Bunny Munro é um vendedor de produtos de beleza que mora na região de Brighton na Inglaterra. Com um topetão digno dos anos 50 e vestimentas que beiram o kitsch, vende seus cosméticos para mulheres que geralmente estão necessitadas de carinho e aproveita para levá-las para a cama. Maníaco sexual compulsivo, qualquer coisa lhe causa ereção. Completamente amoral tem cd’s em casa da Britney Spears (porque ela é gostosa) e obsessão por Kylie Minogue e Avril Lavigne.
É um canalha de marca maior, que não dá a mínima para quem está ao seu lado e vive entornando álcool em quantidades bem generosas. Ao seu lado transitam pessoas com nomes tão estapafúrdios como o seu (Poodle e River, por exemplo) e vidas tão ordinárias quanto. Quando chega em casa em mais uma das suas constantes sacanagens, encontra a esposa morta no quarto, um suicídio diretamente causado pelas suas ações. O que seria um ponto para recomeçar, quase nada representa.
Esse personagem carregado de canalhice é o ponto principal de “A Morte de Bunny Munro”, o segundo livro do cantor e músico australiano Nick Cave, que chega ao Brasil com 354 páginas pela Editora Record com tradução de Fabiano Morais. O vendedor de cosméticos meio louco, dita as próprias regras em mundo tão louco quanto ele e depois do suicídio da esposa resolve pegar o pequeno filho Bunny Munro Jr. e levá-lo para uma viagem dentro do seu Fiat Punto Amarelo.
Bunny Munro Jr. é o elo de sanidade e bom humor do livro. Mesmo sabendo que o pai entra em uma espiral que o levará fatidicamente ao fim, o moleque gruda os olhos na enciclopédia que ganhou da mãe e apesar de todas as sacanagens do pai continua o amando incondicionalmente, pois é o seu pai. A literatura de Nick Cave esbarra no marginal em vários momentos, e agrada quem gosta de Hunter S. Thompson, Charles Bukowski, Efraim Medina Reyes e Chuck Palahniuk.
“A Morte de Bunny Munro” tem tudo para resultar em algum momento em passagens mais brandas, mas Nick Cave controla com rédeas firmes todas as obscenidades e pilantragens do seu personagem de modo a mostrar que não há perdão. Em paralelo a trama principal, por exemplo, cria um serial killer que anda com chifres na cabeça e tridente na mão e que se aproxima cada vez mais de Bunny Munro, fazendo assim uma ótima analogia com o caminho dele rumo ao inferno.
Esse tom bíblico do serial killer não é novidade para o autor e já foi explorado no seu livro anterior “E o Burro Viu o Anjo”, assim como de modo mais vasto nas letras das suas canções. Os defeitos de Bunny Munro não são resultado da sociedade e suas mazelas e sim da própria criação exercida pelo pai, agora a beira da morte por causa de um câncer. Esse senso travestido de moralidade e convívio social é o fio condutor de uma história em que nada foi longe demais que não possa avançar mais.
Site oficial: http://www.thedeathofbunnymunro.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário