Cachalote é a maior das baleias com dentes e pode medir até 18 metros. E essa baleia gigante é que dá nome ao projeto que Daniel Galera e Rafael Coutinho levaram mais de dois anos para concluir. “Cachalote” chega em formato grande com 320 páginas pelo selo “Quadrinhos na Cia” da Companhia das Letras e depois que a última folha é lida, a impressão que fica é que tanto esmero na formatação do roteiro e da arte da obra valeu muito a pena.
Daniel Galera, um dos melhores nomes da nova geração literária nacional preenche o roteiro com cinco casos distintos, além de um pequeno tema com um toque mais fantástico que abre e encerra o trabalho. Rafael Coutinho (filho do Laerte) é quem transforma esses roteiros em movimentos, explorando quadros grandes e caprichando nos detalhes, seja um azulejo no chão, uma cadeira no fundo da sala ou um pôster de filme pregado na parede de um quarto.
A arte de Rafael Coutinho em preto em branco retrata de maneira vigorosa os anseios, dúvidas e questionamentos dos personagens concebidos e ainda exibe uma crítica comportamental bem humorada nas roupas e ambientes criados. Daniel Galera dá mais uma amostra da sua capacidade de criar histórias cotidianas enxertadas de algum elemento fora da normalidade, sem revelar os caminhos e mostrando como de costume a busca por redenção ou paz interior.
As tramas são das mais variadas, destacando-se a que ilumina um escultor recluso e antipático, valorizador somente da sua obra e nada mais. Outras são mais líricas como o casal separado que mantêm a relação tênue por conta da filha que ainda os une e outras mais pesadas como a de um astro decadente do cinema que perdeu o sentido das coisas e sobrevive em mundo no qual só vê lixo a sua volta e a do vendedor de ferragens que curte sexo mais pesado.
Mesmo sem correlacionar diretamente nenhuma das histórias, “Cachalote” mostra na sua base personagens que em algum momento perderam o rumo das vidas e agora estão arremessados em situações que não conseguem sair. Buscam por outra vida enquanto tocam o dia a dia em que se meteram. Daniel Galera e Rafael Coutinho criaram uma graphic novel dramática e tensa, realçando com toques de humor vidas tão sem graça quanto tantas outras.
Resenhas sobre os livros de Daniel Galera no blog: aqui, aqui e aqui.
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