até falecer em 1984. Uma das suas obras mais elogiadas é “As Armas Secretas”, coletânea de 5 contos que a Civilização Brasileira reedita esse ano aqui com 191 páginas.
O livro é provavelmente junto com “O Jogo da Amarelinha” de 1963 o trabalho mais reconhecido do autor. “As Armas Secretas” foi lançado em 1959, acabando com três anos sem produção publicada de Julio Cortázar. O conto “As Babas do Diabo” inspirou o grande cineasta italiano Michelangelo Antonioni na composição do filme “Blow-Up” de 1966 e desde então se tornou referência para os outros escritores. Mas não se resume somente a isso.
Ao entrar no universo do livro nos dias do hoje, o leitor se vê obrigado a participar dos jogos praticados pelo autor e que se tornou sua marca registrada. Em histórias que parecem simples e rotineiras, percebe-se que o rumo da trama não era bem aquele que se imaginava. Usando e abusando de parênteses na hora de escrever, as informações da narração são contrapostas quase que instantaneamente e não obstante levam os personagens a devaneios tortos.
Por mais famoso que “As Babas do Diabo” tenha se tornado, o melhor conto é na verdade “O Perseguidor”. Grande fã de jazz, Julio Cortázar se inspirou na figura emblemática do saxofonista Charlie Parker (um dos fundadores do bebop) para moldar Johnny Carter, o músico talentoso que vê sua vida ruir pelos olhos de um jornalista. O jornalista em questão, por mais que seja apaixonado pela obra do artista, nutre sentimentos díspares em relação a ele.
Nesse conto, assim como os demais (“Cartas de Mamãe”, por exemplo), Julio Cortázar traz a ambigüidade andando de mãos dadas pelo parque com a loucura, ainda que essa em estado inicial e quase inofensiva. Ler “As Armas Secretas” é uma tour por uma espécie de outro mundo que parece que ficou para trás há muito mais tempo. Um mundo onde o ser humano caminhava com outras responsabilidades e idéias, mas sempre com algo a inquietar a alma.
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